Pandemia ceifou mais empregos no Rio e no Ceará

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Foto: Mathilde Missioneiro

Em um ano, a população ocupada encolheu no mercado de trabalho de 24 das 27 unidades da Federação. O menor nível de empregos, verificado na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período de 2021, reflete os prejuízos causados pela pandemia.

Em termos proporcionais, Ceará (-14,6%) e Rio de Janeiro (-12,3%) tiveram as maiores quedas na população ocupada. Nos dois estados, o mercado de trabalho sofreu mais com restrições da crise sanitária a atividades intensivas em mão de obra nos setores de comércio e serviços.

Na contramão da maioria das regiões, Acre (2,7%), Roraima (1,4%) e Alagoas (1,4%) foram as únicas unidades da federação onde houve variação positiva no total de ocupados.

Os números integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A edição mais recente, com dados do primeiro trimestre deste ano, foi divulgada no final de maio pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Entre o primeiro trimestre de 2020 e igual intervalo de 2021, a população ocupada caiu 7,1% no país, ao passar de 92,2 milhões para 85,7 milhões. Ou seja, quase 6,6 milhões de pessoas deixaram o grupo que seguia trabalhando de maneira formal ou informal.

Essa baixa foi puxada pelo comércio, que perdeu 1,6 milhão de vagas, e por alojamento e alimentação, com corte de 1,4 milhão de postos.

“Os setores que puxaram a queda na ocupação fazem parte daqueles em que a interação entre funcionários e clientes é necessária”, frisa o economista Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria IDados. “Outra característica marcante da pandemia é a perda de emprego entre trabalhadores informais. Muitos deles estão inseridos em comércio e serviços”, acrescenta. ​

No Ceará, a queda de 14,6% fez a população ocupada passar de 3,6 milhões para 3,1 milhões. A baixa de 527 mil vagas foi puxada pelo comércio, que perdeu 128 mil vagas, e por serviços de alojamento e alimentação, com redução de 102 mil postos.

Os dados do IBGE também detalham a natureza formal ou informal das vagas. Nesse tipo de recorte, entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período de 2021, as maiores perdas no Ceará foram de empregados com carteira no setor privado (-232 mil), trabalhadores por conta própria sem CNPJ (-107 mil) e domésticos sem carteira (-83 mil).

“O Ceará tem uma demanda turística elevada, mas boa parte do setor ficou fechada na pandemia. Comércio e outros serviços também foram paralisados”, ressalta o economista Francisco José Silva Tabosa, professor da UFC (Universidade Federal do Ceará).

Já a população ocupada no Rio de Janeiro, ao registrar baixa de 12,3%, passou de 7,5 milhões para 6,6 milhões. Ou seja, houve perda de 927 mil vagas entre o primeiro trimestre de 2020 e o começo de 2021. Os maiores recuos atingiram comércio (-299 mil), outros serviços (-149 mil), transporte, armazenagem e correio (-128 mil) e alojamento e alimentação (-109 mil).

“Com a pandemia, setores de serviços tiveram uma dificuldade muito grande na geração de receitas. Como um hotel vai gerar receita de forma digital? Até para os restaurantes fica mais complicado, embora tenham investido nesse tipo de atendimento. Essas dificuldades se refletem na demanda por trabalhadores”, sublinha o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo​).

Lailla Martins Vianna, 23, passou a fazer parte do grupo que ficou sem trabalho durante a pandemia. No fim do último mês de maio, foi demitida de um restaurante na zona sul do Rio de Janeiro, onde atuava como confeiteira. Formada em gastronomia, a jovem conta que já está em busca de novas oportunidades na área.

“Tenho visto outras vagas, algumas ficam um pouco longe. Mesmo com a pandemia, restaurantes conseguiram sobreviver. As pessoas não deixaram de comer”, diz Lailla, que se recuperou da Covid-19 antes de ser demitida.

Após Ceará e Rio de Janeiro, a Bahia teve a terceira maior baixa, em termos percentuais, na população ocupada. No estado, o total de pessoas com trabalho caiu 9,9%, de 5,7 milhões para 5,1 milhões, entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período de 2021.

Na sequência, aparecem São Paulo, Rondônia e Pernambuco, com quedas de 8,2%, também maiores do que a baixa na média nacional (-7,1%).

O economista Sergio Firpo, professor do Insper, frisa que a melhora do quadro depende do avanço da vacinação contra a Covid-19. A imunização é vista como fundamental para reduzir restrições à circulação de pessoas e garantir a operação segura dos negócios. Contudo, a recuperação dos empregos tende a ser lenta, devido ao tamanho do impacto da pandemia sobre o mercado de trabalho, pondera Firpo.

“Teremos aumento na ocupação a partir da retomada das atividades econômicas. Mas esse é um processo que vai demorar, até porque houve mudanças tecnológicas no mercado de trabalho durante a pandemia. Muitos empregos só foram preservados porque foi possível adaptá-los ao home office”, destaca o professor.

No Acre, a variação positiva de 2,7% levou a população ocupada de 293 mil para 301 mil, conforme o IBGE. O resultado teve impulso da abertura de empregos na administração pública.

Em Roraima (1,4%), a população ocupada foi de 213 mil para 216 mil. Houve aumento de empregos em setores como a construção e em ocupações por conta própria sem CNPJ (informais).

Em Alagoas (1,4%), a população ocupada teve acréscimo de 14 mil pessoas, para 1,018 milhão. Empregos no comércio, na construção e por conta própria sem CNPJ ajudaram a compensar perdas em ramos como alojamento e alimentação.

Na visão de Firpo, o aumento da ocupação no país, no pós-pandemia, também dependerá de avanços na área social. Segundo o economista, o Brasil terá de pensar em programas que ajudem na reinserção de trabalhadores no mercado. “A gente vai ter de pensar em alternativas. Tem coisas que precisam ser feitas com calma, de maneira técnica”, aponta.

Ottoni também destaca que o país enfrentará grande desafio para retomar o nível de ocupação no mercado de trabalho. Para complicar a situação, lembra o economista, o governo federal amarga restrições fiscais, o que desafia gastos com programas diversos.

“Tenho defendido a ideia de que é preciso desenvolver políticas que sejam baratas e tenham eficiência. Por exemplo, criar ferramentas digitais, sites, que sejam grandes cadastros de trabalhadores e empregadores”, diz. “Também há outras questões, como treinamentos para o trabalhador”, completa.

Folha de S. Paulo

 

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