Onda de abusos da PM gera crise com Doria

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Foto: Reprodução/ Internet

Em frente a um pequeno bar em Parelheiros, periferia de São Paulo, um policial militar pisa no pescoço de uma senhora, negra, com 51 anos. Dona do comércio, a mulher está rendida no chão, com o rosto colado no asfalto, e o PM levanta o pé direito para sustentar o peso do corpo no pescoço dela. Em seguida, o policial algema e arrasta a mulher até a calçada, e continua a agressão, ao colocar um joelho no pescoço e o outro nas costelas dela. A senhora é levada para o hospital e detida por um dia na delegacia, mesmo com a perna quebrada, ferimentos no rosto e nas costas.

A ação violenta do PM, no fim de maio, foi gravada e divulgada no domingo pelo “Fantástico”, da TV Globo. A cena de uma senhora negra sufocada por um policial com um pé em seu pescoço lembra a morte de George Floyd nos Estados Unidos, e reforçou as críticas à política de segurança do Estado, comandado pelo governador João Doria (PSDB).

O caso se soma às dezenas de denúncias recentes de abusos de agentes da corporação, e tensiona ainda mais a relação entre Doria e a PM. Desde o início da atual gestão, há um ano e meio, 220 policiais foram expulsos por condutas indevidas ou criminosas, segundo reportagem do Valor.

Vítima da violência policial, a comerciante é viúva, tem cinco filhos e dois netos e sobrevive com o bar na periferia. “Quanto mais eu me debatia, mais ele apertava a botina no meu pescoço”, disse à TV Globo. Depois da agressão, teve de fazer uma cirurgia na perna e levou 16 pontos.

A abordagem começou depois que a PM foi chamada por moradores que reclamaram do som alto de um carro estacionado em frente ao bar, em 30 de maio. O comércio estava aberto, apesar de, na época, os bares estarem proibidos de funcionar na capital. Dois policiais abordaram algumas pessoas e um dos frequentadores do bar foi agredido. A comerciante pediu para um policial parar de bater no cliente, mas foi empurrada pelo outro PM e relatou ter levado três socos e uma rasteira.

Depois da divulgação das imagens, o governador repudiou a ação dos PMs e disse que as cenas registradas “causam repulsa”. Doria afirmou que os policiais foram afastados e responderão a inquérito. “Inaceitável a conduta de violência desnecessária de alguns policiais. Não honram a qualidade da PM de SP”, disse.

Com os recorrentes casos de violência policial, Doria afirmou que os agentes terão câmera no uniforme, para gravar as ações, e disse que toda a corporação passará por um programa de treinamento neste mês.

A Secretaria de Segurança Pública e a PM reforçaram, em nota, que os policiais envolvidos no caso foram afastados e permanecerão “fora das atividades operacionais até a conclusão das investigações”.

Há menos de um mês, um vídeo mostrou uma ação parecida em Carapicuíba. Um jovem de 19 anos desmaiou depois de ser estrangulado duas vezes por um policial durante uma abordagem. Desacordado, foi levado para a delegacia e, depois, ao pronto-socorro. O rapaz disse que se assustou com a presença dos PMs, se desequilibrou e bateu na moto de um dos policiais. Após a batida, foi agarrado pelo pescoço.

Dias antes, foram divulgados dezenas de casos de violência. Em uma das ações, ao menos três PMs deram tiros de balas de borracha e feriram dois vendedores ambulantes, em um baile funk na capital. Em outra, um sargento da PM foi preso por suspeita de ter participado do assassinato de um adolescente de 15 anos, que morreu com dois tiros na cabeça, em Diadema.

Valor Econômico