Do val diz que manipulou mídia sobre grampo

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Cristiano Mariz/Agência O Globo

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou nesta terça-feira ter “manipulado” o noticiário com informações desencontradas de forma intencional.

Na semana passada, o parlamentar admitiu ter participado de uma trama conspiratória – ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) – com o objetivo de anular as eleições de 2022, que deram a vitória ao petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As declarações de Marcos do Val foram dadas na saída do Senado e registradas pelo ativista Ronny Teles, que compartilhou as imagens em seu canal de YouTube.

O parlamentar foi questionado a respeito da denúncia que fez a respeito da articulação golpista e suas mudanças de versão sobre a trama.

“Não, mas tudo é estratégico”, disse Marcos do Val.

O ativista responde: “Mas parece que a Justiça não está tratando muito bem essa estratégia”.

O senador rebate: “Eu acho que o resultado está dando certo”.

“Acha que está sendo positivo?”, insiste Teles. “Acho não, tenho certeza disso”, afirma Marcos do Val, enquanto sorri.

“Qual o seu objetivo?”, questiona o youtuber.

“Com o tempo vocês vão saber qual é. Vocês podem ter certeza que com o tempo vocês vão saber qual é.

O objetivo foi atingido, e é claro que eu fiz essa manipulação de notícias desencontradas, mas um dia vocês podem entender isso daí”, diz o senador. Teles então pergunta se Marcos do Val pretende pedir o afastamento do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Com o tempo vocês vão ver o que vai acontecer e ficarão muito felizes”, finalizou o parlamentar.

Da coação à mudança de versão Na madrugada da última quinta-feira, Marcos do Val afirmou durante uma live que Bolsonaro tentou coagi-lo para dar um golpe de estado.

A investida, segundo o parlamentar, foi recusada e prontamente denunciada. O senador também anunciou, na ocasião, que iria renunciar ao mandato.

Na sequência de entrevistas que o senador concedeu no decorrer daquele dia, algumas diferentes versões sobre a reunião que ele teve com o ex-deputado Daniel Silveira e o ex-presidente Jair Bolsonaro chamaram a atenção.

Segundo o parlamentar, o político bolsonarista — preso na última quinta-feira pela Polícia Federal — havia lhe sugerido que gravasse, sem autorização, uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes. Durante o encontro, Do Val conduziria o magistrado a “falar que em alguns de seus processos ele ultrapassou a linha da Constituição”.

De acordo com o senador, o áudio serviria como suposta evidência para um golpe de Estado, numa tentativa de prender Moraes, comprovar fraude eleitoral e manter Bolsonaro na Presidência da República.

Em sua primeira publicação sobre a história, numa transmissão ao vivo em suas redes sociais na madrugada de quinta-feira, Do Val disse que “ficava p*” quando o chamavam de “senador bolsonarista”. Em outra aparição ao vivo na manhã desta sexta, o senador afirmou que Flávio e Eduardo Bolsonaro são “parceiraços” e agradeceu o apoio que vem recebendo da família do ex-presidente.

Ainda na primeira live, Marcos do Val também declarou que uma reportagem seria publicada sobre “a tentativa de Bolsonaro de coagi-lo a dar um golpe de Estado com ele”.

Em outras entrevistas ao longo do dia, porém, o senador relatou que o ex-presidente não se pronunciou sobre a ideia de Daniel Silveira durante a reunião.

A versão sobre o silêncio absoluto de Jair Bolsonaro durante o encontro foi alterada ainda na tarde de sexta-feira, quando o parlamentar contou em entrevista à GloboNews que “a única coisa que o presidente falou na hora da saída foi: ‘então a gente espera a sua resposta'”.

Marcos do Val alega ter pedido um tempo para pensar sobre a proposta a fim de notificar o ministro Alexandre de Moraes.

Depoimento

Em depoimento de cerca de quatro horas à Polícia Federal (PF), ainda na quinta-feira da semana passada, Marcos do Val relatou sobre a reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira em que teria sido proposto ao senador um plano golpista.

Após deixar da PF, ele reafirmou que Bolsonaro ficou em silêncio durante a reunião. O senador reforçou a versão segundo a qual Silveira seria responsável por arquitetar o plano que envolvia uma tentativa de gravar uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes.

Na ocasião, Marcos do Val forneceu espontaneamente seu celular à PF para captura de dados. O aparelho foi devolvido ao dono nesta quarta-feira, por determinação de Moraes.

Valor