Presidente do BC ameaça Lula após críticas aos juros
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou para pelo menos um integrante do primeiro escalão do governo que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não ajudam nas definições da política monetária.
Ao blog, esse ministro entendeu que Campos Neto mandou um recado de que é preciso que o governo tenha moderação, para evitar ruídos de comunicação que prejudiquem a definição sobre a taxa de juros.
Nesta segunda-feira (6), Lula voltou a fazer duras críticas ao Banco Central. Na posse do novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ele afirmou que o Brasil tem uma “cultura” de juros altos que “não combina com a necessidade de crescimento” do país.
Lula também atacou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que, na semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 13,75% – patamar em vigor desde o início de agosto de 2022.
“É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, disse o petista.
“Tem muita gente que fala: ‘Pô, mas o presidente não pode falar isso’. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem que eu vou querer que fale? O catador de material reciclável? Quem que eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar. Porque quando eu era presidente eu era cobrado”, emendou o chefe do Executivo.
Na viagem para Argentina, Lula foi alertado por auxiliares de que deveria parar com a artilharia contra o BC e que isso prejudicava o ambiente para a redução da taxa de juros.
Lula ficou poucos dias em silêncio, mas, recentemente em uma entrevista, o presidente chamou de “bobagem” a independência do Banco Central, prevista em lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A ideia da lei é que – como a diretoria da instituição não pode ser demitida por eventualmente subir a taxa de juros – a atuação da instituição seja técnica, blindada de pressões político-partidárias, focada no combate à inflação.
Durante o governo Bolsonaro, a taxa de juros subiu mais de 11 pontos percentuais entre janeiro de 2021 e agosto de 2022.
De acordo com o Banco Central, a medida foi necessária para frear a inflação, agravada por eventos como a pandemia da Covid e a invasão da Ucrânia pela Rússia, além de fatores internos.
Com a disparada dos preços, o BC avaliou que era necessário elevar os juros e, assim, reduzir a circulação de dinheiro na economia — mecanismo que segura a inflação.
Economistas avaliam que a redução dos juros, para não piorar a inflação, deve ser acompanhada de melhorias na economia. O governo precisa dar sinais positivos ao mercado e aos investidores – por exemplo, garantindo responsabilidade fiscal e segurança jurídica.
Isso traria investimentos ao país e manteria as contas públicas sob controle, fatores que contêm a inflação.