PSOL veta candidatos oriundos de “renovação política”

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Foto: Reprodução

Após a crise nas bancadas do PDT e do PSB na Câmara com a dissidência de deputados oriundos de movimentos que declaram pretender estimular a renovação da política e que divergiram dos partidos na votação da reforma da Previdência, no ano passado, o diretório carioca do PSOL é mais uma sigla da esquerda a apontar para o rompimento com plataformas como o RenovaBR, Raps e Acredito.

O comando do partido no Rio pretende vedar, na disputa para a Câmara dos Vereadores em novembro, candidatos oriundos desses grupos. O partido argumenta que as suas campanhas devem ter “inteira independência dos interesses privados” e afirma pretender prevenir conflito entre o programa do partido e as diretrizes dos movimentos. Juan Leal, da direção municipal do PSOL no Rio, destaca que o compromisso com o programa partidário é essencial:

— Há muitos casos em que o eleitor vota no candidato por afinidade com o PSOL. Muitas vezes, essas estruturas de impulsionamento eleitoral exigem um compromisso com pontos programáticos próprios e que, em muitos aspectos, entram em conflito com o programa do PSOL. Já vimos isso acontecer: membros ligados a essas plataformas agirem contra o partido.

A postura do PSOL tem como pano de fundo a candidatura de Thais Ferreira, pré-candidata a vereadora na capital. Primeira suplente da sigla na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) — teve mais de 24 mil votos a deputada estadual em 2018 —,ela integrou uma das turmas do RenovaBR. Thais se mudou para São Paulo no início de 2019 e vem assessorando desde então a deputada estadual Marina Helou, da Rede.

Thais diz que, apesar de ter pedido desligamento do RenovaBr e da Raps, sofreu uma devassa na prestação de contas à legenda. Segundo ela, seus correligionários buscavam provas de que ela seria “financiada pelo grande capital”.

— Minha história de militância não começou no Renova e na Raps. Ter que passar por isso é desgastante. Não me tornei menos mulher, menos preta, menos pobre e menos antifascista por participar daquele curso — declara Thais, que diz sempre ter enfrentado dificuldades para conseguir financiamento para suas campanhas. — De um lado, nos colocam como subordinadas ao capital, e, do outro, a gente não é financiada por nos acharem muito radicais. Não dá para restringir a trajetória de uma pessoa por causa de um curso.

O PSOL deve ouvir na segunda-feira os pré-candidatos que foram questionados, para que apresentem seus argumentos.

O primeiro sinal de choque veio ainda em 2019, quando a deputada Tábata Amaral (PDT-SP) votou a favor da reforma da Previdência na Câmara, em posição oposta à defendida pelo partido. A legenda, então, decidiu que não aceitaria mais candidaturas de representantes dos movimentos — Tábata é uma das fundadoras do Acredito. O presidente do PDT, Carlos Lupi, identifica uma “dupla militância” dos eleitos envolvidos com os movimentos

— Na hora de votações, como da Previdência, o partido era contra, e os movimentos tiveram posição favorável. Eles (integrantes) seguiram a posição dos movimentos, não do partido. Eles são patrocinados, ganham bolsa. Todos estão avisados: se passar algum candidato nesse sentido, vamos impugnar antes da eleição.

Coordenadora nacional do Acredito, Ana Flávia Silva de Paula pontua que a decisão dos partidos é antidemocrática e que os representantes dos grupos têm independência.

— Quando os partidos criam essas barreiras, estão criando para pessoas comuns, mulheres periféricas, negros, LGBTs, que não se viam na política, mas que enxergaram no movimento uma oportunidade. Falando das lideranças eleitas, elas têm independência em relação ao movimento. Não existe uma orientação, eles (eleitos) são independentes.

O Globo