Disputa entre bolsonaristas e petistas some nas eleições municipais

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Os eleitores de Nova Pádua (RS) e Guaribas (PI) ocuparam extremos opostos na eleição presidencial de 2018. Enquanto o município do Sul deu a maior votação proporcional do país ao presidente Jair Bolsonaro, com 93% dos votos, na cidade do semiárido piauiense, 98% dos moradores apoiaram o presidenciável do PT, Fernando Haddad. Dois anos depois, as histórias antagônicas encontraram um ponto em comum: a política nacional é ignorada nas disputas pelas duas prefeituras.

Em Guaribas, berço do Bolsa Família, os dois candidatos à prefeitura, Alessandro Maia (PP) e Joercio Matias de Andrade (MDB), desconsideram a quase unanimidade petista entre o eleitorado de 2018.

— Vejo que a política nacional não interfere na municipal — diz Maia.

É o que também ocorre em Nova Pádua, cidade de perfil conservador, onde a disputa deve se concentrar entre Itamar Bernardi (MDB) e Danrlei Pilatti (PP) — ambos consideram que o bolsonarismo não será um fator que definirá a eleição local. Com a experiência de já ter sido prefeito em dois mandatos na cidade, Bernardi diz que nem fala sobre o presidente quando está nas ruas pedindo votos:

— Isso é não é uma bandeira que eu levo para as famílias. Eu bato de porta em porta independentemente desse cenário, focando em falar do meu plano de governo.

O mesmo raciocínio tem Pilatti, que é o atual presidente da Câmara de Vereadores de Nova Pádua. Segundo ele, o foco da campanha é “a política local” e, em nível federal, a única preocupação é em relação à tramitação da PEC do Pacto Federativo, que pode extinguir municípios com população inferior a cinco mil habitantes, caso em que a cidade se enquadra.

O prefeito de Nova Pádua, Ronaldo Boniatti (PSDB), adotou uma postura de neutralidade. Ele garante que apesar de a cidade ter um perfil antipetista, o eleitor se guia na eleição municipal pela relação de proximidade e confiança que estabelece com o trabalho dos candidatos.

— Como a disputa das candidaturas mais fortes é entre o mesmo grupo, a briga é nos bastidores. Ela se dá na visita família por família, com o candidato indo buscar eleitor debaixo de parreiral, entrando meio da plantação, onde for, para apresentar seu plano para a cidade — diz Boniatti.

Professor de sociologia e filosofia em Guaribas, Guilherme Pereira Rocha lembra que, apesar do apoio expressivo ao PT na eleição à Presidência, a cidade nunca elegeu um prefeito do partido. Segundo ele, em meio ao cenário de pobreza e histórica má administração municipal, o eleitorado acaba sendo seduzido por promessas de benefícios pessoais.

— Na hora de votar, o povo pensa: “Fulano foi bom para mim, então é nele que vou votar”. Eles consideram só a perspectiva particular, pois não conhecem uma política que funcione para o bem comum — diz Rocha. — Aqui ainda é comum a compra de votos, com candidato oferecendo até R$ 1.000.

A dona de casa Natalia Alves, moradora de Guaribas, diz que está atenta às necessidades locais:

— A gente está olhando os problemas da cidade para saber quem vai melhorar a escola, a estrada que está ruim. Bolsonaro ou Lula não estão na campanha.

Ao se analisar o plano econômico e social, contudo, as cidades voltam a extremos opostos. De colonização italiana, Nova Pádua tem pouco mais 2.500 habitantes e um IDH de 0,832. Com uma agricultura desenvolvida, vem apostando cada vez mais no turismo. Já Guaribas, com cerca de 4.500 habitantes e um IDH de 0,508, sofre com a seca e o subdesenvolvimento econômico, vivendo da agricultura de subsistência e do pequeno comércio local.

O Globo