Novo ato contra Bolsonaro teme brigas e arruaças de radicais

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Foto: Mathilde Missioneiro

A quarta rodada de manifestações nacionais contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), marcada para este sábado (24), pretende reunir mais representantes de partidos de fora da esquerda e diversificar o público no momento em que a pressão pelo impeachment sofre reveses.

Na avenida Paulista, legendas que se declaram de centro e buscam se descolar do PT terão um caminhão de som próprio. Com isso, buscam atrair manifestantes contrários ao presidente que não querem ser carimbados por Bolsonaro como esquerdistas ou apoiadores do ex-presidente Lula.

A saída da passeata, cujo trajeto passa pela rua da Consolação e termina na praça Roosevelt, foi antecipada para tentar evitar a ação de grupos que promoveram vandalismo em edições anteriores. Desta vez, a caminhada sairá às 16h30, com o objetivo de que tudo se encerre no início da noite.

Puxados por movimentos sociais e partidos de esquerda, os atos ocuparam as ruas em maio, junho e no primeiro fim de semana de julho —uma data extra no calendário de mobilizações, convocada após a revelação das primeiras suspeitas de corrupção na compra de vacinas pelo governo federal.

O protesto do dia 3 deste mês foi marcado também pela agressão de militantes do PCO a integrantes do PSDB que participavam pela primeira vez da movimentação na Paulista. A situação colocou em xeque a ampliação ideológica das manifestações, que vinha lentamente ganhando corpo.

Mesmo com o episódio de hostilidade, os tucanos do diretório municipal decidiram manter a participação nas marchas. Líderes da esquerda, inicialmente, silenciaram ou repudiaram discretamente a violência. Embora alguns dirigentes e políticos tenham criticado a ação, outros se calaram.

A Campanha Nacional Fora Bolsonaro, que responde pela organização dos protestos, só se pronunciou formalmente nove dias depois, por meio de uma nota em que afirmou que seus atos são pacíficos.

“Repudiamos quaisquer provocações ou ações violentas que atentem contra a segurança dos manifestantes e das manifestantes ou deem margem à criminalização de nossa mobilização”, disse o texto. O PCO, que abriga visões radicalizadas, compõe o fórum e se opõe à entrada da direita.

Segundo balanço divulgado pela campanha na noite desta terça-feira (20), estão confirmados 192 atos em 187 cidades do Brasil e do exterior. A expectativa é que o número cresça até sábado. Em 3 de julho, foram 352 atos em 312 cidades do Brasil e outros 35 no exterior, em 16 países.

Empurrados inicialmente por partidos como PT, PSOL e PC do B, os protestos ganharam apoios pontuais sobretudo de representantes e de instâncias locais de outras siglas. PDT, Cidadania, Rede e PV, por exemplo, passaram a endossar a convocação em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.

Há alguns dias, o PSB emitiu resolução do diretório nacional confirmando a participação do partido no ato deste sábado e denunciando a “gravíssima situação da política brasileira”, em que a democracia e a vida dos cidadãos estão sendo “seriamente ameaçadas” por quem deveria defendê-las.

O documento, assinado pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ressalva que a presença é recomendada aos militantes que se sintam seguros para estar em aglomerações em meio à pandemia da Covid-19. Recomenda ainda uso de máscara e distanciamento social.

Os presidentes do Cidadania, Roberto Freire, e do PV, José Luiz Penna, já haviam declarado apoio aos atos e reiterado os cuidados, em consonância com orientações dos organizadores —que se esforçam para evitar comparações com as manifestações bolsonaristas, geralmente em desacordo com as regras.

Integrantes da linha de frente da mobilização sempre disseram que a participação é aberta a qualquer cidadão ou entidade que concorde com as principais bandeiras da iniciativa: o “fora, Bolsonaro”, o apelo por mais vacinas contra a Covid e a defesa do auxílio emergencial de R$ 600.

Na prática, contudo, diferenças partidárias e eleitorais têm sido empecilhos. O presidente municipal do PSDB em São Paulo, Fernando Alfredo, não teve aval para discursar no caminhão de som da campanha nacional, que na avenida Paulista fica estacionado em frente ao Masp.

Desta vez, ao lado de partidos como PSB, Cidadania, Rede e Solidariedade, o PSDB terá um espaço próprio para as falas, em um caminhão que ficará em frente ao Conjunto Nacional. Os movimentos Acredito e Agora!, ambos de centro, e organizações estudantis e sindicais também estarão no local.

Os grupos, que se apresentam como “Bloco Democrático”, divulgaram nesta terça-feira (20) uma nota em que qualificam Bolsonaro como uma ameaça ao país e afirmam ser “hora de unir os brasileiros, independentemente de colorações partidárias e ideológicas, na defesa intransigente da democracia”.

O comunicado também é assinado por partidos e grupos conectados à esquerda. Segundo Marco Martins, coordenador do Acredito que está empenhado em promover os diálogos, “a ideia é que seja um ponto onde caiba todo o mundo, inclusive eleitores de Bolsonaro arrependidos”.

Uma das preocupações é a de evitar que o novo núcleo seja interpretado como uma dissidência ou ato à parte.

Parlamentares de partidos de centro prometeram aos organizadores que comparecerão. O presidente estadual do PSL, deputado federal Junior Bozzella, afirmou à Folha que estará novamente na Paulista, assim como fez no dia 3. Apoiador da eleição de Bolsonaro, ele hoje é um detrator.

Desde a primeira onda de protestos, o presidente e seus aliados têm usado a presença majoritária de movimentos e partidos de esquerda para desqualificar o levante. Eles tacham a iniciativa como evento de campanha de Lula, o que os mobilizadores rebatem. O petista nunca esteve nos atos.

Em outro ponto da avenida, em frente à Fiesp, ficará o caminhão de som de centrais sindicais como CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores) e CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros).

Em nota também nesta terça, as centrais disseram ser “cada vez mais necessária a presença de todas e todos nas manifestações”, para pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a pautar um dos mais de cem pedidos de impeachment protocolados na Casa.

“Só o povo em massa nas ruas vai impedir que se concretizem as aventuras autoritárias que o presidente [Bolsonaro] tem insinuado, como a de que pode impedir a realização das eleições de 2022 ou não aceitar o resultado das urnas eletrônicas em caso de derrota”, afirmaram.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, disse à coluna Painel S.A. que levará para a avenida sua insatisfação com a previsão de elevar os recursos para o fundo eleitoral do ano que vem de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões. A causa, contudo, não faz parte das pautas deliberadas pelo comando central.

A proposta de que o ato na Paulista fosse estático, sem a caminhada até a praça Roosevelt, foi debatida nos últimos dias como alternativa para mitigar a ação de grupos isolados que, na edição do início do mês, quebraram vidraças, destruíram pontos de ônibus e incendiaram lixeiras na rua da Consolação.

A ideia acabou descartada, diante da constatação de que o deslocamento dá mais visibilidade à manifestação e prolonga sua duração. Só que, em vez de deixar a avenida por volta das 18h, como vinha ocorrendo, a multidão partirá às 16h30, para que a dispersão ocorra mais cedo, ao anoitecer.

Para um dos líderes das mobilizações, Raimundo Bonfim, o desafio é “atrair mais gente da periferia e setores de camadas populares”. “Acreditamos que agora será maior a adesão. Houve um intervalo maior em relação ao ato anterior”, diz o coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares).

Segundo Raimundo, a resistência interna à chegada de grupos para além da esquerda é uma questão pacificada. “Condenamos as ações de violência e fizemos gestões junto ao PCO no sentido de que a campanha não compactua com agressão a militante de qualquer partido político”, afirma.

Sem disposição para aderir às marchas capitaneadas pela esquerda, o MBL (Movimento Brasil Livre) e o VPR (Vem Pra Rua) marcaram para 12 de setembro um protesto nacional pelo impeachment de Bolsonaro. A convocação tem o apoio de políticos da direita não bolsonarista, sobretudo do Novo e do PSL.

O MBL e o VPR, que descartavam a ida às ruas sob a justificativa oficial de que a realização de passeatas no auge da pandemia era perigosa, evitaram se somar aos atos anteriores também por divergirem de pautas paralelas levantadas pelos manifestantes, como a crítica à agenda de privatizações.

Embora aproxime forças políticas da direita e da esquerda, a luta pelo afastamento de Bolsonaro vem sendo desestimulada recorrentemente pelo presidente da Câmara. Lira, que é aliado do Planalto, repete não haver elementos suficientes para detonar a ação contra o presidente.

Segundo pesquisa Datafolha deste mês, 54% dos brasileiros querem a abertura do processo, ante 42% que rejeitam. Foi a primeira vez, desde que o instituto começou a indagar sobre o tema, em abril de 2020, que a maioria dos entrevistados se disse a favor dos trâmites para a deposição do atual mandatário.

Folha de S. Paulo

 

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