Bolsonaro de “esquerda”, Ciro iguala Lula a Bolsonaro

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Foto: Reprodução

Oficializado ontem como candidato do PDT à Presidência da República nas eleições deste ano, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes fez um discurso em que atacou em igual medida o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Afirmando que a polarização promovida pelos dois nas pesquisas promove “o painel da maior fraude eleitoral da história”, Ciro disse que “esquerda e direita foram e são cúmplices do mesmo modelo”, com o qual ele prometeu romper nos quatro anos em que estiver no Palácio do Planalto, caso eleito – o candidato prometeu acabar com a reeleição ao cargo. “Para facilitar a negociação séria, honesta e transparente vou propor o fim da reeleição, abrindo mão deste direito, sem acréscimo de um só dia do meu mandato. Será o fim desta praga que está matando a democracia brasileira”.

Ciro também prometeu mudanças radicais na política econômica e na gestão de governo se eleito: o candidato do PDT garantiu que encaminhará, no primeiro dia de mandato, medidas para promover o fim do teto de gastos no setor público, o desmantelamento do “orçamento secreto” promovido pelas emendas de relator na peça orçamentária anual e a reversão da atual política de preços de combustível pela Petrobras, com uma mudança estrutural para transformar a estatal “na maior empresa de energia limpa do mundo”. Ciro disse que também fará a renegociação das dívidas de todos os Estados e municípios.

O candidato não esclareceu como realizaria tais medidas do ponto de vista legal – se por meio de projetos de lei, mudanças constitucionais ou decretos -, nem como faria para convencer a maioria do Congresso Nacional, onde o PDT não figura entre as maiores bancadas, a dar suporte a essas mudanças. Mas sublinhou que usará o mecanismo do referendo popular, caso seja eleito.

“Os pontos de impasse serão submetidos a referendos populares, instrumento previsto na Constituição, mas quase nunca utilizado, o que tem limitado a participação popular nos rumos do país apenas às eleições”, disse.

Ao ilustrar o cenário de polarização, Ciro citou os romances “O Frankenstein”, de Mary Shelley, e “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. “Lula está escrevendo uma versão política do Médico e o Monstro. E Bolsonaro rascunha uma versão grotesca do Frankenstein. Por seus erros, Lula parece ter saído da prisão para aprisionar o Brasil em uma camisa de força. Por sua má índole, Bolsonaro, que chegou ao poder pelo voto, quer usar o voto para destruir as eleições e a própria democracia. No fundo, estamos vivendo uma versão repetida, piorada e ampliada, das eleições de 2018”, disse.

Ciro atacou de uma vez todos os presidentes eleitos desde a Constituição de 1988, que em sua avaliação apenas deram seguimento a um modelo social que ele chamou de “pobrismo”. “Significa contentar os pobres com migalhas e transferir a verdadeira riqueza para os ricos. No banquete dos ricos e restos para os pobres, Collor preparou a cozinha, Fernando Henrique serviu a mesa e Lula temperou a comida. Dilma, Temer e Bolsonaro apenas requentaram o prato. Todos, absolutamente todos, serviçais dos mesmos patrões. E seguidores da mesma receita”. Ciro foi ministro de Estado nos governos Itamar Franco e Lula.

Tendo sua candidatura confirmada sem aliança com outros partidos nem anúncio de quem será o candidato a vice-presidente em sua chapa, Ciro disse que está em negociações “com outras forças políticas do centro democrático” e dará preferência a uma mulher para a vaga. Ele disse manter conversas em aberto com o União Brasil e com o PSD. “Enquanto eles nos pedirem que mantenhamos essas conversas em aberto, assim o faremos”. Ele acrescentou que o partido de Luciano Bivar (União Brasil-PE) pediu que o PDT não fechasse os canais de negociação. Bivar deve oficializar candidatura presidencial em 5 de agosto.

Ciro reclamou de Lula, que tem feito ofensivas para ampliar a base de apoio em torno de sua pré-candidatura. O pedetista chegou a classificar como “fascismo” o movimento feito por Lula de aproximação aos caciques do MDB, incluindo o ex-presidente Michel Temer, para tentar esvaziar a candidatura da semadora Simone Tebet.

O pedetista também disse estar chocado com a “falta de comportamento democrático” de Lula ao tentar “destruir” a organização de outros partidos. “Lula desconsiderou qualquer ética e decidiu destruir partidos políticos. Tentou operar em vários locais, inclusive no Ceará”, reclamou.

No Ceará, a aliança entre PT e PDT, existente há 16 anos, está rompida após o partido de Ciro escolher Roberto Cláudio para a disputa ao governo do Estado, em detrimento da atual governadora, Izolda Cela, que assumiu o cargo em abril após a desincompatibilização de Camilo Santana (PT) e que era por ele apoiada. Para Ciro, Lula e o PT tentaram interferir na autonomia do PDT para escolher o candidato. “Não é assim que se faz. O PDT definiu um critério, fez pesquisa e o candidato escolhido tem 4% a menos que o candidato bolsonarista de lá. Atendendo a Lula, Camilo Santana esqueceu tudo isso. Temos intenção de manter a aliança com o PT no Ceará. Se não quiserem, têm que nos dizer”.

Ao fim da coletiva, Ciro voltou a atacar Lula e disse que o petista virou “uma pessoa sem nenhum tipo de escrúpulo” e que, se eleito, o petista vai se aliar ao Centrão, bloco que integra a base aliada de Bolsonaro, mas já esteve com o ex-presidente no passado. “Insanidade é repetir as mesmas coisas e esperar coisas diferentes”, concluiu.

Valor Econômico