Pesquisador diz que situação de Guedes é delicada

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Foto: Sérgio Lima/Poder360 – 4.jun.2019

O cenário político atual é propício à aprovação da reforma administrativa encaminhada pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso. A avaliação foi feita pelo pesquisador Bruno Carazza, mestre em economia, doutor em direito e colunista do Valor. Em “live” do Valor transmitida ontem, Carazza afirmou, porém, que o texto encaminhado pelo governo não ataca de frente os principais problemas do setor, pois preserva algumas categorias, como militares e magistrados, e não retira ou reduz privilégios da atual elite do funcionalismo. Não mexe, por exemplo, nos chamados penduricalhos criadas ao longo dos anos.

Carazza afirmou que, na comparação internacional, o Brasil não tem um número muito excessivo de funcionários públicos. O principal problema, destacou, está nos gastos. Em especial nas remunerações engordadas com concessões excessivas. Ele apontou ainda a inexistência ou ineficiência de mecanismos de avaliação de serviços prestados.

Para o pesquisador, a reforma administrativa pode ter recebido preponderância sobre a tributária porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, “tem necessidade muito grande de apresentar resultados”. O governo pode ter concluído que a reforma administrativa é mais fácil de ser aprovada do que a tributária, avaliou, pois mexer nos impostos exacerba conflitos federativos (União versus Estados versus municípios) e conflitos setoriais (indústria versus serviços).

“Guedes prometeu mundos e fundos, agora vem sendo muito cobrado por resultados”, disse. Apesar das promessas ambiciosas na campanha, a única “entrega” feita até agora foi a da reforma da Previdência, segundo avalização do pesquisador. E ainda assim, completou, uma norma “costurada” pelo ex-presidente Michel Temer e que acabou sendo aprovada durante o governo Bolsonaro muito mais devido ao empenho do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Carazza chamou a atenção ainda para o que classificou como desperdício de tempo de Bolsonaro com hostilidades contra partidos e congressistas no início do mandato. O Congresso, segundo ele, tem uma “configuração muito propícia à aprovação de reformas”, mas o presidente não aproveitou isso antes da chegada da pandemia. “Jogou fora esse capital político.”

Carazza avaliou que Guedes vive hoje uma situação “muito delicada” dentro do governo. Ele deu essa opinião ao tentar responder à pergunta de um internauta que o questionou até quando Guedes ficaria no cargo.

Para o pesquisador, as manifestações mais recentes deixaram claro que Guedes não será capaz de viabilizar seu “plano de tutelar Bolsonaro” em assuntos econômicos. Por outro lado, continuou, Guedes “é muito apegado ao cargo”, pois “ele se sente guardião dos ideais liberais” dentro do governo.

Carazza lembrou ainda que o prestígio que Guedes tinha junto ao mercado “arrefeceu por causa das entregas que não fez”. E agora, completou, há um governo que quer gastar mais por ter percebido que isso pode render votos. O pesquisador não quis estimar quando Guedes deverá sair. Mas não demonstrou otimismo com a situação do ministro: “Não sei até quando isso dura”.

Valor Econômico