Itamaraty diz, em off, que ONU não levará Bolsonaro a sério
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O segundo discurso de Jair Bolsonaro na ONU foi avaliado por integrantes do Itamaraty como “sem brilho”, “batido” e que “não vai ser levado a sério”. Para diplomatas ouvidos pela coluna, o presidente reiterou temas que já defendeu, como a ideia de que há uma conspiração internacional contra o Brasil sobre a Amazônia.
Chamaram atenções as “estocadas” feitas por Bolsonaro à China ao falar da dependência de insumos diante da pandemia da Covid-19 e da abertura do Brasil a parcerias na área de alta tecnologia e 5G com países que respeitem a “soberania” e que prezam “pela liberdade e pela proteção de dados”. A China não foi citada nominalmente, mas o recado foi dado.
Outro ponto observado foi a agenda reformista e liberal novamente exaltada por Bolsonaro e que, na prática, ficou para trás com os movimentos de isolar o ministro da Economia, Paulo Guedes. O presidente também citou que o país está “próximos do início do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE”. O que diplomatas veem hoje, porém, é o contrário, já que, além do protecionismo de Donald Trump, há forte resistência de países europeu a um Brasil que não tem compromisso com o meio ambiente.
Outro momento previsível foi o alinhamento com os Estados Unidos sobre a Venezuela e Oriente Médio. Na avaliação os diplomatas, o presidente brasileiro aborda o país vizinho como se fosse o único lugar no mundo onde há violações de direitos humanos. Bolsonaro também endossa a narrativa de EUA e Israel no Oriente Médio.
O desfecho de sua fala, destacando o Brasil como um país cristão e conservador, foi visto como gesto explícito para sua base evangélica e católicos ultraconservadores. Diplomatas acreditam que a manifestação de Bolsonaro, que também pregou o “combate à cristofobia”, será vista com reservas no âmbito internacional, já que a violência por motivos religiosos afeta não apenas cristãos, mas fieis de diferentes crenças, como muçulmanos e judeus, entre outros.