Bolsonaro contrata assessoria de R$ 60 milhões para mentir sobre Meio Ambiente

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Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

A questão ambiental ocupa a parte mais extensa do briefing que o Ministério das Comunicações incluiu no edital de licitação para contratar uma assessoria de imprensa com o objetivo de promover a gestão Bolsonaro no exterior. Mas a versão a ser vendida pelos profissionais de relações públicas ao público internacional sobre a política ambiental distorce os dados.

O contrato que pagará R$ 60 milhões só em 2022 é o maior da história e faz parte de uma ofensiva de meio bilhão de reais com publicidade e relações públicas programada por Bolsonaro para o ano das eleições.

No briefing em que são explicados os objetivos da nova assessoria, as estatísticas compiladas pelo governo pintam um quadro de redução do desmatamento da Amazônia e de queimadas no governo Bolsonaro – o contrário dos indicadores apurados nos últimos três anos por institutos de pesquisa, organizações não-governamentais e cientistas especializados em meio ambiente.

Enquanto os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do próprio governo, demonstram alta de quase 8% no desmatamento da Amazônia em 2020, e uma média de devastação 40% maior desde o início do governo Bolsonaro, o briefing do governo para a licitação diz: “Em julho de 2021, mês que fecha o relatório anual do INPE, o Brasil registrou queda de 5,5% no desmatamento. Em agosto de 2021, a queda foi de 32,45%. Desde 2019, o Brasil registra taxas de desmatamento menores que a média dos últimos 20 anos”.

O truque utilizado pelo ministério das Comunicações foi comparar os dados atuais com os dos primeiros anos da década de 2000 – mais especificamente 2004, quando o Brasil destruiu 27 mil quilômetros de vegetação na Amazônia Legal. Quando se compara os dados do governo Bolsonaro com o passado mais recente, da última década, os números são piores e ascendentes.

Segundo o Inpe, após um agosto positivo, setembro foi o segundo pior mês de toda a série histórica, atrás apenas de setembro de 2019, o que denota que não é possível descrever uma tendência de queda do desmate como deseja mostrar o governo.

Além disso, o número de queimadas na Amazônia também cresceu. Agosto foi o terceiro pior mês da série do Inpe, iniciada em 2010, novamente atrás apenas de 2019 e 2020. E isso ocorreu a despeito de um decreto baixado pelo próprio Bolsonaro proibindo o uso de fogo na região por 120 dias.

Não é o que diz o texto do governo. “Com o firme compromisso de zerar o desmatamento ilegal na região amazônica, o governo federal, através do Decreto n°10.239 de 11 de fevereiro de 2020, reformulou o Conselho Nacional da Amazônia Legal e, sob seu comando, viabilizou as operações Verde Brasil 1, 2 e Samaúma, que bateram recordes de apreensões, multas e embargos.”

Mais uma distorção. As três operações realizadas pelo Exército na floresta desde 2019, sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, não elevaram o número de multas ambientais, pelo contrário. Mudanças feitas nos órgãos de fiscalização, que são os efetivamente responsáveis pelas multas, mostram que a arrecadação sob Bolsonaro foi a menor em 21 anos.

O briefing entregue pelo governo às assessorias de imprensa encomenda ainda que as campanhas de relações públicas que as empresas terão de fazer no exterior destaquem também que o Brasil continua signatário do Acordo de Paris e que tem “uma das metas mais ambiciosas do mundo” de redução de emissões de carbono.

A meta brasileira, divulgada ontem pelo ministro do Turismo Joaquim Leite na COP-26, em Glasgow, foi recebida com ceticismo, não só pela falta de detalhes sobre como será atingida, como também por vir como reação ao que os ambientalistas chamaram de “pedalada climática”.

Em 2020, o governo Bolsonaro alterou a base de cálculo das emissões brasileiras, o que na prática permitiu ao Brasil poluir mais durante a vigência das metas do Acordo de Paris, e não menos, como era esperado.

No mês passado, a ONU divulgou relatório chamando de retrocesso o movimento brasileiro e situou o país como o único signatário que pretende aumentar a emissão de gases, o que levou o governo Bolsonaro a um constrangimento internacional na agenda climática.

Agora, o governo voltou à meta anterior, mas enfrenta o ceticismo da comunidade internacional. Contratar uma assessoria de imprensa por valores recordes talvez não seja suficiente para mudar isso.

O Globo

 

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