Esquerda carioca se estapeia e inviabiliza 2022

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Foto: Montagem com fotos de Fábio Rossi e Alexandre Cassiano/Agência O Globo, e Leonardo Berenger/Divulgação PT

Dividida em pelo menos três candidaturas de partidos com representação no Congresso Nacional – Martha Rocha (PDT), Renata Souza (PSOL) e Benedita da Silva (PT) -, a esquerda já dá sinais do chamado “fogo amigo” no início da campanha à prefeitura do Rio. Após a entrevista de Martha ao GLOBO nesta sexta-feira, na qual a candidata afirmou não buscar o apoio do ex-presidente Lula (PT) e classificou como “desrespeitoso” o movimento eleitoral de Marcelo Freixo (PSOL), o deputado defendeu sua tentativa de montar uma “frente ampla de esquerda” e alfinetou a participação da antiga colega de Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no governo Sérgio Cabral.

Em publicação no Twitter, Freixo disse ter feito “dezenas de reuniões com o PDT, inclusive com a visita do Ciro (Gomes)” em sua residência, numa tentativa de unir partidos de esquerda nesta eleição municipal. Freixo, que esperava encabeçar uma chapa apoiada por legendas como PT, PSB e PDT, abdicou da candidatura após não ter sucesso na iniciativa.

“Insisto na defesa da frente ampla na esquerda. Isso será fundamental para derrotar Bolsonaro em 2022”, escreveu Freixo. “Não aconteceu em 2020, espero que o diálogo e a verdade nos aproximem daqui pra frente”.

Em outra publicação, pouco depois, Freixo publicou um vídeo de um discurso na tribuna da Alerj e fez uma referência velada a Martha Rocha, que foi chefe da Polícia Civil no governo Cabral e está em seu segundo mandato como deputada estadual.

“Denunciamos as corrupções do governo Cabral durante 10 anos. Fizemos oposição que deveria ser feita contra uma estrutura de corrupção que acabou com o Rio de Janeiro. Nem todos que estavam na Alerj ou na Polícia viram o que estávamos denunciando. Ou não quiseram ver”, alfinetou.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB), cujo partido apoia a candidatura de Martha Rocha, disse ao GLOBO que ataques entre candidatos de esquerda prejudicariam a tentativa de uma aliança a nível nacional em 2022. Colega de Freixo na oposição ao governo Bolsonaro no Congresso Nacional, Molon não citou diretamente o deputado do PSOL.

— Ataques entre nós só ajudariam a Paes e a Crivella e só dificultariam ainda mais a construção de uma aliança entre nós em 2022. Sinceramente, espero que não ocorram. Seria um comportamento destrutivo – declarou Molon.

No início do ano, Martha chegou a ser sondada como vice de Freixo numa possível chapa de esquerda, mas a ex-delegada insistiu por lançar candidatura própria. Ao GLOBO, Martha criticou a sugestão de Freixo, às vésperas do início da campanha, de que ainda estava disposto a ser candidato se houvesse apoio de outros partidos. Àquela altura, o PSOL já havia lançado a candidatura de Renata Souza à prefeitura.

No primeiro debate entre os candidatos à prefeitura do Rio, semana passada, Martha, Renata Souza e Benedita mantiveram tom amistoso e evitaram trocar ataques entre si. Na entrevista ao GLOBO, a candidata do PDT manifestou “solidariedade” à colega do PSOL ao criticar Freixo.

Segundo as primeiras pesquisas de intenções de voto do Ibope e do Datafolha, Martha e Benedita estão tecnicamente empatadas na segunda colocação com o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que fica acima dos 10% das intenções de voto. Renata Souza aparece mais atrás, com 3% das intenções de voto. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, diz que trabalha para “atenuar” a possibilidade de fogo amigo entre as candidatas, mas avalia que é “inevitável” algum tipo de ataque em meio à disputa para chegar ao segundo turno. Lupi também defendeu a posição de Martha Rocha de tentar se afastar da polarização política nacional. Na entrevista, a candidata do PDT disse que não pergunta aos eleitores “se votaram em Ciro ou em Bolsonaro”.

— Na eleição municipal, é preciso tratar da realidade da cidade. Não quer dizer que o Ciro não participará da campanha. Ele será um reforço. Nossa avaliação é que o eleitor de esquerda deve decidir seu voto mais perto do primeiro turno, de acordo com a candidatura que se mostrar mais viável – avaliou Lupi.

Para dirigentes do PT, as alfinetadas de Martha Rocha em Lula e em Freixo sinalizam a busca da delegada por votos fora da esquerda. Nesta avaliação, a candidata do PDT tentaria disputar o eleitorado de Eduardo Paes (DEM), líder das intenções de voto, e até os votos da direita, mais próximos ao bolsonarismo. Aliados de Martha, no entanto, discordam da tese e afirmam que a candidata não se descolará de uma base de centro-esquerda, mas sim tentará transitar por outros espectros políticos simultaneamente.

— Se a Martha Rocha não quer disputar o eleitor de esquerda, é ótimo para a Benedita – afirmou o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá.

O Globo