Privatizar a Petrobras é mais difícil do que pensam

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A privatização da Petrobras em um eventual segundo mandato de Jair Bolsonaro será tarefa política difícil que exigirá costura com o Congresso e órgãos de controle e de defesa da concorrência, caso do TCU e do CADE, avaliam fontes da indústria de petróleo e analistas de bancos de investimento. O cenário de polarização política também tende a ser um entrave para a venda uma vez que, mesmo que Bolsonaro ganhe, a oposição ao governo será forte. “O Estado brasileiro é contra a privatização porque prefere a interferência”, disse um executivo da indústria.

A privatização da Petrobras volta ao cenário político pela fala do novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que, no primeiro pronunciamento, afirmou que o governo fará estudos para facilitar a “desestatização” da Petrobras.

Apesar do reconhecimento de que a privatização é tarefa política complexa, existe também uma visão, entre analistas, que a situação avançou. “Esse governo se deu conta que é melhor vender a empresa uma vez que tem limitações para fazer indicações para a presidência e o conselho e para mexer nos preços. Bolsonaro acha que fica só com o ônus de uma Petrobras estatal”, disse fonte do mercado financeiro.

Um balizador das dificuldades da privatização, pelo lado político, é a Eletrobras, cujo processo de desestatização, entre idas e vindas, leva seis anos. A privatização da Eletrobras foi lançada em 2016, não avançou e depois foi retomada no atual governo. Um analista disse que a comparação não é correta pois a Eletrobras tem muitas subsidiárias e uma complexidade tributária enorme. Mas politicamente o desafio de vender o controle da Petrobras é maior pois a empresa, além de ser a maior companhia brasileira, é um símbolo da industrialização do país. Foi instituída em 1953, no governo Vargas.

Fontes do mercado financeiro que acompanham a empresa acreditam que privatizar a estatal seria difícil, mas pode fazer sentido tendo em vista o processo de transição para uma economia de baixo carbono. “Em algum momento a energia fóssil vai perder participação no mundo. Vender a Petrobras faz sentido para monetizar um ativo que vai deixar de ser relevante no médio a longo prazos”, diz fonte.

O ponto principal, nas discussões sobre a privatização, segundo especialistas, seria a narrativa criada em torno do tema e a exposição dos benefícios que os recursos arrecadados podem levar à população: “Hoje a Petrobras vale cerca de R$ 450 bilhões na bolsa, o governo tem 36% disso. O valor arrecadado com a venda poderia ser usado para criar fundos para combater a pobreza, por exemplo. Não seria fácil privatizar, mas é uma questão de como a narrativa vai ser construída. Se a ideia for usar o dinheiro para a população e para ajudar os mais pobres, fica menos difícil”, acrescenta uma fonte.

Para o sócio da consultoria Leggio, Marcus D’Elia, é possível para a empresa seguir com a atual venda de ativos a atores privados, mas mantendo outros: “A solução não é transformar a empresa inteira em uma companhia completamente privada com um dono só. Isso, na minha opinião, seria pior do que a situação atual. A Petrobras é uma empresa boa e que favorece o país. É ruim essa visão de que a empresa é uma vilã”, diz D’Elia.

O banco UBS BB disse que uma possível privatização da Petrobras reduziria consideravelmente o desconto das ações sobre outras companhias do setor, mas alertou que o mercado não deve precificar algo do tipo por conta da proximidade com as eleições presidenciais de outubro. O banco reconheceu, no entanto, que em caso de reeleição de Bolsonaro as chances de privatização aumentam. O banco reconheceu que o processo pode enfrentar resistências no Congresso, mas disse que a Petrobras está preparada para o processo com a evolução da governança e com o avanço operacional dos últimos anos.

Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), não acredita que a privatização tenha chances de avançar, mas considera que a proposta tem uma dimensão política importante porque permite a Bolsonaro atrair apoio e voto de investidores.

Valor Econômico