Debandada na economia é por falta de “reformas”

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Foto: Agência Brasil/Marcello Casal Jr

O ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou como uma “debandada” as duas baixas que sofreu em seu time no dia de ontem. Pediram demissão os secretários especiais de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. Segundo o ministro, eles estavam insatisfeitos com a demora no avanço das privatizações e da reforma administrativa.

Segundo o Valor apurou, houve uma frustração com a realidade de Brasília, onde imperam o compadrio e um regime de privilégios, deixando muito pouco espaço para uma agenda liberal e que as promessas de campanha têm dificuldades de serem implementadas. Por meio de nota, o Ministério da Economia disse que os agora ex-secretários agradeciam a oportunidade, mas não informou os nomes dos substitutos.

Guedes relatou que Salim Mattar disse que preferia deixar o cargo, uma vez que estava insatisfeito com o ritmo de privatização. Já Uebel, complementou, disse o mesmo em relação à reforma administrativa. O ministro tem dito que, apesar da expectativa em relação à reforma administrativa, o próprio presidente Jair Bolsonaro decidiu adiar seu envio ao Congresso para evitar reações da população logo após a aprovação da reforma da Previdência.

“Ele [Mattar] diz que é muito difícil privatizar, que o establishment não deixa haver privatização, que tudo é muito difícil, muito emperrado, que tem que ter um apoio mais definido e decisivo”, destacou o ministro. “O que eu digo para o Salim e sempre disse é o seguinte: que para fazer a reforma da Previdência, cada um de nós teve que lutar. Para fazer a cessão onerosa, cada um de nós teve que lutar. Para privatizar, cada um de nós tem que lutar. Não adianta ficar esperando a ajuda do papai do céu. Você tem que lutar. A nossa proposta foi de transformação do Estado, então nós vamos tentar e vamos correr até conseguir.”

Segundo o ministro, diálogo semelhante teria ocorrido com Uebel. “A reforma administrativa está parada. Então ele reclama também que a reforma administrativa parou.”

Guedes destacou a diferença das duas demissões em relação às saídas de Mansueto Almeida da Secretaria do Tesouro Nacional, de Caio Megale da Diretoria de Programas da Secretaria Especial de Fazenda e de Rubem Novaes da presidência do Banco do Brasil. Citou também o caso de Marcos Troyjo, que deixou a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacional para ir para o Banco do Brics. Disse que, nesses casos, não houve “debandada”, conforme falou.

No entanto, afirmou na sequência admitiu que a saída de hoje dos secretários Mattar e Uebel foi, sim, uma debandada. “A reação à debandada de hoje é acelerar as reformas”, afirmou. “Hoje houve uma debandada. Hoje houve.”

O ministro justificou o travamento das reformas pelo ritmo imposto pela lógica política. “Quem dá o timing das reformas é a política. Quem manda não é o ministro, os secretários”, disse.

As declarações de Guedes ocorreram em frente ao Ministério da Economia, depois de uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL). Eles trataram da agenda legislativa, formas de melhorar o gasto público e aumentar investimentos, sem furar o teto de gastos.

Guedes reiterou a defesa da reforma do Estado, destacando que no início do ano foi havia sido proposta uma reforma orçamentária via pacto federativo, a reforma administrativa estava prevista e a reforma tributária, encaminhada. No entanto, o país foi atingido pelo novo coronavírus.

Ele também destacou que não haverá nenhum apoio do Ministério da Economia a ministros que defendam o desrespeito ao teto de gastos, assegurando que brigará pelo respeito à regra. “Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiado.”

Valor Econômico