Governo Trump mandou investigar jornalistas

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Foto: Nathan Howard / AFP

O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS, na sigla em inglês) compilou relatórios de inteligência sobre o trabalho de jornalistas que cobriam os protestos contra o racismo e a violência policial em Portland, no estado de Oregon, no que especialistas classificaram como o uso indevido de um sistema governamental destinado a compartilhar informações sobre suspeitos de terrorismo. Os documentos, obtidos pelo Washington Post, incluem descrições e imagens de tuítes de dois repórteres e o número de vezes que eles foram curtidos ou retuitados na rede social.

Após a reportagem do Post, publicada na noite de quinta-feira, o secretário interino de Segurança Interna, Chad Wolf, ordenou que a agência parasse de coletar as informações. Todos os sete democratas da Comissão de Inteligência do Senado solicitaram detalhes sobre o monitoramento.

“Ao tomar conhecimento da prática, o secretário interino Wolf instruiu a Diretoria de Análise e Inteligência do DHS a interromper imediatamente a coleta de informações envolvendo membros da imprensa”, disse um porta-voz do departamento em comunicado. “De maneira alguma o secretário interino tolera essa prática e imediatamente ordenou uma investigação sobre o assunto. Ele está empenhado em garantir que todos os funcionários do DHS defendam os princípios de profissionalismo, imparcialidade e respeito pelos direitos e liberdades civis, particularmente no que se refere ao exercício dos direitos da Primeira Emenda.”

A espionagem dos jornalistas ocorreu no contexto do envio de forças federais a Portland para, segundo a Casa Branca, proteger prédios e monumentos federais da ação do que o presidente chamou na época de “vândalos e anarquistas”. Essas forças são subordinadas ao DHS e incluem homens recrutados em agências subordinadas ao departamento, como a patrulha de fronteiras.

Na semana passada, o setor de de Inteligência e Análise do DHS divulgou três relatórios para órgãos federais resumindo tuítes escritos por dois jornalistas — um repórter do New York Times e o editor-chefe do blog Lawfare — ressaltando que eles haviam publicado documentos vazados e não confidenciais sobre as operações do departamento em Portland.

Funcionários familiarizados com os relatórios, que falaram sob condição de anonimato ao jornal, disseram que os documentos combinam com as táticas agressivas usadas pelo DHS na cidade, que incluem o uso de agentes não identificados e de veículos não identificados para a detenção de manifestantes.

— Divulgar amplamente um relatório de inteligência, inclusive para várias agências policiais estaduais e locais, sobre um vazamento da DHS para um repórter me parece bizarro — disse ao Post Steve Bunnell, que atuou como consultor jurídico do DHS por três anos no governo Obama. — Não tem nada a ver com a missão original do DHS.

Em carta a Brian Murphy, subsecretário do DHS para Inteligência e Análise, a Comissão de Inteligência do Senado disse que “está cada vez mais preocupada” com as operações de inteligência que monitoram manifestantes.

Na noite de quinta-feira, milhares de pessoas voltaram a protestar na cidade, mas as manifestações transcorreram sem violência depois que a governadora do Oregon, a democrata Kate Brown, anunciou que as forças federais deixariam o estado graças a um acordo com o DHS. Não houve sinal da polícia do estado de Oregon, que assumiu os trabalhos de segurança e manutenção da ordem pública.

O momento mais tenso foi quando alguns manifestantes jogaram duas garrafas de vidro e bombas de tinta na fachada da sede da Justiça Federal, já cheia de pichações. Os policiais não apareceram, e os espíritos se acalmaram.

Em entrevista à Fox News, Wolf disse que a operação funcionou “bastante bem” após 60 dias, nos quais 240 policiais do DHS ficaram feridos em confrontos.

Assim como no restante do país, os protestos em Portland começaram após o assassinato de George Floyd, um cidadão negro morto em 25 de maio, sufocado por um policial branco em Minneapolis.

O Globo