Lula acha só terá aliados fora da esquerda no 2o turno

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Foto: Lucio Tavora/Xinhua

Com uma dianteira expressiva nas pesquisas eleitorais, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conta com alianças ao centro para a disputa na qual pretende desalojar Jair Bolsonaro (sem partido) da cadeira de presidente da República em 2022.

Após uma rodada considerada pelos petistas de bem-sucedida de conversas com lideranças de potenciais siglas aliadas no ano que vem em Brasília, o ex-presidente saiu convencido de que apoios só virão com diversas condicionantes.

Isso traz alguns dilemas importantes para o PT, que já não contava com aliança com Ciro Gomes (PDT) mesmo antes da barulhenta altercação entre o ex-ministro e figuras petistas como a ex-presidente Dilma Rousseff, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, e o próprio líder máximo da agremiação.

Nas contas de Lula, seu arco de alianças será reduzido e à esquerda. Nele estarão o eterno escudeiro PCdoB e, a definir detalhes, o PSB e o PSOL.

No caso dos pessebistas, arestas regionais importantes se colocam, como o fato de que o partido estará com Geraldo Alckmin em São Paulo —se o hoje ex-governador tucano for candidato pelo PSD ou pelo União Brasil (DEM e PSL em fusão).

O nó com o PSOL também é paulista: Guilherme Boulos quer ser o candidato do partido a governador, amparado no bom desempenho no pleito na capital em 2020, quando foi derrotado no segundo turno pelo PSDB.

Só que o PT quer o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, ora mais bem colocado em pesquisas, na disputa. Os petistas namoram Boulos com um acordo tácito para integrar um eventual governo Lula e, depois, voltar a disputar São Paulo em 2024. É algo incerto.

Seja como for, é um universo irrelevante eleitoralmente do ponto de vista nacional, mas com um impacto simbólico importante: Lula busca ser um candidato de união nacional, após quatro anos de radicalização inaudita sob Bolsonaro.

Está difícil, não menos porque os mais recentes levantamentos o colocam refluindo levemente do que parece ser seu teto —inferior aos 50% mais um para matar a fatura no primeiro turno.

O petista esteve com líderes do MDB em jantar ofertado pelo seu ex-ministro Eunício Oliveira, com o mandachuva do PSD, Gilberto Kassab, e com o chefe do PL, Valdemar da Costa Neto, além de deputados, senadores e governadores na semana retrasada em Brasília e São Paulo.

O cômputo geral, segundo a Folha ouviu de participantes das conversas de ambos os lados, foi o de que Lula ouviu e compreendeu as razões de todos os potenciais aliados num segundo turno. Todos os partidos, por óbvio, buscam montar bancadas fortes para ter uma boa posição de negociação a partir de 2023.

Petistas insistem em que a conversa com Kassab, altamente antecipada no meio político, foi um sucesso porque sinalizou uma aliança no segundo turno se o adversário for Bolsonaro.

Aliados do presidente do PSD, contudo, afirmam que a reafirmação do apoio dele ao nome de Rodrigo Pacheco (DEM, de saída para o PSD-MG) à Presidência foi um balde de água fria em Lula.

No caso do MDB, observadores notaram a ausência do ex-presidente José Sarney e do senador Renan Calheiros (AL) no jantar com Lula. É fato, e Eunício hoje tem peso relativo baixo, mas o que faltou dizer é que o ex-presidente já havia sido visitado por Lula e estava com a mulher doente em casa.

Já o relator da CPI da Covid combinou de encontrar o petista com outros integrantes do comando da comissão, assim que for votado na quarta (20) o relatório final sob sua responsabilidade.

Seja como for, está colocado aí um impasse. É certo que todo a turma deverá apoiar Lula ante Bolsonaro num segundo turno. Mesmo o PL de Costa Neto, hoje na base governista, prefere o líder petista neste momento.

A questão é que o presidente enfrenta uma crise sistêmica que muitos veem como irreversível: suas ameaças autoritárias, em que pese a trégua atual com o Judiciário, a inflação, o desemprego, a crise energética à vista, o desgoverno na pandemia dos 600 mil mortos —a lista não cessa.

Isso se reflete nos 53% de rejeição aferidos pelo Datafolha em setembro, e no ânimo decrescente daqueles que se dizem seus aliados no Congresso. Com efeito, no último mês o presidente da Câmara, o prócer do centrão Arthur Lira (PP-AL), dedicou-se a tentar bolar saídas para o alto preço dos combustíveis.

Ou seja, a situação de Bolsonaro é hoje frágil, e há uma bolsa de apostas sobre quem poderia ir em seu lugar enfrentar Lula num segundo turno, considerando aqui a manutenção dos mais de 45% de intenção de voto no petista recentes.

Segundo líderes de partidos centristas, do ponto de vista político algum candidato que galvanizasse o eleitorado mais conservador e não bolsonarista teria boas chances de surfar na rejeição ao lulismo, muito forte na classe média, e também na ojeriza ao presidente.

Com isso, o plano petista de ver os diversos centros, que no Brasil vão de quase a centro-esquerda até a direita pura e simples, unidos em torno de Lula contra Bolsonaro vai para o ralo.

Nas contas do PSD, uma chapa ideal para tanto seria encabeçada por Pacheco, o presidente do Senado, tendo como vice a empresária Luiza Trajano (Magalu). Ela não foi nem sondada sobre o tema, embora seja vista como ativa politicamente.

De forma alternativa, numa avaliação que é compartilhada por dirigentes do centrão, a vice de Pacheco ou de outro nome poderia ser ocupada por Eduardo Leite, o governador gaúcho que desafia o paulista João Doria pela indicação do PSDB.

Leite já negou que possa vir a ser vice de qualquer pessoa, mas esses políticos centristas acreditam que pode haver jogo com ele. O mesmo não se diz, mesmo entre petistas, de Doria, que por outro lado pode crescer mesmo entre quem não o apoia hoje se for escolhido o candidato tucano pelo peso de sua cadeira e de sua ambição.

De todo modo, são apenas alternativas hipotéticas hoje. Para Lula, esse isolamento à esquerda prejudica um tanto sua intenção de se mostrar conciliador, por mais que na prática seus governos (2003-10) tenham sido compostos pelas mesmas figuras com as quais conversa agora.

Com tudo isso, os aliados potenciais de Lula veem o petista ansioso, ajustando a modulação em temas como a regulação da mídia, enquanto seus companheiros creem que isso é só um chamado para evitar o salto alto no PT e deixar a situação solta nos estados.

Folha  

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