Boulos não é ameaça ao PT, mas ajuda

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Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Os 2,2 milhões de votos do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos (Psol) no segundo turno ontem para prefeito de São Paulo não o tornam uma ameaça ao PT na eleição presidencial de 2022 e nem a Ciro Gomes (PDT), avaliou a cientista política Marta Arretche, professora da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole, em entrevista ao Valor. “O Psol não tem estrutura nacional para disputar a eleição presidencial. Cresceu, mas ainda é muito, muito pequeno”, disse.

Para ela, o presidente Jair Bolsonaro errou a estratégia nesta eleição. Declarou apoios de forma amadora, pediu voto para lanterninhas e não estruturou um partido. Saiu derrotado e mais dependente das siglas de centro-direita. “O presidente já se aproximou dos partidos de direita para sobreviver politicamente. A chance de tornar-se cada vez mais refém destes partidos é muito alta”, analisou. Confira a seguir a entrevista:

Valor: Quais forças saíram fortalecidas e quais saíram enfraquecidas desta eleição municipal?

Marta Arretche: A interpretação de que a centro direita foi a grande vitoriosa se apoia apenas no crescimento do número de prefeituras conquistadas por estes partidos. Esta é uma evidência importante, mas longe de definitiva. Ignora o número total de prefeituras, bem como os votos para as câmaras municipais. O balanço de derrotas e vitórias requer um olhar mais abrangente. O MDB segue em trajetória descendente, mas ainda detém o maior número de prefeituras e de vereadores e venceu cinco capitais no segundo turno. O DEM venceu quatro capitais importantes. Recuperou-se de trajetória descendente desde as eleições de 2008. Mas o PSDB ainda tem mais prefeitos e vereadores que o DEM, além de ter vencido em São Paulo. O PT foi o partido mais votado para vereador nas cidades com mais de 500 mil habitantes.

Valor: A derrota dos candidatos mais ligados ao bolsonarismo em Fortaleza, Rio de Janeiro e Belém e as derrotas já computadas no primeiro turno são indicativos de perda de força do presidente?

Arretche: No primeiro turno, Bolsonaro e esses candidatos acreditaram que o presidente seria uma espécie de Midas desta eleição. Na verdade, é mesmo duvidoso que Bolsonaro tenha sido responsável pela vitória dos candidatos que apoiou em 2018. É bem mais provável que o presidente e estes candidatos tenham sido beneficiados pela onda de anti-política que dominou aquela eleição. O fato é que a estratégia do presidente para esta eleição foi muito ruim. Ele não tem partido. Adotou estratégia errática e amadora para declarar seus apoios. Resolveu apoiar lanterninhas. A chance de ser mal-sucedido já era muito alta, antes mesmo de as urnas serem abertas.

Valor: A decisão dele de não entrar firme nas campanhas do segundo turno conseguiu diminuir a impressão de derrota?

Arretche: Acho que não. O estrago está feito. Tal como na eleição de 2018, a impressão é de que o presidente se desempenha melhor quando fica calado.

Valor: Os partidos do Centrão e o DEM cresceram em prefeitos. Qual o impacto para a eleição de 2022?

Arretche: Bolsonaro não terá outra alternativa a não ser buscar abrigo e apoio em um dos partidos da direita. Não tem partido próprio e não terá até 2022. Sua única alternativa será filiar-se a um destes partidos e construir uma coligação eleitoral com partidos de direita. Entretanto, é muito pouco provável que o DEM venha a integrar esta coalizão. Rodrigo Maia cresceu muito em estatura política na presidência da Câmara, assim como o DEM cresceu muito nesta eleição.

Valor: O presidente deve se aproximar mais do centro para buscar a reeleição ou voltar aos apoiadores ideológicos para garantir apoio com o fim do auxílio emergencial?

Arretche: O presidente já se aproximou dos partidos de direita para sobreviver politicamente. A chance de tornar-se cada vez mais refém destes partidos é muito alta. Mas é difícil saber o que acontecerá com o auxílio emergencial. A melhor estratégia para o presidente, se contasse com um partido de direita ideológico que lhe desse sustentação parlamentar, seria aguentar 2021 sem o auxílio emergencial e criar um Bolsa Família turbinado que lhe garanta apoio eleitoral nas eleições de 2022. Mas ele não conta com este partido e 2021 será um ano muito difícil. A politização do auxílio e da distribuição da vacina tenderão a ocupar o centro da agenda. Não é descartado que o presidente perca muito em popularidade. Não descartaria nem mesmo que os partidos que hoje o apoiam venham a abandoná-lo se isso ocorrer.

Valor: Qual o cenário para a esquerda daqui a dois anos?

Arretche: Muito difícil antecipar. A avaliação de que a esquerda saiu derrotada desconsidera as disputas do segundo turno bem como a proporção de votos para vereador nas grandes cidades. As eleições presidenciais são eleições ideológicas. O imenso desgaste político do PT não o impediu de ir para o segundo turno para presidente em 2018. De todo modo, creio que este cenário dependerá muito da força de Bolsonaro nos próximos anos. Valor: Como Ciro Gomes sai dessa eleição? Fortalecido na esquerda ou enfraquecido pelo desempenho do PDT nas capitais?

Arretche: O PDT ganhou em duas capitais do Nordeste. Elegeu 313 prefeitos e 3.409 vereadores. Continuará sendo uma peça relevante da disputa eleitoral.

Valor: Boulos teve 40% dos votos na maior cidade do país. Esse resultado o deixa com potencial para ameaçar o PT ou sua popularidade ficou muito localizada a São Paulo e não terá reflexo no resto do país?

Arretche: O Boulos cresceu muito e fez uma campanha respeitável. Firmou-se como um ator relevante na política da cidade. Mas é preciso não esquecer que parte expressiva de sua votação vem de eleitores do PT, desapontados com a candidatura de Jilmar Tatto. Embora tenha vencido em Belém, o Psol continua um partido muito, muito pequeno. Não creio que tenha condições de disputar com o PT a hegemonia no campo da esquerda e nem com o Ciro. O Psol não tem estrutura nacional para disputar uma eleição presidencial. A votação nacional do Psol cresceu muito, mas não a ponto de disputar com PT e PDT.

Valor: A briga entre PSB e PT em Recife, cidade mais importante para o comando do PSB, impactará a relação entre os dois para 2022?

Arretche: Esse conflito local já existia, mas não creio que venha a impactar negativamente um potencial acordo nacional do PSB com o PT. Essas são decisões serão tomadas pelas direções nacionais e vão depender mais da quantidade de votos e recursos que esses partidos poderão aportar do que dessa questão local.

Valor: A maioria dos outsiders saiu derrotada desta eleição. Haverá espaço para um em 2022, como o Luciano Huck ou Sergio Moro?

Arretche: Sempre me pergunto porque os cientistas políticos ainda são consultados sobre o futuro. A gente erra tanto! Há poucas semanas atrás, os resultados das pesquisas de opinião indicavam que Bolsonaro seria imbatível em 2022. Hoje, estamos falando da derrota eleitoral do presidente. A verdade é que é muito difícil especular sobre essa pergunta. Tenho pouca dúvida de que Luciano Huck e Moro serão personagens influentes em 2022. Estão se movimentando – e muito – para serem players relevantes. Mas qualquer especulação nesta direção tende a ser muito precipitada. Muita água vai rolar.

Valor: O PSDB venceu em São Paulo, mas com grande desgaste do governador João Doria (PSDB). Doria sai da eleição maior ou menor?

Arretche: As eleições para a presidência tendem a ser eleições ideológicas. Mesmo que as eleições municipais tenham representado um refluxo na polarização política, os campos ideológicos ainda serão relevantes para as eleições presidenciais. No momento, Doria enfrenta dificuldades no confronto com Bolsonaro, que procura inviabilizá-lo à direita. Mas também enfrenta dificuldades no seu próprio partido. Ele não é uma unanimidade até mesmo dentro do PSDB. [O governador o Rio Grande do Sul] Eduardo Leite tem potencial para crescer como alternativa.

Valor Econômico

 

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