Lula chama aliança com Alckmin de “Muito forte”

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Pré-candidato à Presidência pelo PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira que a escolha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para ser seu vice fará com que sua chapa seja “muito forte” e o ajudará a vencer a eleição presidencial. Lula minimizou as divergências que teve com o ex-governador no passado e disse que a escolha faz parte de um projeto para recuperar o país. O ex-presidente afirmou ainda que não vê contradição ao aliar-se com o ex-tucano.

“Contraditório seria eu ter um vice do PT. Seria soma zero”, disse o ex-presidente, ao conceder entrevista na manhã desta quinta-feira (24) para a Rádio Super, de Minas Gerais. Segundo Lula, um vice do PT, por exemplo, não acrescentaria “nada” na estratégia para ampliar seus votos. “Se eu fizer aliança [com Alckmin], será uma aliança muito forte, para ganhar, para mudar o Brasil”, declarou o petista.

Fundador do PSDB e ex-governador de São Paulo por quatro mandatos, Alckmin deixou o partido em dezembro de 2021, depois de 33 anos, e filiou-se ontem ao PSB, na perspectiva de ser vice de Lula na disputa presidencial. PT e PSB ainda vão formalizar o acordo e a chapa Lula-Alckmin deve ser lançada entre o fim de abril e o início de maio.

O ex-presidente disse que não há problemas em se aliar com seu antigo opositor. Lula e Alckmin foram adversários nas urnas em 2006 e o PT sempre fez oposição ao ex-governador em São Paulo. “Alckmin foi meu adversário em 2006, foi adversário da Dilma. Isso não é problema. Estamos tentando construir uma proposta de reconstrução do Brasil”, disse. “Minha junção com Alckmin e com outros companheiros é na perspectiva de recuperar o Brasil.”

Lula descartou a participação da ex-presidente Dilma Rousseff e de ex-ministros e lideranças petistas como José Dirceu e José Genoino no primeiro escalão do governo, caso vença a disputa presidencial em outubro. Lula disse que não faz sentido Dilma voltar ao governo federal como sua auxiliar e disse que os antigos auxiliares poderão ajudá-lo “fazendo nada”. Segundo o ex-presidente, uma eventual nova gestão petista será composta por novos integrantes, que fazem parte da pré-campanha presidencial petista.

Lula foi questionado se pretende escalar Dilma, Dirceu e Genoino, por exemplo, para ministérios, se for eleito novamente presidente da República. O petista negou imediatamente e defendeu “gente nova” no governo. “Não tem sentido uma ex-presidente da República trabalhar de auxiliar em outro governo. Tenho profundo respeito pela Dilma, ela tem uma competência técnica extraordinária, mas acho tem muita gente que surgiu depois que governamos esse país, tem muita gente nova e que vamos colocar. Essas pessoas que têm experiência podem me ajudar dando palpite, conversando. Às vezes as pessoas podem me ajudar fazendo nada”, declarou o petista.

Em seguida, Lula reforçou que, se for eleito, seu futuro governo será composto por pessoas que não participaram de gestões petistas. “Vamos fazer um governo muito baseado nas necessidades do povo com gente nova que está participando do processo da campanha”, disse. “Essas pessoas continuam tendo muito valor, sendo meus amigos, tenho profundo respeito e obviamente não vão repetir a passagem deles pelo governo. Antecipo que nenhum deles aceitaria [voltar para o governo] porque eles sabem da importância que eu tenho de fazer um governo ousado para o período 2023-2026.”

Apesar de dizer que “não faz sentido” um ex-presidente ser ministro, Lula foi indicado por sua sucessora, Dilma Rousseff, para ser ministro da Casa Civil em um momento de profunda crise da gestão da ex-presidente petista, em março de 2016. A posse de Lula, no entanto, foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Pouco tempo depois, Dilma sofreu um processo de impeachment.

Questionado sobre a contradição, Lula disse que não queria participar da gestão Dilma, mas afirmou que não conseguiu demover a ex-presidente da proposta. “Quando fui convidado pela Dilma, disse para ela que em um palácio não cabem dois presidentes. Fiquei até 1h da manhã conversando com ela mostrando a ineficácia de levar um ex-presidente para dentro do palácio. Seria um incômodo para ela e um incômodo para mim”, disse na entrevista. “É que a situação estava muito difícil. Os ministros Jaques Wagner, Ricardo Berzoini acharam que eu deveria aceitar. Mas não deu certo. Eu entendo que não deva participar. Tentei convencer. Em um palácio não cabem dois presidentes. Tenho clareza disso.”

Teto de gastos Na entrevista, o ex-presidente voltou a criticar o teto de gastos e disse que pretende retomar os grandes investimentos em infraestrutura no primeiro ano da gestão, se for eleito.

“Não venham querer me impor lei de teto de gastos, porque teto de gastos é da responsabilidade do presidente da República. Eu aprendi o que é gasto e ter responsabilidade com uma mulher analfabeta, que criou oito filhos, todos sem profissão”, disse o petista, citando sua mãe. “Sei o que é responsabilidade. Quem não sabe faz uma lei. Uma lei para que? Para atender aos interesses do sistema financeiro, para garantir que eles recebam os juros da dívida, quando na verdade o governo tem que assumir compromisso para cuidar das pessoas pobres, desamparadas.”

O ex-presidente afirmou que se voltar à Presidência, pretende convocar uma reunião em janeiro de 2023 com governadores eleitos para estabelecer um plano de trabalho e a definição de obras de infraestrutura mais importantes em cada Estado. Lula criticou o presidente Jair Bolsonaro como um “psicopata”, despreparado para governar, e disse que a atual gestão é comandada por gabinetes paralelos em áreas como saúde e educação.

Lula voltou a criticar também a política de preços da Petrobras e disse que vai “abrasileirar” os preços dos combustíveis, desvinculando do preço do dólar. O petista defendeu investimentos em refinarias brasileiras. “O Brasil não tem que exportar óleo cru para comprar derivados. Teria que refinar o seu petróleo e exportar o excedente. Não tem que pagar em dólar. Se a gente ganhar, vai abrasileirar os preços dos combustíveis”, disse. “É preciso parar com bobagem de jogar no lixo a soberania de um país como o Brasil.”

Aborto Questionado sobre o avanço de bandeiras progressistas em um eventual governo petista, Lula disse que caberá ao Congresso e à sociedade colocar em discussão temas como a legalização do aborto. O petista disse ser pessoalmente contra o aborto, mas afirmou que pretende debater isso como um chefe de Estado.

“Grande parte dessa pauta de costumes não sai da Presidência para a sociedade. Sai do Congresso para sociedade. É o Congresso que tem que fazer as leis. O que não podemos é fazer radicalização religiosa em torno de coisas que dependem da evolução da sociedade”, disse. “Eu sou contra o aborto e sempre fui contra como pai. Como chefe de Estado, tenho que tratar de questão como saúde pública. Como vou tratar como chefe de Estado? Tenho que tratar todos com as mesmas condições”, disse. “Essa pauta de costumes não é problemática. Quando a sociedade apresentar, vai ser discutida no fórum [adequado], que é a Câmara e o Senado.”

Minas Gerais Lula defendeu uma aliança entre PT e PSD em Minas Gerais em torno da pré-candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao governo mineiro, e a indicação do líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG), para disputar o Senado na chapa.

O PT abriu mão da candidatura própria no Estado e apoia o PSD, mas reivindica a vaga para o Senado, com a indicação de Lopes. O PSD, no entanto, defende a reeleição do senador Alexandre Silveira. Silveira é aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e era suplente do senador Antonio Anastasia (PSD-MG). Assumiu a vaga em fevereiro, quando Anastasia tornou-se ministro do Tribunal de Contas da União.

O impasse entre PT e PSD continua no Estado e Lula disse que tem buscado uma solução com Kalil. “A eleição de Minas é muito importante para o PT e PSD. Vai ter que ter definição. A eleição em Minas está polarizada entre a minha e do presidente [Jair Bolsonaro], e entre o atual governador [Romeu Zema, do Novo] e Kalil”, disse Lula, durante a entrevista à Rádio Super. “A única coisa que eu tenho certeza é que Kalil precisa de mim e eu preciso de Kalil. Se nos juntarmos, faremos uma chapa muito forte em Minas.”

O ex-presidente petista disse que estará com o prefeito de Belo Horizonte na disputa mineira, apesar do impasse na chapa. “Diria que a possibilidade de Kalil e Lula estarem juntos é muito grande. Falta pouca coisa”, afirmou o petista.

Valor Econômico