Biden impõe medidas para trabalhadores mais pobres
Foto: SAUL LOEB/ 06/03/2020 / AFP
Para impulsionar a economia em dificuldades, o presidente Joe Biden está dando prioridade aos trabalhadores com salários mais baixos e às pessoas que atualmente não têm condições de trabalhar. O pacote de ajuda econômica de US$ 1,9 trilhão, que foi aprovado no Senado no sábado e pode ser encaminhado para a assinatura do presidente em questão de dias, ajudaria enormemente os americanos de baixa renda e a classe média, com pouco auxílio direto para os de alta renda, que mantiveram seus empregos e aumentaram suas economias, mesmo com a pandemia.
Para o presidente, o plano é mais do que uma proposta de estímulo. É uma declaração de sua política econômica, capturando o princípio que democratas e economistas progressistas adotaram na última década: que a melhor maneira de estimular um crescimento econômico mais rápido é de baixo para cima.
A política de Biden em seu primeiro grande projeto econômico está em total contraste com o ex-presidente Donald Trump, cuo projeto inicial no Congresso foi um pacote de redução de impostos que beneficiou amplamente as corporações e os americanos mais ricos.
O Plano de resgate americano proposto por Biden inclui benefícios diretos mais generosos para os americanos de baixa renda do que as rodadas de estímulo aprovadas no ano passado sob Trump, embora chegue em um momento em que as estatísticas econômicas e de vacinas contra o coronavírus sugerem que a economia em geral está prestes a levantar voo. É mais focado nas pessoas do que nas empresas, e espera-se que ajude as mulheres e as minorias em particular, porque elas sofreram um grande golpe na recessão pandêmica.
Os pesquisadores preveem que pode se tornar uma das leis mais eficazes para combater a pobreza em uma geração. O Centro de Pobreza e Política Social da Universidade de Columbia estima que as disposições do plano, incluindo uma expansão generosa dos créditos fiscais para americanos de baixa renda com filhos, reduziriam a taxa de pobreza em mais de um quarto para adultos e cortariam a taxa de pobreza infantil pela metade.
Tal como acontece com os projetos de estímulo de Trump, a nova legislação contém disposições destinadas a atacar o próprio vírus, incluindo dinheiro para testes para a Covid-19 e a distribuição de vacinas. Mas também inclui prioridades democratas de longa data que se aplicarão amplamente aos americanos de baixa renda, estejam eles financeiramente prejudicados pela pandemia ou não
Além dos créditos fiscais, o projeto de lei aumenta os subsídios para creches, amplia a elegibilidade do chamado “Obamacare” e aumenta o vale-refeição, auxílio-aluguel e benefícios de desemprego, entre outras disposições. Biden também tentou incluir um salário mínimo de US$15 por hora no projeto de lei, mas o valor não sobreviveu às negociações no Senado.
A equipe econômica de Biden está apostando que uma mistura de cheques de US$ 1.400 (quase R$ 8 mil), seguro-desemprego mais generoso e outros benefícios da rede de segurança no plano ajudarão a impulsionar um rápido aumento no crescimento econômico, direcionando dinheiro para pessoas que precisam de ajuda agora para pagar suas contas, comprar mantimentos e evitar despejo ou execução hipotecária — ao contrário de pessoas de maior renda, que teriam maior probabilidade de economizar o dinheiro.
Muitos economistas preveem que o aumento nos gastos do consumidor estimularia mais contratações e novos negócios, levendo à taxa de crescimento anual mais rápida desde meados da década de 1980.
Como a de Biden, a primeira grande parte da legislação de Trump foi avaliada por analistas orçamentários como acrescentando quase US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11 trilhões) à dívida federal. Ambos os presidentes consideraram seus respectivos planos uma ajuda crucial para economias atoladas em um ano de crescimento inaceitavelmente lento.
Mas, ao contrário de Biden, Trump buscou uma abordagem de cima para baixo para revigorar o crescimento econômico e salarial. Ele cortou impostos para empresas, ao lado de cortes nas taxas de impostos individuais para cima e para baixo no espectro de renda. Seus assessores previram que as medidas acelerariam significativamente o investimento empresarial e gerariam um boom econômico. Eles sustentaram que as medidas aumentariam a renda dos trabalhadores de baixa renda e da classe média, embora os benefícios diretos do projeto de lei estivessem desproporcionalmente concentrados entre os ricos.
Um aumento sustentado do investimento não se materializou como previsto, mas os economistas geralmente concordam que os cortes ajudaram a impulsionar temporariamente o crescimento econômico e salarial no ano seguinte.
Grandes empresas e pessoas com grandes salários dão poucos sinais de que precisem da ajuda do governo hoje. No geral, a recessão provocada pela pandemia e a recuperação os tornaram mais ricos. Os trabalhadores que ganham salários mais altos e os que podem trabalhar remotamente têm muito menos probabilidade de perder o emprego e acumularam economias na recuperação. Empresas como a Amazon ganharam participação de mercado à medida que os hábitos de consumo mudaram.
Mas na extremidade inferior do espectro de renda, e em particular entre as famílias negras e latinas, milhões de americanos ainda estão sentindo a profunda dor da recessão.
A economia continua com quase 10 milhões de empregos a menos do que na época pré-pandêmica, com mulheres de todas as raças e homens negros lutando ao máximo por recuperar o emprego. A taxa de desemprego dos homens negros continua acima de 10%.
Dados da pesquisa Census Household Pulse, analisada por Lena Simet, pesquisadora sobre pobreza e desigualdade da Human Rights Watch, mostram que a crise econômica persistente está concentrada entre os que ganham pouco e aqueles que continuam sem trabalho. Quase metade das famílias que ganham menos de US$35 mil (quase R$ 200 mil) por ano relataram atrasos nos pagamentos de habitação. Um quarto deles relatou não ter comida suficiente.
O plano de Biden iria prover essas famílias com a ajuda do governo. Elizabeth Pancotti, diretora de políticas da Employ America, grupo que apoia o plano Biden, calculou os benefícios para diversos americanos afetados pelo projeto de lei.
Para uma mãe solteira trabalhadora de um filho de 3 anos que ganha o salário mínimo federal — pouco menos de US$ 16 mil por ano (cerca de R$ 91 mil) — o projeto forneceria até US$ 4.775 (cerca de R$ 28 mil) em benefícios diretos, estima Pancotti. Para uma família de quatro pessoas com um dos pais que trabalha e outro que continua desempregado devido à falta de creches, os benefícios podem totalizar US$ 12.460 (mais de R$ 70 mil).
O Tax Policy Center, em Washington, estima que os pagamentos diretos e os créditos fiscais previstos no projeto de lei aumentariam, por si só, a receita após os impostos neste ano em mais de 20% para uma família na esfera mais baixa de renda nos Estados Unidos.
Pacotes de ajuda econômica anteriores, incluindo aqueles assinados por Trump em março, ajudaram trabalhadores desempregados e pessoas de baixa renda a superar a crise até agora e até, em muitos casos, a economizar algum dinheiro. Pesquisa do JPMorgan Chase Institute mostra que os que ganham menos gastam essas economias mais rapidamente na época do verão — meados do ano nos EUA — do que os que ganham mais, o que sugere que eles precisariam de mais ajuda na recuperação.
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