Bolsonaristas apoiam ditaduras e petistas não

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Foto: Reprodução

O assassinato do petista Marcelo de Arruda, no fim de semana, em Foz do Iguaçu (PR), por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro, colocou a violência política no topo da agenda e reacendeu a discussão sobre o debate político no país estar marcado por extremismos equivalentes: de um lado, o PT e seus militantes. De outro, o presidente Bolsonaro e seus fiéis apoiadores.

Renovado por pré-candidatos que buscam conquistar eleitores sem muito apreço nem pela liderança petista, nem pelo presidente, o discurso de que os dois polos se equivalem é constante.

Os dados da pesquisa nacional “A cara da democracia”, realizada pelo Instituto da Democracia (INCT-IDDC), entre os dias 06 e 16 de junho, ajudam a compreender uma das principais diferenças entre esses grupos: a adesão à democracia.

Para isso, foi construída uma variável na qual é possível isolar os petistas e os bolsonaristas do restante dos eleitores. O primeiro grupo foi composto pelos entrevistados que afirmaram simpatizar com o PT (13% do total). O segundo, pelos eleitores que, em uma escala de dez pontos, afirmaram gostar muito do presidente, marcando apenas o ponto mais alto (também 13% do total).

Essas são medidas bem conservadoras e que permitem analisar as percepções políticas daqueles que estão mais próximos do PT e de Jair Bolsonaro.

Quando cruzamos os grupos com a preferência pela democracia, 63% dos petistas declararam apoio ao regime, enquanto, entre os bolsonaristas, a porcentagem foi de 57%. Entre os outros eleitores, de 59%.

Mais fiéis, mais favoráveis a soluções antidemocráticas
Quando a análise é refinada, porém, as diferenças vão aumentando. A partir de seis perguntas em que o entrevistado responde se um golpe militar seria justificado diante de algumas situações, foi possível construir um índice de zero a seis, em que zero significa maior rejeição a golpes, e seis, maior aprovação. Entre os petistas, a média foi de 1,5; entre os bolsonaristas, 2,7. Entre os outros eleitores, 1,8 – todas fora da margem de erro. Ou seja, os apoiadores mais fiéis do presidente demonstraram ser mais favoráveis a golpes militares do que os petistas e os outros eleitores.

Avançando um pouco mais, a partir de análises multivariadas com controle por sexo, renda, idade e escolaridade, é possível atestar a diferença entre os grupos com relação à adesão à democracia.

Não preferir o regime democrático aumenta em 61% a chance de o eleitor ser um bolsonarista, quando comparado a um petista. Da mesma forma, para cada nível de concordância com o levante de um golpe militar amplia em 35% a chance de o entrevistado ser um bolsonarista, também quando comparado a um simpatizante do PT.

Esses achados estão em linha com trabalhos já feitos pelos pesquisadores Cesar Zucco (FGV/RJ) e David Samuels (University of Minnesota) e por mim em texto com a colega Mariana Chaguri (Unicamp).

No entanto, como a história da (falsa) equivalência se repete, é sempre importante deixar claro o que as pesquisas de opinião informam sobre esses dois grupos políticos.

O Globo