Bolsonaro reinstala indústria da seca no país

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Para opositores do governo de Jair Bolsonaro (PL), a existência de um cemitério de poços artesianos fechados no semiárido nordestino representa a volta da “indústria da seca” e do “coronelismo” no Brasil. O primeiro termo se refere à prática de políticos que se aproveitavam da vulnerabilidade dos moradores do semiárido para conseguir votos.

Nesta terça-feira, reportagem do Estadão mostrou como a chamada “Força-Tarefa das Águas” do governo federal resultou na entrega de poços sem bombeamento no Nordeste, sem utilidade para a população. Na zona rural de Oeiras (PI), moradores precisam andar quilômetros para lavar roupa ou mesmo para buscar água para beber.

‘Oeiras é minha terra natal, e lamento muito a volta do esquema que usa a necessidade das pessoas para esquemas da politicagem’, disse o ex-governador do Piauí Wellington Dias.

Governador do Piauí por quatro mandatos, Wellington Dias (PT) disse que o caso simboliza o mau uso dos recursos públicos. “Oeiras é minha terra natal, e lamento muito a volta do esquema que usa a necessidade das pessoas para esquemas da politicagem, coisa do tempo do coronelismo. O governo Bolsonaro voltou ao tempo da ‘indústria da seca’”, afirmou o petista.

Um dos principais opositores de Bolsonaro no Nordeste, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que representará ao Tribunal de Contas da União (TCU). “Isso é um verdadeiro absurdo. Vamos pedir auditoria do TCU para investigar. Cabe também uma ação de improbidade administrativa contra quem autorizou fazer (os poços) e não acompanhou até o fim”, declarou.

Renan Calheiros (MDB-AL) lembrou o fato de que parte dos recursos para a “Força-Tarefa das Águas” veio das verbas do Orçamento Secreto, ou seja, de emendas de relator indicadas sem transparência. “O Orçamento Secreto é um câncer: onde você toca, você acha alguma coisa errada. É na educação, no Ministério do Desenvolvimento Regional, agora na distribuição de água. Isto é uma crise anunciada. Esses caras vão ter de responder por isso nos próximos anos”, disse Calheiros.

No Twitter, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), lamentou o fato dos moradores do semiárido precisarem andar vários quilômetros todos os dias para lavar roupas ou buscar água para beber. “O governo Bolsonaro alardeou que furou poços no sertão do Nordeste, o que não contam é que abandonaram a obra pela metade. Tem o poço, mas não tem água. Brasileiros e brasileiras ainda precisam andar quilômetros para buscar água porque Bolsonaro abandonou os poços”, escreveu ele.

Ao longo de três anos, o Estadão analisou contratos de construção de poços do governo federal que somam R$ 1,2 bilhão. Em vários casos há irregularidades, como pregões de dezenas de milhares de reais vencidos em menos de dez minutos e a reserva de recursos para novos poços sem que os antigos sejam concluídos. A chamada “Força-Tarefa das Águas” inclui a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), além do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), responsável pelos poços na região de Oeiras.

Estadão