Debate equilibrado favoreceu Lula

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Foto: Globo/ Sérgio Zalis

As quase duas horas e meia de debate entre os candidatos a presidente na Globo na noite desta sexta-feira demonstraram que Lula finalmente acertou o roteiro ensaiado pela preparadora de elenco Olga Curado, com quem treinou por três dias em São Paulo.

Depois de dois debates apanhando de Bolsonaro quando a conversa enveredava pelo tema da corrupção, Lula conseguiu manter o equilíbrio emocional para obedecer à ordem de Olga: responder rapidamente e devolver a acusação ao presidente, mencionando rachadinha e compra de imóveis em dinheiro vivo.

Desta vez, não chegou a ficar nas cordas, e criou oportunidades de falar de política externa e de pandemia – temas em que costuma ir bem.

Já Bolsonaro não teve o mesmo tempo para treinar – o que alguns assessores lamentavam já no início do confronto, ao constatar que Lula tinha mais domínio do jogo de câmera e demonstrava mais rapidez do que nos outros debates.

Encaixou alguns golpes, de novo ao mencionar a corrupção dos governos petistas, e desfiou números sobre desmatamento que Lula deixou quicando na área.

Ficou claro que o presidente também tinha preparado alguns truques. Um deles foi revidar os ataques de Lula com “mentiroso”, “para de mentir” e suas variantes. Outro era chamar Lula para perto, algo que funcionou no debate da Band. “Vem para cá, Lula!”, “Fica aqui, Lula!”, chamava, sempre que queria mostrar confiança de que havia ido melhor do que o outro.

Os ruídos vindos da plateia, com provocações por parte das duas equipes, ajudaram a truncar o debate e enervar os candidatos.

Mas se ajudaram Lula, as muletas retóricas não foram suficientes para dar a Bolsonaro a virada de que ele precisava para criar um clima de confiança entre os eleitores.

Não apenas por que ele se enrolou em respostas sobre saúde, economia e a repetição exagerada dessas muletas retóricas, mas também porque Lula aproveitou a oportunidade com outro recurso treinado nos ensaios prévios.

Quando Bolsonaro não respondia a suas perguntas ou insistia em alguma acusação, Lula recorria ainda a outra jogada ensaiada: a de pedir desculpas a quem estava em casa pelo comportamento do oponente.

“Queria pedir desculpas a você que está em casa, esperando alguma coisa diferente, mas lamentavelmente você não ouviu porque um presidente que deveria vir dizer o que fez só sabe fazer provocações”.

Pelo menos no grupo de eleitores indecisos que acompanhei online, a convite de uma empresa de pesquisas que não trabalha para nenhum dos dois candidatos, funcionou.

Ao final do confronto, das oito pessoas que se diziam indecisas ou propensas a mudar de voto, três afirmaram que o debate as fez optar por Lula, com o argumento comum de que ele “demonstrou ter mais propostas” e “falou mais de futuro”. As outras cinco continuavam indecisas e disseram que aproveitaram o tempo que falta até domingo para pensar melhor.

Como esse grupo não é necessariamente representativo da população, não dá para dizer que Lula teve uma vitória acachapante. Mas numa disputa tão apertada, nenhuma vantagem deve ser desprezada.

O Globo