PT vai virar superpartido nesta eleição

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Foto: ALICE VERGUEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO

PL, PP e PT serão, não necessariamente nessa ordem, os partidos que mais devem crescer nas eleições proporcionais deste ano: as disputas para deputado federal e deputado estadual. No sentido oposto, agremiações médias sem vínculo forte com o governo e partidos pequenos sem identidade ideológica bem demarcada tendem a perder.

Diferentemente do que ocorreu em 2018, o clima antissistema hoje é baixo, o que tende a comprimir a taxa de renovação. Em alta estará a tendência à reeleição. A esquerda cresce, mas não o suficiente para mudar o perfil majoritário de centro-direita da Câmara. E o número de partidos com representação no Congresso deve cair.

As previsões são de analistas e consultores ouvidos pelo Valor nos últimos dias. Eles são praticamente unânimes nesse conjunto de prognósticos.

Entre as características da eleição de 2022 que tendem a favorecer PL, PP e PT na disputa por cadeiras na Câmara e nas Assembleias Legislativas está a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial.

A expectativa é que, mesmo que não vença, Lula tenha em 2022 mais votos do que Fernando Haddad (PT) em 2018, o que deve impulsionar a sigla na disputa proporcional. Concorrendo com estrutura partidária mais sólida na comparação com a eleição passada, Bolsonaro também tende a fazer com que PL e PP se mantenham com grandes bancadas. Hoje já são as duas maiores representações da Câmara.

“Bolsonaro no PL deve repetir o que ocorreu com o PSL em 2018. A presença dele ajudará o partido a formar talvez a maior bancada. O mesmo ocorre com o PP, que deve ter desempenho muito expressivo”, diz o cientista político Cristiano Noronha, da consultoria Arko Advice. Hoje o PL conta com 77 deputados e o PP com 58. Os nomes do PT, pela mesma lógica, ganham impulso com Lula.

A polarização também deve fazer com que caia as taxas de abstenção e de votos nulos ou em branco, dizem os analistas. O clima acirrado motiva o eleitorado a comparecer e a tomar posição.

Diretor da Quaest, empresa especializada em pesquisa, Felipe Nunes chama a atenção para a influência das emendas parlamentares na taxa de sucesso eleitoral.

“Emenda parlamentar, mostra a literatura, sempre foi instrumento importante para criação de redutos e manutenção de mandatos. No período recente, o montante de recursos dessas emendas aumentou muito, inclusive com o chamado orçamento secreto. Deputados que definiam do destino de R$ 2 milhões e depois eram apoiados por prefeitos passaram a direcionar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões. Isso é um fator que favorece muito os que tiveram mais acesso às emendas, os governistas”, diz.

O chamado orçamento secreto soma R$ 21 bilhões este ano, rateados entre Senado e Câmara.

Outro aspecto novo a ser levado em conta são as mudanças na legislação. Neste ano passa a vigorar a exigência de votação mínima para um partido poder participar da distribuição de vagas pelo chamado sistema de sobras – cadeiras remanescentes após a distribuição conforme o quociente eleitoral. Em 2018, quase metade das vagas da Câmara foi ocupada pelo sistema de sobras. Neste ano, partidos que não alcançarem 20% do quociente eleitoral serão excluídos dessa segunda fase de distribuição.

Para o consultor Antônio Augusto de Queiroz, que colabora para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), essa nova metodologia será o principal elemento a favorecer partidos grandes e prejudicar os menores. “Os pequenos que formaram federação ainda conseguem se proteger disso, os demais correm o risco de extinção”, afirma.

A possibilidade de criação de federação – uma espécie de aliança permanente, válida também para o pós-eleição – é outra novidade deste ano. Os pequenos PCdoB e PV formaram federação com o PT. Assim como fez o Cidadania com o PSDB e, entre si, Psol e Rede.

Os analistas ouvidos pelo Valor listaram ainda os perfis de siglas que, conforme suas projeções, deverão perder bancada. São as que não têm vínculo com presidenciável competitivo, não tiveram preferência ou liderança nos esquemas de emendas ou não são suficientemente grandes para estarem blindadas dos critérios mais rigorosos de distribuição de vagas.

Nesse conjunto estão partidos como PSDB, PDT, PTB, Podemos, Solidariedade e Avante, entre outros. A questão do PSDB é vista como especialmente complicada pelo fato de o partido ter desistido de candidatura presidencial pela primeira vez na sua história – o que era uma de suas marcas fortes – e por ser muito dependente da votação em São Paulo.

Outro ponto de concordância entre os analistas consultados é em relação ao desempenho do União Brasil, resultante da fusão PSL-DEM. Trata-se de uma legenda desprovida dos elementos impulsionadores que favorecem PL, PP e PT, mas detentora da maior fatia do fundo eleitoral. Quase R$ 800 milhões para gastar em campanhas. “É a maior incógnita desta eleição”, diz Felipe Nunes.

Valor Econômico