Setor financeiro descobre que Lula foi gestor responsável

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O mercado financeiro decidiu, após Lula recomendar mil vezes, olhar os números de sua gestão no que diz respeito a responsabilidade fiscal e outros cânones do mercado. Eis que os banqueiros que viveram o governo Lula de ponta a ponta, durante oito anos, surpreendem-se por ele ter obtido superávit primário em todos os anos de seus dois governos e diminuido em 10 pontos a dívida bruta. Confira a história em reportagem do Globo, abaixo.

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O Globo

7/10/22

O mercado financeiro, o setor produtivo e grande parte dos eleitores de Simone Tebet querem mais informações da política econômica do PT, para diminuir a resistência a Lula. Esta semana, estive no evento do partido com governadores e consegui conversar rapidamente com o ex-ministro Aloizio Mercadante, o economista que sempre teve muita intimidade com o candidato petista e também preside a Fundação Perseu Abramo.

Na visão do partido, explicou Mercadante, o ex-presidente não precisa dar explicações sobre política fiscal porque os números do governo Lula falam por si só. E que números são esses? De fato, de 2003 a 2010, durante os dois mandatos de Lula, o governo federal teve superávit primário em todos os anos. Começou bem forte, em 5,04% do PIB, o maior já registrado na série histórica, e manteve uma média de 2,16% em oito anos. Além disso, a dívida bruta do governo geral caiu de 76,1% do PIB em dezembro de 2002, para 62,43%, em dezembro de 2010. Isso pela metodologia usada pelo Banco Central até 2007 e que cobre todo o período do governo Lula. Ou seja, para o PT, isso já seria suficiente.

Questionei Mercadante sobre a visão dominante no mercado de que existem dois governos Lula na economia. O primeiro, sob a gestão de Antonio Palocci e que teve secretários do nível de Marcos Lisboa e Joaquim Levy. O segundo, com o Ministério da Fazenda sob o comando de Guido Mantega, o ministro que permaneceu no cargo e esteve à frente da pasta no governo Dilma.

A resposta de Mercadante é que no governo Lula a mudança no ministério de Palocci para Mantega não alterou o resultado final, já que o superávit primário foi mantido. Ele justifica o aumento de gastos em 2009 pelo combate à crise financeira internacional, que de fato obrigou todos os governos do mundo a adotar políticas anticíclicas, e reconheceu que em 2010 houve excessos no ano eleitoral. Mas lembrou que Bolsonaro tem feito o mesmo agora em 2022.

O ex-ministro tem razão em parte. Se é verdade que Lula começou seu governo em 2003 sob forte desconfiança do mercado e conseguiu dar a volta por cima, entregando as contas sempre no azul, também é verdade que houve aumento de carga tributária em seu governo, de 32% para 34% do PIB, e ele foi beneficiado pelo aumento dos preços das commodities, que ajudaram com a arrecadação.

Além disso, questionei Mercadante sobre a capitalização da Petrobras, em 2010, no governo Lula, que foi uma grande manobra contábil que transformou dívida do Tesouro em superávit primário, em uma triangulação envolvendo o BNDES. Ou seja, os truques fiscais começaram em seu governo e foram acelerados depois pela turma de Arno Augustin, no Tesouro de Dilma Rousseff. A resposta foi vaga, mas pelo que entendi entraria no pacote “ano eleitoral”.

Em resumo: o PT enxerga que Lula é diferente de Dilma na economia. Não aceita comparações, nem aceita que os erros de Dilma recaiam sobre Lula. E, com esse recorte, tem números realmente favoráveis para apresentar.

O problema é que para ganhar as eleições é preciso ter metade dos eleitores mais um voto. Valerá a pena ao partido se agarrar a essa visão e ter uma eleição mais apertada? Ou seria melhor entender o que pensam os 10 milhões de eleitores que não votaram nem em Lula nem em Bolsonaro?

A chave para a vitória pode estar nessa resposta.