Boulos reforça que contratações de terceirizados saem mais caras

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Foto: Matheus Lara

O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, voltou a defender a realização de concursos na capital paulista como forma de gerar economia nas contas públicas. A declaração foi feita pelo candidato na manhã desta segunda-feira, 23, em debate realizado pela Rádio Eldorado.

Durante a entrevista, Boulos foi questionado sobre uma afirmação sua que repercutiu após a sabatina realizada pelo Estadão na última quarta-feira. Na ocasião, quando respondia a uma pergunta sobre a contratação de servidores e a previdência municipal, o candidato disse: “Sabe por que a previdência do serviço público se torna deficitária? Porque não se faz concurso. Porque para a previdência se equilibrar tem que ter mais gente contribuindo, e não só gente recebendo. Você tem mais gente se aposentando, virando inativo para receber da previdência, e como não se faz concurso, você tem menos gente contribuindo para a previdência pública. Fazer concurso é uma forma de arrecadar mais para a previdência pública e você equilibrar a conta com os inativos”.

A fala do candidato foi compartilhada nas redes sociais e viralizou, fazendo com que o próprio Boulos gravasse um vídeo para explicar o contexto. A fala também gerou críticas por parte de economistas como Pedro Fernando Nery, Elena Landau e o ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, que ironizaram uma eventual medida neste sentido e apontaram que resultaria em um aumento do déficit. Durante a sabatina desta segunda, ele voltou a dizer que se expressou mal.

“Eu me expressei mal naquele dia. A única coisa que eu quis colocar foi a seguinte: Quando um funcionário terceirizado, e hoje todas as contratações da Prefeitura vão no sentido da terceirização, quando ele é terceirizado ele contribui para o regime geral, para o INSS, quando ele é concursado, ele contribui para o regime próprio. O que eu sustento fundamentalmente daquele debate – e foi esse o contexto daquela discussão – foi de que a previdência não pode ser utilizada como argumento para não fazer concursos públicos. Esse é o tema”, disse.

Apesar disso, o candidato à Prefeitura de São Paulo defendeu que a realização de concursos teria um efeito positivo sobre as finanças do município. Boulos disse que a administração do seu rival no segundo turno, Bruno Covas (PSDB), tem priorizado a contratação de funcionários terceirizados, pagando salários mais altos que os de funcionários de carreira. A diferença salarial, segundo ele, representaria a economia.

“O Ministério Público entrou com uma ação por improbidade administrativa contra o Bruno Covas justamente porque tem trabalhadores que já foram aprovados em concurso, não foram chamados até hoje e, em vez de chamar essas pessoas aprovadas em concurso, o que a Prefeitura fez foi contratar trabalhadores terceirizados pagando mais do que aos concursados. Isso é inadmissível”, declarou, acrescentando que pretende realizar seleções para as áreas mais defasadas.

O candidato também respondeu a questionamentos sobre medidas para a promoção de igualdade racial e combate ao racismo, inclusive em casos de violência como o registrado no supermercado Carrefour em Porto Alegre, que terminou com o assassinato de João Alberto Silva Freitas, de 40 anos, por seguranças que trabalhavam na empresa.

Boulos descreveu a cena das agressões a João Alberto como “uma das mais bárbaras que vimos nos últimos tempos” e disse que as imagens provocam “raiva”, “indignação” e “impotência”. “O que mais entristece é que aquilo que aconteceu com o Beto não foi um caso isolado. O racismo na sociedade brasileira se expressa a cada momento com violência, morte e todo tipo de discriminação.”

O candidato prometeu abrir as portas do governo para o movimento negro e afirmou que pretende recriar a Secretaria de Igualdade Racial, dotada de orçamento próprio, para fomentar medidas afirmativas de combate ao racismo e valorização da memória e da história do povo negro. Outra medida listada pelo candidato é a implementação do ensino de história africana e cultura afro-brasileira na rede municipal de ensino de São Paulo.

No entanto, como medida de combate específico a casos de violência, o candidato prometeu a criação de uma lista suja do racismo em São Paulo. De acordo com o candidato, empresas identificadas como praticantes de racismo – inclusive em suas políticas salariais – seriam expostas nesta lista, ficariam impedidas de contratar com o poder público e poderiam ser multadas.

“Há um abismo salarial entre brancos e negros, muitas vezes para o mesmo tipo de trabalho. Não é só abismo de funções dentro das empresas, muitas vezes o que acontece é que no mesmo cargo, na mesma função, os negros recebem menos. Isso como média salarial. As empresas que praticam racismo em sua política salarial tem que ser punidas. Racismo é crime. Isso tem que estar expresso”, disse.

Boulos também foi questionado sobre a compatibilidade de seu plano de governo com o público evangélico, de quem tenta se aproximar nesta reta final de campanha. Nesta segunda-feira, 23, o candidato do PSOL se reúne com líderes de denominações evangélicas na Praça da República para apresentar seu plano de governo. O candidato afirmou que vê como “plenamente compatível” o diálogo entre sua campanha, apoiada por uma série de movimentos identitários e progressistas, com o público evangélico.

“Uma coisa que eu aprendi vivendo na periferia há 20 anos, convivendo com o povo evangélico, convivendo com pastores, na luta social e no dia a dia, é que a gente não pode medir a comunidade evangélica pela régua do Silas Malafaia, por exemplo. A gente não pode medir a comunidade evangélica por algumas das vozes intolerantes que tentam se colocar como seus representantes públicos. Os evangélicos são milhões, no Brasil e em São Paulo, e tem uma enorme diversidade”, disse.

Boulos ainda disse crer que os ideais que movem sua candidatura, como pautas voltadas para a diversidade, tolerância e justiça social se comunicam com os valores do povo evangélico.

“Muitas dessas denominações e muitas dessas igrejas evangélicas, muitos pastores, têm uma abertura completa à diversidade, têm uma abertura ao pensamento progressista, também condenam o uso da religião para intolerância, o uso da fé das pessoas para uma política atrasada, que semeia o ódio e que vai contra aos valores do cristianismo, de solidariedade e amor ao próximo”.

Estadão

 

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