Pastor diz que politização da religião pode matar

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

Em primeiro lugar, cabe afirmar que este argumento expressa total desrespeito à democracia, ao Estado laico, à pluralidade religiosa e ao direito à não crença.

Trata-se, portanto, de um projeto de poder que busca se apropriar das instituições para impor ao conjunto da sociedade uma determinada forma de ver o mundo.

É um projeto violento, incapaz de respeitar as diferenças e a diversidade do povo. Todas as vezes na história em que se usou a religião como forma de imposição o resultado foi a produção de preconceito, discriminação, intolerância, sofrimento e morte.

Trata-se da continuação e da atualização do espírito das Cruzadas, da colonização, da escravidão, das fogueiras da Inquisição, da chicotada e da tortura.

Peço aos leitores e às leitoras que não subestimem o potencial de morte desse projeto que hoje governa o Brasil.

Em segundo lugar, peço licença para fazer uma consideração teológica e pastoral. Preciso dizer que o bolsonarismo é absolutamente irreconciliável e incompatível com os ensinamentos do Evangelho.

Jesus viveu sob a ética do amor, o bolsonarismo se alimenta do ódio.

Jesus tinha compaixão diante do sofrimento humano, o bolsonarismo zomba do luto das pessoas.

Jesus cultivou a paz, renunciou à vingança e ensinou o perdão; o bolsonarismo estimula a guerra, o justiçamento com as próprias mãos e o uso de armas e violência.

Jesus andou ao lado das pessoas amaldiçoadas socialmente, quebrando preconceitos; o bolsonarismo se alimenta do ódio contra mulheres, negros, quilombolas, LGBTQIA+, indígenas e diversos grupos historicamente massacrados.

Jesus defendeu a causa dos pobres e denunciou o acúmulo de riquezas, o bolsonarismo conduz a economia massacrando o povo, ampliando a desigualdade e causando mais sofrimento aos pobres.

Jesus foi torturado, o bolsonarismo exalta torturadores. Jesus cuidou das pessoas, o bolsonarismo destrói famílias. O bolsonarismo mataria Jesus hoje.

Cabe ainda apontar que o campo evangélico é diverso, plural, majoritariamente popular, feminino e negro. Não se trata de um bloco coeso, monolítico e uniforme.

Muitas igrejas servem como espaço de acolhimento, socorro, consolo e empoderamento de pessoas desprezadas em nossa sociedade.

Peço aos leitores e leitoras: não generalizem os evangélicos! Toda generalização tende ao reducionismo, ao preconceito e não consegue dar conta da complexidade da realidade.

O ano de 2021 confirma uma tendência: existe um projeto de fanatismo religioso representado por Bolsonaro. Se este projeto vence, a democracia morre, levando um monte de gente junto.

Para 2022, precisamos: identificar e denunciar este fanatismo; defender a democracia e o respeito à diversidade e estabelecer um diálogo sincero com a experiência evangélica popular, para além de um calendário eleitoral.

Não é tarefa apenas para um ano eleitoral, mas para um momento histórico.

Não me refiro a um diálogo eleitoreiro e utilitário, mas defendo uma articulação importante com parcela expressiva da classe trabalhadora no Brasil. Trata-se de gente que luta para sobreviver numa sociedade desigual, racista e elitista.

Precisamos priorizar o combate à fome, a superação da dramática desigualdade social em nosso país, o enfrentamento ao racismo estrutural que todos os dias mata o povo negro.

Também se faz necessária uma mudança no nosso modelo de desenvolvimento, pois a emergência climática é uma realidade.

Para um projeto de justiça social, democracia e liberdade para o Brasil é necessário e urgente um diálogo profundo com o campo evangélico.

Por fim cabe a nós, cristãos e cristãs, com humildade e coragem, afirmar que a principal marca de quem caminha com Jesus não é sinal de arma que mata, mas gesto de abraço que cuida e que salva!

Pastor Henrique Vieira é teólogo, ator, professor e historiador. Tem se dedicado ao combate ao fundamentalismo religioso no Brasil. Pastoreia a Igreja Batista do Caminho, comunidade itinerante que realiza suas celebrações em Niterói e Rio de Janeiro. É também membro do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog.

Uol  

Assinatura
CARTA AO LEITOR

O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.

No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog

FORMAS DE DOAÇÃO

1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br

2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única

DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf

DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf