Alckmin pode ter “dobrado” Temer

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Foto: Jorge Araújo/Folhapress/

A complicada reaproximação entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB) ganhou um emissário de peso com o encontro do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), provável vice na chapa de Lula à Presidência, e o emedebista, na sexta-feira. A reunião serviu para “quebrar um impasse” , segundo um interlocutor do emedebista, e criar pontes entre os lados, afastados desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016, quando Temer, então vice da ex-presidente, assumiu a cadeira presidencial. A iniciativa para a conversa teria partido do ex-governador paulista.

Durante o encontro, Alckmin procurou destacar que a proposta de Lula, caso seja eleito em outubro, não é a de revogar a reforma trabalhista aprovada no governo Temer. Mas que o programa de Lula prevê “mudanças necessárias” na legislação. A reforma é apenas um ponto de negociação numa conversa mais ampla em torno da ideia de pacificar o país, em meio à polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro, e reatar a relação dos antigos aliados.

A presença de Alckmin torna a reaproximação entre Lula e Temer mais factível ao contornar os constrangimentos gerados pela rejeição da militância petista e pelo desagrado de Dilma. A ex-presidente, sempre que pode, lembra do impeachment como uma traição do emedebista.

A reunião ocorreu na capital paulista no mesmo dia em que o Valor publicou entrevista na qual o ex-ministro Wellington Moreira Franco (MDB), aliado de Temer, afirmou estar difícil o diálogo entre os ex-presidentes.

Apesar da distensão por intermédio do vice de Lula, a possibilidade de uma aliança entre o MDB e o PT, no primeiro turno, é vista com ceticismo. O MDB já lançou como pré-candidata à Presidência a senadora Simone Tebet (MS), depois de uma longa decantação da chamada terceira via. Caciques do partido consideram a permanência dela na disputa “menos danosa” do que a retirada.

O Valor apurou que o cenário “pode mudar”, até porque Tebet, em vez de crescer, reduziu sua intenção de voto de 2% para 1%, na pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira. O desempenho da senadora, no entanto, é considerado “irrelevante”, pois os líderes regionais do MDB não vão deixar de tomar posição em função das pesquisas – como não tem deixado. No Nordeste, a maioria dos caciques regionais e pré-candidatos a governador do MDB já fechou acordo para apoiar Lula.

A aproximação entre Temer e Lula pode criar “um guarda-chuva de legitimidade” para as conversas eleitorais de adesão ao petista, mas acima de tudo costurar um pacto que facilite a estabilidade do petista, caso se eleja. Conhecido como um interlocutor junto aos militares, Temer pode quebrar resistência a Lula nas Forças Armadas, as quais Bolsonaro procura cooptar em suas ameaças de um golpe, se for derrotado.

Outro ponto de negociação é a eleição das Mesas Diretoras da Câmara – espaço de poder que o MDB não lidera desde maio de 2016, quando Eduardo Cunha teve o mandato suspenso e foi afastado da presidência – e do Senado, onde o último presidente filiado ao partido foi Eunício Oliveira, um dos maiores aliados de Lula no MDB.

Valor Econômico