Aparece mais dinheiro sujo de Aécio

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

A Lava-Jato Eleitoral conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de São Paulo detectou indícios do repasse de ao menos R$ 1 milhão em caixa dois à campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014. O empresário Mino Mattos Mazzamati, preso temporariamente na Operação Paralelo 23, afirmou em depoimento à PF que recebeu pagamentos via caixa dois pela prestação de serviços à campanha presidencial do tucano, que hoje é deputado federal. Esses pagamentos teriam sido feitos pelo ex-diretor de uma empresa do grupo Qualicorp, Elon Gomes de Almeida, delator do caso. Elon teria abastecido o caixa dois da campanha de Aécio com ao menos R$ 1 milhão, suspeitam os investigadores do caso.

Os indícios detectados pela investigação em relação ao caixa dois de Aécio incluem as transações financeiras e confissão de personagens envolvidos. As suspeitas de repasses de caixa dois para Aécio foram obtidas pela PF e pelo MP na investigação que mira o financiamento ilegal da campanha do tucano José Serra ao Senado em 2014. As provas colhidas neste caso, que incluem transações financeiras e depoimentos, apontaram indícios de repasses ilícitos também para a campanha de Aécio. Mazzamati entrou na mira dos investigadores porque teve transações financeiras com uma empresa ligada a Elon Gomes de Almeida.

Em seu depoimento à PF, Mazzamati afirmou que realizou serviço de marketing digital na campanha presidencial do tucano, pelo qual recebeu o valor oficial de R$ 1,4 milhão. Além disso, segundo o empresário, houve pagamento de mais R$ 1 milhão via caixa dois, por meio de um repasse operacionalizado por Elon. A PF confirmou que a empresa de Mazzamati recebeu uma transferência de R$ 1 milhão da Gape Administradora e Corretora de Seguros, ligada a Elon.

“Recebeu pelos serviços prestados a remuneração total de R$ 1.472.798,00, conforme cópias de notas fiscais que apresenta nesta oportunidade; que além desses valores recebeu também a quantia de R$ 1.000.000,00 que foi depositada na conta da sua empresa OV3G EMPRESA DE PARTICIPAÇÕES EM NEGÓCIOS LTDA no dia 08/09/2014, conforme extrato bancário que apresenta nesta oportunidade; que esta última quantia foi paga por empresa indicada pela campanha na pessoa de URQUIZA, tesoureiro da campanha de Aécio Neves”, diz o depoimento, prestado na terça-feira, dia da deflagração da Operação Paralelo 23.

“Os valores recebidos dessa maneira não constam como tendo sido recebidos pelos serviços prestados na campanha (de Aécio)”, afirmou Mazzamati.

O empresário disse que o repasse de caixa dois foi acertado por Luiz Urquiza, que seria responsável pelas finanças da campanha do tucano. Segundo ele, Urquiza lhe orientou a entrar em contato com a pessoa que faria um contrato fictício e se encarregaria do pagamento via caixa dois.

“No momento em que, por vezes, recebia os valores do seu serviço, escutava que a campanha eleitoral teria um controle dos gastos em decorrência daquilo que era declarado, existia um limite e que em razão disso concluía que uma parte do que eu recebia era por fora do que seria declarado à Justiça Eleitoral; que achou estranho isso tudo e ficou incomodado, mas a empresa tinha compromissos financeiros a serem honrados”, disse Mazzamati.

Após o depoimento, a defesa do empresário pediu a revogação da sua prisão temporária, sob o argumento de que ele entregou provas documentais, como extratos bancários, e está colaborando com as investigações. “A postura colaborativa do peticionário não se restringiu aos esclarecimentos prestados. Foram entregues documentos – dentre os quais extrato bancário – e o peticionário forneceu espontaneamente a senha de acesso de seu aparelho de telefonia celular”, escreveu o advogado Leonardo Alonso.

Aécio já foi alvo de diversas outras investigações da Lava-Jato. É réu em uma ação sob suspeita de receber propina do empresário Joesley Batista, do grupo J&F, que gravou diálogos com o tucano negociando o repasse de valores. Também foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob acusação de receber propina das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez por causa de obras em hidrelétricas.

Urquiza também é sócio da AALU Participações, que é dona da rede de academias Bodytech. Executivos da Andrade Gutierrez afirmaram que fizeram aportes na empresa AALU como forma de dissimular repasse de propina para Aécio, de acordo com a denúncia da PGR.

Procurada, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que ele desconhece o assunto e negou irregularidades com as contas de sua campanha eleitoral. “O deputado Aécio Neves desconhece as afirmações. Todas as despesas da campanha foram declaradas à Justiça Eleitoral”, disse em nota.

A defesa de Urquiza ainda não respondeu sobre as acusações.

O Globo