Parte da esquerda não quer saber de protesto de hoje

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: José Dacau/UOL

Nomes importantes da esquerda, como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) e a deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP), declararam que vão aderir aos atos de “Fora, Bolsonaro” marcados para hoje. Mas o grosso da militância da esquerda quer distância da mobilização convocada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pelo Vem pra Rua.

O PT e o PSOL emitiram notas informando que não convocam nem participam da manifestação. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) também optou por não aderir.

PT e PSOL são parte da Frente Fora Bolsonaro, que inclui outros partidos como o PDT —o presidenciável Ciro Gomes, inclusive, já disse que estará no protesto hoje. Ao todo, já mobilizaram seis atos contra o governo somente neste ano.

A questão não é ir para a rua, mas as razões para chegar lá. Por isso justificam a ausência com motivos de diferenças ideológicas a desconfianças sobre o objetivo da mobilização.

“Acho que o MBL quer se aproveitar do capital político da esquerda e de nossas bandeiras democráticas para se restabelecer”, diz a chef e empresária paulistana Bel Coelho, 42.

Eles marcharam lado a lado com quem defende intervenção militar, sempre disseminaram fake news e estão entre os responsáveis por esse cenário antidemocrático que vemos no Brasil hoje.
Bel Coelho, chef

“Inclusive, falaram mal do nosso movimento, ao qual poderiam ter somado desde o princípio. Aí, agora que interessa e eles precisam de gente para fazer volume, resolvem chamar? Não confio”, completa.

Os atos deste dia 12 são declaradamente apenas pelo impeachment do presidente, mas o primeiro produto que aparece na loja online do MBL é uma camiseta com os dizeres “Nem Lula nem Bolsonaro”.

João Amoêdo, ex-presidente do Novo, que também confirmou presença no ato, atua como modelo da peça.

“Precisamos tirar o Bolsonaro: essa é a primeira etapa a ser vencida. É nisso que estamos reunidos. Não é uma manifestação para lançamento de terceira via, para propaganda partidária”, disse o ex-presidenciável ao UOL. Mas os militantes do campo progressista não parecem convencidos.

“Ir de branco [cor sugerida para destoar do verde e amarelo e do vermelho das demais manifestações] já é uma terceira via”, diz o geólogo paulistano Marcelo Bárbara, 52.

“Ir para as ruas agora e fortalecer a terceira via não faz sentido para a esquerda, com Lula liderando todas as pesquisas de intenção de voto”, acrescenta.

Ele tampouco acredita que os atos deste fim de semana devam favorecer a democracia.

“O MBL é um think-tank [gabinete estratégico] norte-americano que surfou na onda da antipolítica para depois virar um grupo político”, diz.

O MBL reúne um campo de gente que era bolsonarista até ontem, até que sentiu que Bolsonaro é o extremo do extremo. Agora estão procurando alguém menos fascista para eleger. Eles querem pegar o voto do bolsonarista raiz que não vota no Lula de jeito nenhum.
Marcelo Bárbara, geólogo

“A esquerda tem muito mais capilaridade na sociedade, são partidos mais aguerridos. Ir para a rua já está na veia, enquanto a manifestação de domingo me parece oportunismo. A esquerda já faz seus movimentos de ‘Fora, Bolsonaro’, só não participa quem não quer.”

Militantes não esquecem episódios envolvendo líderes do MBL, como as críticas do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) à memória de Marielle Franco (vereadora do PSOL assassinada em 2018); as invasões do vereador Fernando Holiday (Novo, que deixou o MBL em janeiro) a escolas para fiscalizar professores; as ameaças do deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP) ao padre Júlio Lancellotti e até uma foto de ‘Mamãe Falei’ com uma escopeta ao lado de Eduardo Bolsonaro.

“Não é que a gente não possa ir à rua com diferenças, mas esse ato amplo depende de uma construção conjunta, com embates, debates, coisas que fazem parte de colocar um grande movimento de pé. Não me sinto segura para ir num ato que não sei o que está por trás”, diz a roteirista Jô Hallack, 51. “O ato é claramente contra o Lula também.”

“Eu sei que não se faz política com mágoa. No mês passado, Lula se encontrou com Eunício de Oliveira [DEM-CE, ex-presidente do Senado], que votou pelo impeachment de Dilma. É assim que se faz política. Agora não dá para se unir a um movimento ideologicamente tão próximo a Bolsonaro e esperar que eles sejam diferentes”, diz o cineasta cearense Paulo Colares, 41.

“Não adianta nada um movimento que se diz contra Bolsonaro, mas que na prática é aliado dele no Congresso e vota a seu favor no dia a dia.”

Entre as semelhanças, Colares ressalta as questões ligadas a costumes. Em 2017, o MBL criticou a exposição “Queermuseu”, de temática LGBTQI+, em Porto Alegre, e levou o Santander Cultural a encerrá-la. O movimento também insuflou a perseguição dos conservadores à Lei Rouanet.

“O MBL é um bando de moleques que só faz barulho. É como marchar com um fascista para derrubar outro fascista”, diz o cineasta.

“Não dá para participar de uma manifestação que coloca Bolsonaro e Lula em pé de igualdade. Se é pela democracia, os democratas devem ser valorizados. Quero muito participar de um movimento amplo contra Bolsonaro como foram as Diretas Já. O MBL pode participar, desde que não seja protagonista.”

Uol  

Assinatura
CARTA AO LEITOR

O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.

No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog

FORMAS DE DOAÇÃO

1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br

2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única

DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf

DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf