PGR questiona JBS por pagamentos a advogado de Bolsonaro

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Foto: Jorge William/Agência O Globo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) deu prazo de dez dias para que os delatores da J&F, holding dona da JBS, prestem esclarecimentos sobre os pagamentos realizados ao advogado da família do presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef.

Segundo movimentações financeiras identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o escritório de advocacia Wassef & Sonnenburg recebeu R$ 9,8 milhões entre os anos de 2015 e 2020.

O despacho foi no âmbito do procedimento instaurado na semana passada para apurar o caso e é assinado pelo procurador João Paulo Lordelo, que faz parte do grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR.

Uma eventual irregularidade pode reforçar os indícios de omissão nas delações premiadas dos ex-executivos da empresa, o que levaria à revogação dos benefícios concedidos a eles. A rescisão dos acordos está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF).

Os repasses da empresa para o escritório foram revelados na semana passada pela revista “Crusoé”. A publicação disse ainda que Bolsonaro pediu diretamente ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que ele recebesse Wassef para uma reunião, no fim 2019.

Em nota, a PGR nega que Aras tenha recebido qualquer solicitação de Bolsonaro e afirma que ele “não participou de nenhum dos contatos que trataram de eventual proposta de repactuação do acordo de colaboração premiada da empresa com envolvimento do advogado Frederick Wassef”.

Já o subprocurador-geral da República José Adonis de Araújo Sá, ex-coordenador do grupo de trabalho da Operação Lava-Jato na PGR, confirmou ao Valor ter encontrado o advogado. Ele diz que Wassef apareceu em seu gabinete por encaminhamento de Aras, mas que desconhece suposta intermediação prévia de Bolsonaro junto ao ex-chefe.

As delações de ex-executivos da J&F, firmadas em 2017, aguardam uma decisão do STF sobre o pedido feito pela PGR de rescisão, diante de indícios de omissões por parte dos colaboradores. Nos autos, Aras já se manifestou contra a possibilidade de uma renegociação com os infratores.

O julgamento sobre a anulação do acordo chegou a ser pautado duas vezes pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, a primeira para 11 de junho e, depois, 17 de junho. No entanto, o processo foi retirado da agenda em razão das discussões sobre o inquérito das “fake news”. Não há nova data prevista.

Em nota na semana passada, a JBS informou que Wassef não representa a companhia e nem se manifesta em nome da empresa junto à PGR. De acordo com a JBS, o escritório do advogado atuou para a companhia em inquéritos na esfera policial.

Wassef é o advogado que abrigava Fabrício Queiroz, amigo de Bolsonaro, quando ele foi preso preventivamente, em um sítio em Atibaia (SP), em um desdobramento de investigações apuram um esquema de desvios de salários no gabinete de Flávio Bolsonaro, de quem era assessor.

Segundo relatório do Coaf obtido pelo jornal “O Globo”, Wassef também pagou R$ 10,2 mil ao médico que atendia Queiroz no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Valor Econômico