Bolsonaro faz Brasil entrar no bloco dos párias internacionais

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Enquanto o Itamaraty atua de forma institucional para manter as relações do Brasil com parceiros estratégicos pelo mundo, uma diplomacia paralela consolida o governo de Jair Bolsonaro (PL) como um ator de destaque no movimento ultraconservador mundial.

Nas próximas duas semanas, em eventos em Budapeste, representantes brasileiros foram convidados para debater ao lado de alguns dos principais partidos de extrema-direita do mundo, frequentemente acusados de xenófobos, supremacistas, anti-imigração e que ameaçam a democracia.

Um desses eventos ocorre nos próximos dias e é organizado pela influente Conservative Political Action Conference, entidade americana que tem sido um dos palcos da promoção da ideia de que a vitória de Joe Biden nas eleições americanas foi resultado de fraude. Não existem provas neste sentido e todas as auditorias realizadas apontaram para uma constatação de que voto foi legítimo.

Há poucas semanas, em Orlando (Flórida), um evento organizado pelo mesmo grupo contava com a venda de bandeiras que diziam “Trump Venceu”. Com o objetivo de se internacionalizar, o grupo agora quer realizar seu maior evento na Europa e escolheu a Hungria do líder de extrema-direita Viktor Orbán como sede.

Entre os principais nomes do evento que ocorre nos dias 19 e 20 de maio está o do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL). A conferência ainda contará com alguns dos principais aliados da líder da extrema-direita da França, Marine Le Pen, partidos extremistas da Bélgica, Áustria e Espanha, além de influenciadores e jornalistas da Fox News ligados ao ex-presidente Donald Trump.

Outro nome confirmado é de Nigel Farage, que encabeçou a campanha pelo Brexit, além da cúpula do governo Orbán. Grupos de direitos humanos, especialistas e mesmo instituições como a ONU e a União Europeia já lançaram alertas sobre o papel dessas forças políticas no desmantelamento da democracia liberal. Na agenda do evento, aparecem temas como “Deus, pátria e família”.

Em outro debate, o assunto é anunciado com uma frase: “O homem é um pai, a mãe é uma mulher”. Também estão previstos encontros para falar sobre o fato de que “a civilização ocidental está sob ataque”. Procurado pela coluna para explicar sua participação, o deputado brasileiro não respondeu. Os eventos não se limitam à presença de Eduardo Bolsonaro. Dias depois, também na Hungria, outro evento reunirá alguns dos principais interlocutores do movimento conservador do mundo.

Neste caso, quem representará o Brasil é a secretária de Família, Angela Gandra, que assumiu uma função central na ação externa do Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos. Procurada, a pasta não respondeu à coluna sobre quem pagaria pela viagem da secretária e nem qual era o objetivo da representante do governo em sua participação. “Informamos que na próxima semana a secretária Angela estará de férias, período de 23 de maio a 11 de junho”, explicou o ministério. “Sendo assim, qualquer viagem neste período não haverá recurso público”, completou.

No programa oficial do evento, porém, Gandra aparece com a descrição de secretária do governo. Entre os patrocinadores do evento estão entidades que estão fazendo um intenso lobby nos organismos internacionais contra qualquer referência ao aborto e promovendo a ideia da família tradicional.

O principal organizador, o Political Network for Values, atacou abertamente a OMS há poucas semanas por conta das recomendações da agencia internacional que defendia que o aborto fosse descriminalizado. “Promover a descriminalização e a facilitação do aborto através de uma agência internacional é uma forma de colonização ideológica”, acusa o grupo que convidou Gandra. “O aborto é um problema social e cultural do qual toda uma indústria lucra, explorando o sofrimento e a vulnerabilidade”, completam.

A lider do movimento até recentemente, a húngara Katalin Novák, agora é a nova presidente do país que é um dos poucos aliados de Jair Bolsonaro hoje no mundo. O evento ainda contará com algumas das lideranças ultraconservadores da Eslováquia, Chile, Equador e Espanha.

UOL