Polícia francesa prende suspeitos de ataque próximo a Charlie Hebdo

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: ALAIN JOCARD / AFP

A polícia de Paris já prendeu sete pessoas suspeitas de envolvimento no ataque a faca que deixou dois feridos próximo ao antigo escritório da revista satírica Charlie Hebdo na capital francesa, na sexta-feira. A agressão coincidiu com o julgamento dos autores do atentado terrorista contra o semanário, que deixou 12 mortos em 2015.

O chefe da Procuradoria Nacional Antiterrorista, Jean-François Ricard, já havia confirmado, na sexta-feira, que dois homens foram presos, um de 18 anos, de origem paquistanesa, e outro de 33 anos, nascido na Argélia. Principal suspeito do ataque, o jovem teria passagens prévias pela polícia por porte ilegal de armas e crimes comuns. O jovem, que chegou à França há três anos como menor desacompanhado, foi detido nos arredores da Praça da Bastilha, a cerca de 700 metros da cena do crime, com manchas de sangue na roupa.

Os outros cinco suspeito, nascidos entre 1983 e 1996 e supostamente de origem paquistanesa, foram detidos posteriormente, durante a busca em uma propriedade ao norte de Paris, que acredita-se ser a casa do principal suspeito, disseram as autoridades.

— Tendo em vista o local do ataque, em frente ao antigo prédio da Charlie Hebdo; o momento do incidente, durante o julgamento; e, enfim, a materialização dos fatos: havia um desejo manifesto de tirar a vida dessas duas pessoas, que faziam uma pausa para fumar — afirmou o procurador de Paris, Rémy Heitz, explicando o porquê do caso estar sob responsabilidade da unidade antiterrorismo.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, disse que foi “claramente um ato de terrorismo islâmico”. Também afirmou que a polícia subestimou o nível de ameaça na área.

As vítimas, que não correm risco de vida, são um homem e uma mulher, funcionários da agência de notícias e produtora de TV Premières Lignes, localizada no mesmo prédio da antiga redação da Charlie Hebdo. À BFMTV, Luc Hermann, codiretor da agência, disse que ambos foram feridos pela mesma pessoa e ainda não trabalhavam para o veículo em 2015.

Entenda:Revista Charlie Hebdo volta a publicar caricaturas de Maomé na véspera de julgamento do atentado

Em uma entrevista à emissora estatal France 2, na noite de sexta-feira, Darmanin descreveu o esfaqueamento como “um novo ataque sangrento contra o país e contra jornalistas”.

— É a rua onde ficava o Charlie Hebdo. É assim que operam os terroristas islâmicos — disse o ministro do Interior.

Ele afirmou ter ordenado que a segurança fosse reforçada em torno das sinagogas neste fim de semana para o Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico.

O ministro também acrescentou que o principal suspeito do crime não era conhecido por ser radicalizado, mas já havia sido preso por portar chave de fenda e não deu mais detalhes.

Colegas das vítimas disseram que estavam do lado de fora da agência, fumando um cigarro, quando foram atacadas. A empresa tem escritórios na Rue Nicolas Appert, uma rua fora do Boulevard Richard-Lenoir onde os escritórios do Charlie Hebdo funcionavam anteriormente. Um mural em homenagem aos mortos no ataque de janeiro de 2015 foi feito próximo ao local.

— Fui até a janela e vi um colega, ensanguentado, sendo perseguido por um homem com um facão — disse um funcionário, que pediu para não ser identificado.

— Os dois estavam gravemente feridos — disse Paul Moreira, fundador e codiretor do Premieres Lignes.

Em 7 de janeiro de 2015, os irmãos Said e Chérif Kouachi invadiram a redação da Charlie Hebdo armados com metralhadoras e assassinaram 12 pessoas. Dois dias após o ataque, um outro jihadista, Amédy Coulibaly, matou quatro pessoas em um mercado kosher nos arredores de Paris. Antes, em uma troca de tiros, ele já havia assassinado uma policial. Foram 17 vítimas ao todo, além dos três terroristas que foram mortos pela polícia.

Lotada de escritórios e prédios residenciais, a rua Nicolas Appert, endereço da antiga sede da Charlie Hebdo, até hoje guarda marcas do ataque. Nas paredes, é possível ver marcas de bala. Há ainda um mural com os rostos das 11 pessoas mortas na redação (a 12 vítima foi um policial, baleado no mesmo local onde um dos suspeitos foi preso nesta sexta-feira).

— Parece que eu estou revivendo horrores do passado — disse à Reuters uma moradora da região. — É um pesadelo sem fim.

A sede do semanário foi transferida para um bunker secreto, com segurança reforçada. Ainda assim, continua sendo alvo: sua diretora de recursos humanos, Marika Bret, foi evacuada de casa há 12 dias após receber ameaças. Hermann, o codiretor da Premières Lignes, reclamou da falta de vigilância no endereço antigo, afirmando que não há nenhuma vigilância policial.

“Toda a equipe da Charlie Hebdo presta seu apoio e solidariedade aos seus antigos vizinhos e colegas da Premières Lignes e as pessoas afetadas por esse ataque hediondo”, tuitou a revista.

O ataque desta sexta-feira ocorre durante o julgamento iniciado no último dia 3, que põe no banco dos réus 14 pessoas, todas acusadas de dar apoio logístico aos irmãos Kouachi e a Coulibaly. O processo estava previsto para começar no primeiro semestre, mas precisou ser adiado por causa da pandemia de Covid-19. À Justiça, os suspeitos disseram que queriam se vingar pela publicação de charges do profeta Maomé, quase uma década antes.

Na véspera do início dos procedimentos, o seminário voltou a publicar charges do profeta. A capa mostra 12 charges publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, em 2005, e depois pelo Charlie Hebdo, em 2006. Os desenhos mostram Maomé com uma bomba no lugar de um turbante ou armado com uma faca, ao lado de duas mulheres com véu. A capa da edição seguinte do seminário exibiu a caricatura do profeta feita pelo chargista Cabu, morto no atentado. Após a publicação, a Al Qaeda emitiu ameaças contra a revista.

 

O Globo