Torres foi alertado dois dia antes de ataques terroristas

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Dois dias antes dos atos golpistas em Brasília, a Secretaria de Estado de Segurança do Distrito Federal, então comandada por Anderson Torres, ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro, recebeu um relatório de inteligência apontando risco de invasão do Poder Legislativo em 8 de janeiro. “As divulgações apresentam-se de forma alarmante, dada a afirmação de que a “tomada de poder” ocorreria, principalmente, com a invasão do Congresso Nacional”, segundo trecho do documento.

O relatório de inteligência produzido no dia 6 de janeiro também indica que entre os golpistas havia “adultos em boa condição física” e “Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs)” que faziam postagens ameaçando “sitiar Brasília”.

O documento foi uma das provas incluídas no relatório do interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, apresentado nesta sexta-feira ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator das investigações de atos golpistas.

Segundo Cappelli, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal foi informado das movimentações golpistas na véspera da invasão dos Três Pdoeres.

— Esse relatório foi entregue no gabinete do secretário de segurança pública, o senhor Anderson Torres, onde dizia que uma manifestação que era convocada como tomada de poder previa invasão aos prédios públicos — disse Cappelli em entrevista coletiva nesta sexta-feira.

O relatório apresentado pelo interventor na segurança pública no Distrito Federal aponta que, durante os atos golpistas, Torres “encontrava-se viajando para Orlando, nos Estados Unidos, sendo que o período oficial de férias estava marcado para a partir do dia 9 de janeiro de 2023”. Procurada, a defesa do ex-secretário de Segurança Pública não comentou.

‘Falha operacional’ de forças policiais
O interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, apresentou nesta sexta-feira um relatório ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, apontando as provas de que houve “falha operacional” na atuação das forças policiais no dia 8 de janeiro. Segundo ele, o documento também revela a ação “programada” de “profissionais treinados” na invasão às sedes dos Três Poderes da República em 8 de janeiro.

O relatório, que tem mais de 60 páginas, 17 anexos e um arquivo com imagens das câmeras de segurança do entorno da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes, foi divulgado pelo Ministério da Justiça. Veja, a seguir, as principais conclusões do relatório.

Desconsideração de informes de inteligência
O documento aponta que houve alertas de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, relatando potenciais riscos de invasão de prédios públicos pelos manifestantes golpistas. Os relatórios, no entanto, não ensejaram um “desdobramento adequado” das forças de segurança, segundo o interventor.

Falha de planejamento
O relatório elenca comunicações feitas pelos comandantes da Polícia Militar do DF nos dias 6, 7 e 8 de janeiro. O interventor afirma que protocolos não foram respeitados. Um desses exemplos seria que nenhuma “ordem de serviço” convocando um reforço no efetivo previsto para a data foi expedida. No dia dos atentados, os policiais estavam de sobreaviso e não de prontidão nos batalhões — no primeiro caso, eles ficam em casa e só começam a trabalhar caso sejam acionados. Um memorando emitido no dia 8 também revela que não foram acionados batalhões importantes, como o Bope e a BPcães, para acompanhar o ato golpista.

Ausência de comandantes
Nove comandantes da Polícia Militar do Distrito Federal estavam de férias ou licença no dia 8 de janeiro, entre eles o comandante do Batalhão de Choque. Além dos nove, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, também estava ausente devido a uma viagem de férias aos Estados Unidos. Segundo Cappelli, Torres foi informado do risco de manifestação violenta e mesmo assim decidiu por sair da cidade.

Quebra de comando
Relatos de policiais e vídeos mostram que o então comandante da Polícia Militar, Fábio Augusto Vieira, chegou a pedir por mais batalhões e efetivo à Praça dos Três Poderes no momento em que ocorria as invasões. Suas solicitações, pórem, não foram atendidas.

Falta de efetivo suficiente
Anexas ao documento, imagens das câmeras de segurança do entorno da Esplanada revelam que havia cerca de 150 policiais militares fazendo uma linha de contenção na frente do Congresso Nacional. A tropa era formada em parte por alunos do curso de formação de praças da corporação, que não possuíam o equipamento adequado, como o exoesqueleto.
Na zona central de Brasília, havia um total de 550 homens da PM destacadas — número considerado insuficiente pelo interventor para acompanhar a manifestação.

‘Centralidade’ do acampamento
Relatório também monta uma linha cronológica de como o acampamento foi montado e estruturado na área de segurança do Exército, logo após o segundo turno das eleições. O documento reúne 73 Boletins de Ocorrência relatando furtos e roubos no local, o que, segundo o interventor, indicaria uma ação mais incisiva das forças de segurança.

Inquéritos na Corregedoria da PM
O interventor também afirmou que o relatório trará as razões que levaram à instauração de seis inquéritos policiais militares (IPM). São eles:
1) apuração da conduta do Batalhão de Choque da PM que não impediu a entrada de manifestantes no Congresso Nacional;
2) investigação em relação aos policiais que estavam conversando e tirando fotos enquanto ocorria a invasão no prédio dos Três Poderes;
3) apuração de responsabilidade na linha de comando da Polícia Militar do Distrito Federal que falhou na mobilização de batalhões e efetivo, apesar dos alertas da inteligência;
4) suspeita de policiais militares que arrecadavam recursos para o acampamento e trabalhavam na segurança privada do local;
5) investigação da conduta de um policial militar que chutou uma manifestante dentro do Palácio do Planalto;
6) apuração sobre os motivos que levaram a tropa da PM a recuar e desmobilizar a linha de contenção que dava acesso à sede do Supremo Tribunal Federal.

 

O Globo