PT faz ofensiva final sobre evangélicos

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Foto: Ricardo Stuckert

Na tentativa de ganhar terreno entre os evangélicos na última semana antes do primeiro turno, o PT vai aumentar a carga no discurso que associa o presidente Jair Bolsonaro (PL) à violência e ao aumento de armas nas mãos de civis pelo país, um tema caro aos religiosos, que costumam ser críticos às medidas de armamento da população. Além disso, o partido escalou o candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), e a ex-senadora e candidata a deputada federal Marina Silva (Rede-SP) para estreitar a relação com o segmento.

O petista tem crescido entre esse eleitorado, embora Bolsonaro continue sendo o preferido desse público. Pesquisa Ipec aponta uma ascensão de Lula desde 29 de agosto — período em que passou de 26% para 32%, e Bolsonaro se manteve estável na casa dos 48%. No Datafolha, o ex-presidente começou a subir em 9 de setembro, quando foi de 28% para 32%. Desde então, o candidato à reeleição oscilou de 51% para 50%. Nesse cenário, a campanha de Lula considera mínimas as chances de ele vencer no segmento, mas trabalha para reduzir a vantagem, uma frente importante para tentar liquidar a fatura no primeiro turno.

A ofensiva já começou. Na página do Instagram Evangélicos com Lula, duas publicações dão o tom que o PT adotará até a eleição. Um vídeo postado na plataforma começa com a seguinte frase: “cuidado com falsos profetas”. Na sequência, aparecem evangélicos assistindo a uma colagem de vídeos em que Bolsonaro dá declarações agressivas, como “vamos fuzilar a petralhada”, “eu sou favorável a tortura, tu sabe disso”, “é escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado”. Depois, um fiel da Igreja Pentecostal critica as declarações: “Ele não é cristão, não, acho que é mais partido para o outro lado. Cristão é amor, né?”

Outra publicação traz uma foto do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, segurando um fuzil e vestido com uma camiseta do grupo Proarmas, cujo nome é auto-explicativo. Sobre a foto do parlamentar lê-se: “Voluntários com armas? Não! Seja um voluntário da paz com Lula e Alckmin.”

O PT vai centrar fogo nos episódios em que considera que Bolsonaro se contrapôs a valores cristãos. Na avaliação dos responsáveis pela idealização das peças, o discurso de armar a população vai na contramão do conceito de construção de sociedade pacifica que pregam os integrantes do segmento. A arma também está associada, na avaliação desses estrategistas, a um símbolo forte de violência contra mulheres, indígenas, negros e periféricos.

Pesquisas qualitativas contratadas pelo partido apontam que as mulheres religiosas repelem a política de ampliação do acesso a armas implementada por Bolsonaro, por temerem pela segurança dos seus filhos e a violência dentro de casa.

— Contra o que estamos lutando nesse processo eleitoral? Contra uma forma de organização de sociedade que é antagônico aos valores evangélicos. Portanto, denunciar o que está errado faz parte da pregação — afirma o pastor Luiz Sabanay, que coordena o comitê evangélico do PT.

Recém-integrada à campanha, depois de cerca de uma década distante de Lula, Marina Silva entrará em ação para atrair o segmento a partir dessa semana. Evangélica da Assembleia de Deus, ela tem projeção de nacional e é conhecida por ter uma identidade ligada ao setor, porém, sem calcar suas campanhas em discursos evangélicos. O plano é que ela grave vídeos e marque encontros com religiosos durante as agendas que cumprir no maior estado do país.

Mesmo católico, Alckmin também foi escalado para conquistar evangélicos indecisos na reta final. A avaliação é de que o ex-governador tem acesso a lideranças e representantes de uma classe média de religiosos de São Paulo. O PT está levantando sugestões de programações para levar a Marina e Alckmin nos próximos dias.

Integrantes da campanha petista pregam que Lula conseguiu reagir — mesmo com Bolsonaro se mantendo à frente nesse estrato da população. Na descrição de um deles, 45 dias atrás, a diferença na disputa por esse público era “desesperadora”. Agora, entendem que as ações de comunicação têm ajudado religiosos a comparar as narrativas das duas campanhas, sob a luz do voto contra a violência e a favor das políticas de distribuição de renda historicamente associadas a Lula.

No site da campanha voltado a evangélicos, pelo menos 20 pastores declaram apoio a Lula. Nesta semana, o quartel general da campanha distribuiu para os 26 estados e o Distrito Federa cerca de 3 milhões de panfletos para serem entregues a religiosos. O material apresenta Lula como pacificador, tem texto curto e mensagem incisiva: “O desafio que temos nessas eleições, como evangélicos, é enorme. O Brasil está passando por um dos momentos mais difíceis de sua História.”

O PT também tem estimulado que as campanhas estaduais se reúnam com religiosos. Na segunda-feira, 19, Jerônimo Rodrigues (PT), candidato ao governo da Bahia, recebeu pastores e fiéis das Igrejas Assembleia de Deus, Batista, Adventista do Sétimo Dia, Presbiteriana e Imperial do Reino de Deus para um encontro em Salvador. Os 140 candidatos a deputado da coligação do PT que são evangélicos também estão encarregados de fazer encontros nas suas regiões.

O Globo