Se Bolsonaro tivesse vencido ianomâmis seriam extintos

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Foto: Adriano Machado/Reuters

O secretário executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, foi enfático, em entrevista ao portal UOL, ao dizer que ações promovidas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) tiveram impacto direto na tragédia, só recentemente visibilizada, dos povos yanomamis na Amazônia.

Entre essas ações ele citou o favorecimento a garimpeiros ilegais e o boicote explícito de ajuda às aldeias durante a pandemia.

“Na gestão Bolsonaro, há uma conduta proativa e expressiva de, além de negar a proteção, incentivar o garimpo naquelas terras indígenas. Ainda no período dele e da ministra Damares (Alves, dos Direitos Humanos), houve veto à ajuda humanitária aos povos. Há um divisor de águas nesse sentido. Há um conjunto de condutas dolosas com a intenção de prejudicar”, afirmou.

Ele se referia ao veto do então presidente a um projeto de lei que previa medidas de proteção a comunidades indígenas no auge da crise sanitária, em 2020, com oferta de leitos de UTI, produtos de limpeza e água potável.

Os ianomâmis são povos de recente contato e, como se sabe, a proximidade de atividades econômicas em sua terra progeria provocar uma curva exponencial de contaminações – não só de Covid.

Bolsonaro vetou o projeto a pedido de Damares Alves, sob a alegação de que os povos não haviam sido “diretamente consultados pelo Congresso”.

O veto presidencial foi derrubado pelo Congresso.

Menos de um mês após sua saída do governo, o Brasil e o mundo se chocam com as imagens de indígenas famintos, doentes e desnutridos, enquanto suas terras eram atravessadas, devastadas e contaminadas por agentes químicos e altamente poluentes usados no garimpo, como o mercúrio.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, mais de 570 crianças yanomamis morreram devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal pela região.

O decreto de estado de emergência, publicado agora pelo Ministério da Saúde, dá a dimensão da urgência com que a situação deveria ter sido enfrentada há muito tempo.

Hoje as casas de atendimento aos indígenas se tornaram verdadeiros hospitais improvisados, como aquelas estruturas militares montadas em tempos de guerra.

É espantoso saber que tudo isso acontecia enquanto, ainda durante as eleições, debatia-se problemas fantasiosos a respeito de banheiros unissex e “perigo comunista”.

A crise humanitária só foi visibilizada após a derrota do presidente, que sempre tratou os povos originários à base da arrogância, do preconceito, da ignorância e do descaso.

É provável que o restante dos habitantes das aldeias sucumbisse ao longo dos próximos quatro anos se o resultado das urnas fosse outro. Morreriam sob o silêncio do descaso, a invisibilidade da injustiça e sem direito a uma única nota de pesar dos órgãos oficiais.

Se Bolsonaro conseguiu atravessar um mandato fazendo pouco caso dos milhares de idosos mortos na pandemia por, segundo ele, não terem histórico de atleta ou já estarem fazendo hora no Planeta Terra, imagina se moveria uma sobrancelha por quem sempre viu como um “problema” para a sua ideia de desenvolvimento econômico.

A diferença entre os dois descasos é que só um não ficou impune nas urnas.

Exagero?

Nesta quarta-feira (25/1) a Polícia Federal abriu investigação para apurar possíveis crimes de omissão e genocídio contra os yanomamis. Os investigadores querem saber se houve omissão de agentes públicos, atuação dos financiadores e facilitadores do garimpo ilegal, mas amplamente incentivado, pelo antigo governo na região.

Os agentes não precisam ir longe para chegar a alguma conclusão.

Basta ver o que dizia (e segue dizendo) Bolsonaro a respeito dos povos indígenas em seu país.

Em seu primeiro mandato como deputado, ele já se queixava da “incompetência” da cavalaria brasileira que não conseguiu eliminar os indígenas do país. A comparação era com a cavalaria dos EUA, que, segundo ele, foi mais efetiva ao se livrar de um “problema”.

Bolsonaro sempre tratou os povos indígenas como um problema, um verdadeiro entrave para os interesses econômicos de quem patrocinava e lhe davam apoio. Eles por pouco não foram dizimados, em sua totalidade, por asfixia, e não pela ação direta da cavalaria.

Se os indígenas eram um “problema”, a morte, para Bolsonaro, sempre foi tratada como solução.

A História não vai perdoá-lo. Espera-se que os tribunais penais internacionais também não.

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