Bolsonaro atribui carta democrática a CUT e PT

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

O presidente Jair Bolsonaro tentou atrelar os manifestos pró-democracia ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT. Ele comentou ontem em sua “live” semanal e nas redes sociais os atos, motivados por seus ataques infundados ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas.

A postura do presidente reflete a estratégia que, segundo aliados, a campanha tentará adotar diante dos atos. A ideia é desqualificar os manifestos como fruto de um movimento social, tentando passar a impressão de que os documentos se destinam a eleger o petista na eleição presidencial de outubro.

As transmissões ao vivo por emissoras de TV e de rádio, além da cobertura em sites noticiosos, pode atrapalhar os planos do núcleo da campanha de tentar amenizar a imagem do presidente.

A avaliação de interlocutores do presidente ouvidos pelo Valor é a de que os manifestos e a extensiva cobertura midiática dada a eles podem causar danos a Bolsonaro – sobretudo perante o eleitor indeciso e os moderados, ao identificá-lo com alguém contrário à democracia. Segundo apurou o Valor, os eventos causam preocupação no entorno do presidente e dentro da campanha.

Do ponto de vista da cobertura jornalística, segundo uma fonte com quem o Valor conversou, “foi um desastre” para Bolsonaro. Embora as redes sociais tenham crescido em relevância, continua a fonte, “ainda é a televisão quem muitas vezes pauta o Twitter”.

A motivação desses atos coloca Bolsonaro em posição delicada. Os manifestos foram concebidos após os ataques infundados do presidente ao sistema eleitoral, às urnas eletrônicas e a instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pesquisas qualitativas internas mostram que, apesar de inflamar a base, o presidente espanta o eleitor indeciso a cada vez que radicaliza o discurso.

Outras fontes com quem o Valor conversou, no entanto, dizem acreditar que o impacto deste 11 de agosto será muito pequeno na imagem do presidente. Apesar das quase 1 milhão de assinaturas que endossam um dos manifestos, na opinião dessas fontes importa mais o número de pessoas que Bolsonaro consegue colocar hoje nas ruas.

Os bolsonaristas apostam nas manifestações do Dia da Independência. A exemplo do que ocorreu no ano passado, quando o presidente reuniu muitos manifestantes em São Paulo e em Brasília. Na ocasião, Bolsonaro ameaçou não mais cumprir ordens do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e jogou o país em uma crise institucional. Teve que voltar atrás e se desculpar, após uma negociação intermediada pelo ex-presidente Michel Temer.

Na “live” semanal, Bolsonaro pegou um exemplar da Constituição de 1988 e iniciou suas críticas. Ele mencionou o fato de o PT ter se oposto ao texto final da Carta Magna, mas disse erroneamente que o partido não o assinou – na verdade, os constituintes petistas votaram contra, mas assinaram a Constituição. À época, o então deputado Lula disse que a assinatura era o cumprimento formal de sua participação na Constituinte.

Mais cedo, o presidente havia usado o Twitter para ironizar os manifestos e se referir à redução do preço do diesel, anunciada horas antes pela Petrobras.

Em público, ministros e aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) também buscaram minimizar o impacto dos manifestos. Na mesma linha do presidente, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse no Twitter que a Carta que garante a democracia é a Constituição.

“A democracia não pertence a ninguém. A democracia é de todos nós! A democracia, inclusive, é o que deveria existir mais em países como Venezuela e Cuba, que alguns ‘democratas’ no Brasil apoiam”, criticou Ciro Nogueira.

Já o líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse ao Valor que os atos têm uma “boa tese”, mas que o problema é o “ativismo”..

Valor Econômico