Rifado pela esquerda, Paes adere ao bolsonarismo fluminense

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou nesta segunda-feira, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que defende a construção de uma candidatura de centro no Rio porque o deputado federal Marcelo Freixo, pré-candidato do PSB, não será capaz, na sua visão, de vencer o governador Cláudio Castro (PL) em um eventual segundo turno – Castro é aliado do presidente Jair Bolsonaro.

Freixo, que deixou o PSOL no ano passado buscando ampliar o eleitorado, tem feito movimentos em direção ao centro. Nas redes sociais, tem feito publicações em defesa da Polícia Militar, para escapar da pecha de que políticos de esquerda são contra a corporação, e mantém contato frequente com o economista Arminio Fraga, presidente do Banco Central durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Paes, no entanto, afirma ter dúvidas se a guinada será crível para a população. O prefeito ironizou e fez uma comparação com Bolsonaro — “se o presidente disse que virou um defensor da Amazônia, as pessoas vão acreditar?”.

— O deputado Marcelo Freixo é uma pessoa que eu respeito. Temos conversado há muito tempo, e ele foi correto comigo em dois segundos turnos, em 2018 e 2020. Mas me parece que não é a pessoa mais adequada para vencer as eleições do Cláudio Castro. Infelizmente, entendo que a candidatura do Freixo não é capaz — disse Paes. — O Rio vive uma crise, vai precisar de uma recuperação na área econômica, com responsabilidade na área fiscal. Eu posso até acreditar na mudança do Freixo, mas será que a população vai acreditar? Será que (num governo Freixo) estaríamos tendo a volta às aulas presencial ou teria o favorecimento a interesses sindicais (do Sindicato dos Professores) que ele sempre defendeu? Isso tudo para o eleitor soa estranho.

Ainda segundo o prefeito do Rio, acreditar na mudança de Freixo seria como dizer que “Bolsonaro quer a vacina, que ele vai se vacinar porque ele ama a vacina. Ou então que o Bolsonaro virou o defensor da natureza e da Amazônia”.

— Ele pode até dizer, mas as pessoas vão acreditar? Os desafios da cidade do Rio estão no campo da segurança pública, no campo fiscal, da atração de empresas e empregos, o que nunca foi muito o discurso do deputado Marcelo Freixo — completou Paes.

Como argumento em defesa de uma alternativa a Castro e Freixo, Paes citou a eleição de 2016, quando Freixo chegou ao segundo turno contra Marcelo Crivella e foi derrotado. Por ora, o grupo político do prefeito construiu um acordo entre PSD, que apresentou a pré-candidatura de Felipe Santa Cruz, ex-presidente da OAB, e o PDT, que lançou o nome de Rodrigo Neves, ex-prefeito de NIterói. Nesta terça-feira, Paes terá um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já anunciou o apoio a Freixo no Rio.

— Para quem governar o Brasil e precisa ampliar suas alianças, os sinais (do Lula) têm de ser mais fortes. Há uma cobrança de “o Lula vai apoiar não sei quem”. Para mim, para eu decidir o meu apoio, não é relevante quem o Lula vai apoiar. Talvez eu tenha exagerado, alguma relevância ele vai ter.

Para Paes, no entanto, a definição do petista pelo apoio ao deputado socialista não abala sua relação com Lula, mas limita o palanque do ex-presidente no estado do Rio.

— Lula está aberto ao diálogo, mas acho que isso tem que ser intensificado e pode valer para as alianças estaduais. Nem eu vou ficar chateado com o Lula se ele não quiser ajudar candidato do meu partido no Rio, nem acho que ele deva ficar chateado comigo porque vou apoiar o candidato do PSD. Gosto muito do Lula, mas ele nao tem nenhum compromisso comigo e eu não tenho com ele. Acho que ele se estreita com a candidatura do Freixo – argumentou o prefeito, que disse que será candidato à reeleição em 2024.

Em mais de um momento, Paes defendeu que o PSD tenha candidato próprio à Presidência. O partido deseja que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), assuma a função, mas, diante da indefinição, outros nomes surgiram – uma possibilidade é tentar atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje no PSDB.

— Eu apoiarei o candidato do PSD à Presidência. É um desejo do partido tê-lo como candidato. Mas é óbvio, se ele desejar não ser, tem que buscar alternativas. Estive hoje com o governador Eduardo Leite e gostaria muito que ele fosse para o PSD, é uma bela alternativa para a presidência da República — disse Paes.

Ao comentar sua recente aproximação com o PDT e sua reunião com o presidenciável do partido, Ciro Gomes, Paes ressaltou que o encontro esteve restrito à aliança estadual. Questionado sobre a pré-candidatura do ex-juiz Sergio Moro, o prefeito do Rio destacou sua trajetória política em contraposição à experiência de Moro que, segundo ele, “não faz a menor ideia do que é o Brasil” e viveu no “intima-se, cumpra-se, prenda-se, arrebente-se”.

— A gente precisa de alguém que governe o país e entenda o país. O que esse homem conhece do Brasil? Que capacidade que ele tem de entender os problemas do Brasil? Será que a gente vai ficar brincanndo de governar de novo, em um país complexo como este? — disse Paes.

O Globo