PSOL e Novo se unem em defesa de trans

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Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Elas foram eleitas para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal pela primeira vez em 2020. Uma é negra, nasceu na periferia, é transexual e de esquerda. A outra é branca, mora na Vila Madalena, é especialista em mercado financeiro e de direita. Segundo o atual manual da política, as vereadoras Erika Hilton (PSOL), de 28 anos, e Cris Monteiro (Novo), de 60, deveriam estar em lados opostos, mas optaram por seguir outro caminho.

Presidente e relatora, respectivamente, da primeira CPI criada por uma Casa Legislativa para investigar violência contra pessoas trans e travestis no Brasil, elas formam uma dupla que rompe barreiras ideológicas e quebra o discurso de ódio no dia a dia da política pautada muitas vezes pelas redes sociais.

A parceria chama a atenção por uma série de características, além das diferenças óbvias, como raça, classe social e idade. Para começar, elas afirmam enxergar o mesmo problema, apesar de muitas vezes defenderem ações diferentes para solucioná-lo. Um reflexo, segundo relatam, de trajetórias e experiências pessoais que lhes impuseram obstáculos e lhes fizeram compreender que é possível conviver e dialogar com o diferente.

Por ter sido a vereadora mais votada, com mais de 50 mil votos – e por ser trans, claro –, a história de Erika é mais conhecida. Nascida em 1992 em Franco da Rocha, e criada na periferia de Francisco Morato, ambas cidades pobres da Grande São Paulo, foi expulsa de casa pela mãe ao se assumir mulher e chegou a se prostituir.

Três décadas antes de Erika nascer, Cris descobria ser portadora de uma doença autoimune (alopecia) que impediria que seus cabelos crescessem. Filha de taxista e empregada doméstica, a menina de 2 anos que morava na Penha, zona norte do Rio, se trancou em casa contra o bullying. Trocou as brincadeiras pela leitura e sonhou em ser jornalista, mas, sem dinheiro para pagar a faculdade, virou recepcionista de um banco em Ipanema.

Nenhuma delas projetou entrar para a política. No caso de Erika, o interesse surgiu durante um cursinho pré-vestibular exclusivo para pessoas trans – nessa época, ela havia se entendido com a mãe e voltado para a casa. Virou militante da causa, filiou-se ao PSOL e hoje é uma das políticas negras mais influentes do mundo abaixo dos 40 anos (prêmio Most Influential People of African Descent, apoiado pela ONU).

Cris descobriu a vocação para a vida pública mais tarde, depois de acompanhar a distância as manifestações de 2013. Naquele ano, a “ex-recepcionista suburbana” – como ela mesmo diz – que pagou com dificuldades a faculdade de Ciências Contábeis já tinha uma carreira consolidada, acumulando cargos de chefia em bancos de investimentos como JPMorgan e Goldman Sachs.

As trajetórias tão distintas tornam mais inusitado o encontro entre Erika e Cris. A vereadora do Novo diz que segue a cartilha liberal clássica e, segundo ela, progressista. Cris faz questão de manter distância da pauta de costumes conservadora ou mesmo reacionária. Defende ajuste fiscal, Estado menor e, ao mesmo tempo, descriminalização do aborto e debate sobre gênero nas escolas.

“Acho que ela está no partido errado”, brinca Erika, que classifica a postura da colega como “exceção”. Já Cris admite se sentir às vezes como uma “estranha no ninho”. “Sabe que nas redes sociais me chamam de psolista? Fui bastante atacada, aliás, quando postei uma foto ao lado de Erika, mas eu tenho uma enorme admiração por ela, quero estar perto, ser amiga.”

Para a verdadeira psolista, a aproximação com uma representante do Novo é uma surpresa muito bem-vinda. “Quando comecei a conhecer sua posição em relação até mesmo às minhas pautas, percebi que era uma pessoa que eu não precisava tachar por uma legenda partidária. Fomos estreitando a nossa relação e vi que ela tinha muita disposição de fazer uma política que, em algum momento, se encontrasse com a minha, mesmo que com visões extremamente diferentes e em partidos extremamente opostos”, afirmou Erika.

Para Cris, isso se chama democracia. Apenas isso.

Estadão

 

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