Queiroz também se escondeu no apê da mulher de Wassef

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Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

Mensagens encontradas nos celulares apreendidos da família de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, revelam que ele e seu filho também usaram um apartamento em São Paulo da empresária Maria Cristina Boner Leo, ex-mulher do advogado Frederick Wassef. Até agora, os investigadores só haviam descoberto dois endereços de Wassef utilizados como refúgio do ex-assessor de Flávio durante o ano passado: o sítio, em Atibaia, onde Queiroz foi preso, e apartamentos no Guarujá.

Obtidas pelo GLOBO, as mensagens que comprovam a localização começaram a ser trocadas na madrugada de 24 de novembro do ano passado. No dia, às 00h15, Queiroz escreveu para Márcia Oliveira de Aguiar, sua esposa, via Whatsapp, que estava indo “para a casa do Anjo (codinome que as investigações apontam como sendo de Wassef). A mulher respondeu: “Felipe também? Tomara que tenha boas notícias”, questionou em referência ao filho do casal. Em seguida, Queiroz enviou para Márcia uma foto do filho sentado em um sofá branco com uma ampla sala ao fundo.

Naquele mesmo dia, horas depois, o filho de Queiroz tirou uma série de cinco fotos de si próprio na mesma sala da foto enviada por Queiroz para Márcia. Depois, a enviou para um amigo elogiando o apartamento. Foi justamente esse movimento que indicou o endereço das fotos.

Ao enviar suas imagens no Whatsapp, o celular registrou que os dados foram enviados da Rua Jerônimo da Veiga esquina com a Rua Emanuel Kant, no bairro Chácara Itaim, exato endereço do prédio onde Maria Cristina Boner possui um apartamento na capital paulista.

Nessa época, o casal estava apreensivo com o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o compartilhamento de dados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o MP, o que gerou a abertura da investigação sobre Queiroz e Flávio. Dias depois, o STF decidiu que era constitucional o compartilhamento e a investigação sobre o senador foi liberada depois de quatro meses paralisada por decisão judicial.

Em junho, o portal Uol mostrou que o governo de Jair Bolsonaro fechou, desde o ano passado, novos contratos em um total de R$ 53 milhões com a Globalweb Outsourcing, fundada por Maria Cristina Boner Leo, ex-companheira de Wassef, e administrada por sua filha, Bruna Boner Leo. Reportagem do GLOBO mostrou que a empresa pública Dataprev suspendeu em 15 de março do ano passado uma multa de R$ 27 milhões aplicada a um consórcio de empresas, que contava com a Globalweb, pela não entrega de um serviço até 2015. A Dataprev diz que o caso ainda está em análise e nega interferência política na decisão.

Sem contestar a titularidade da propriedade, a empresária Maria Cristina Boner disse que “mora em Brasília, não estava em São Paulo nesta data, desconhece estes fatos e só vai se manifestar após ter acesso aos autos do procedimento por meio de seu advogado”. A Globalweb informa, em relação aos contratos com o governo federal, que “os valores recebidos por serviços regularmente prestados a órgãos federais durante o governo Bolsonaro são 70% menores ao totalizado nas gestões Dilma e Temer. Maria Cristina Boner não é investigada no procedimento.

Procurado, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defende Fabrício Queiroz e sua família, disse pensar que “tais questionamentos devem ser respondidos pelo Frederick”. Wassef disse que não mora no local: “Jamais abriguei Queiroz ou qualquer pessoa de sua família em qualquer propriedade minha ou de conhecidos meus na cidade de São Paulo”.

Como justificativa para ceder imóveis a Fabrício Queiroz, Frederick Wassef tem dito que havia um plano para assassinar o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e que ele tentou proteger a sua vida. No entanto, nas conversas entre Queiroz e seus familiares apreendidas pelo MP e obtidas pelo GLOBO, o policial não mencionou ameaças em momento algum.

Leia a íntegra da nota enviada por Frederick Wassef ao GLOBO:

“Jamais abriguei Queiroz ou qualquer pessoa de sua família em qualquer propriedade minha ou de conhecidos meus na cidade de São Paulo. Não estive com Queiroz ou seu filho no referido endereço e nem levei ninguém lá. Minha ex-companheira não tem e nunca teve qualquer relacionamento com Queiroz e sua família assim como também nunca teve relacionamento com a família Bolsonaro. Ela não conhece Michele Bolsonaro e nunca estiveram juntas. Ela nao tem nada que ver com a minha profissão e meus clientes. Ela nada tem a ver com nenhum assunto ou tema relacionado a mim ou ao Presidente da República com quem nunca teve relação de amizade.

Ela é apenas, assim como eu, uma vítima desta campanha suja de mentiras e fake news. De forma criminosa e proposital alguma autoridade pública do Rio de Janeiro está vazando a conta gotas “supostas” informações de um procedimento que está em segredo de justiça. Se após uma perícia, ficar provado que, de fato, tais mensagens de celular não foram fraudadas ou manipuladas, elas devem ser analisadas dentro do contexto e na íntegra. Nunca tive acesso a este material, e não sei do que se trata. Sempre o Grupo Globo tem informações vazadas de autoridades que nem mesmo a defesa técnica teve acesso e isto deve ser investigado pelo Ministério Público do Rio e pelo CNMP. O filho de Queiroz nunca foi investigado e a apreensão de seu celular é ilegal e arbitrária, o que acarretará futuras nulidades.

Conforme inúmeras reportagens mostraram, após a prisão de Queiroz, apareceram vários outros personagens que deram entrevistas e afirmaram que estavam com ele direto e o ajudavam e cuidavam dele. Estas pessoas se encaixam com perfeição no papel de anjo. Nunca tive apelido de anjo e nunca fui chamado assim por ninguém. Após 2 anos e meio de investigação sem obter nada, pescam supostas mensagens de celular fora de contexto e tentam criar fantasias sobre as mesmas”.

O Globo