Bolsonaro pagará R$ 200 a mais a pobres só até dezembro

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Foto: Estadão

Se a eleição presidencial tivesse ocorrido há pouco menos de dois anos, no segundo semestre de 2020, Jair Bolsonaro provavelmente teria vencido. Naquele momento, mesmo com o desastre da pandemia, a taxa de aprovação do presidente beirava os 50%, o que o colocaria como favorito segundo um banco de dados com eleições no Brasil e em outros países. Hoje, na média, a taxa de aprovação de Bolsonaro oscila entre 35% e 40%. Ele provavelmente perderá.

O que havia de diferente no Brasil de 2020? Muitos governistas têm a resposta na ponta da língua: o Auxílio Emergencial. Naquele momento, o bônus de R$ 600 para 67,9 milhões de brasileiros (um terço da população!) não só aliviava a fome de milhões de famílias, como também dava um impulso a pequenas reformas e movimentava feiras e mercados por todo o país.

Bolsonaro tenta resgatar essa memória ao propor um novo aumento dos programas sociais do governo, hoje reunidos na marca Auxílio Brasil. O bônus de R$ 200 para as famílias de baixa renda, que passariam a receber um mínimo de R$ 600 até o fim do ano, provavelmente será aprovado pelo Congresso em julho. Fará diferença?

A resposta mais simples é que o benefício deve sim ajudar Bolsonaro; mais até do que outras alternativas à mesa, como cortes de impostos nos combustíveis. Mas, provavelmente, o efeito será numa escala muito menor do que ele experimentou em 2020, e menor do que ele gostaria – ou precisaria – para vencer a eleição.

Primeiro, é preciso lembrar que o Auxílio Brasil é pago a um contingente menor de pessoas (18 milhões de famílias), e mais concentrado no Nordeste. Dentre os beneficiários do Auxílio Emergencial, havia muitos trabalhadores informais ou desempregados em regiões metropolitanas que hoje não têm acesso ao Auxílio Brasil.

Segundo, o valor de R$ 600 será calculado por família, e não por indivíduo, como no Auxílio Emergencial. Os valores não são comparáveis. Em muitos casos, o programa atual ainda entrega bem menos dinheiro do que o Auxílio Emergencial da pandemia.

Terceiro, esse bônus pode estar vindo tarde demais, muito perto da eleição para converter eleitores fiéis de Lula. O pico da aprovação do presidente com o Auxílio Emergencial começou quatro meses após os primeiros pagamentos. No Auxílio Brasil, seis meses após dobrar o valor do antigo Bolsa Família, a aprovação de Bolsonaro entre os beneficiários do programa ainda era de apenas 18%, segundo levantamento Genial/Quaest.

Tudo isso não quer dizer que não haverá efeito algum. Se a taxa de aprovação de Bolsonaro entre os mais pobres se aproximar da média das outras faixas de renda, o presidente subirá nas pesquisas. Mas, com as considerações de que essa medida é mais fraca do que as políticas de 2020, e com Lula bem à frente no placar, o presidente precisará seguir no ataque para virar o jogo.

Estadão