PSOL começa a perder filiados ilustres para o PT

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Após terem rompido com o PT nos governos Lula e Dilma em meio a casos como o mensalão, a Lava-Jato e a reforma da Previdência, integrantes de PSOL e Rede se reaproximaram da sigla e aceleraram debates internos sobre o futuro dos respectivos partidos. O movimento ocorre em meio ao retorno de Lula à Presidência e a dificuldades para superar a cláusula de barreira desde 2018 — PSOL e Rede formaram uma federação nas eleições de 2022, com duração de quatro anos.

No PSOL, mesmo integrantes de alas minoritárias, mais resistentes ao PT do que a atual cúpula do partido, admitem a montagem de alianças eleitorais em 2024, a exemplo do ocorrido na eleição presidencial do ano passado, sob o argumento de enfrentar o bolsonarismo nas disputas municipais. Além do deputado federal Guilherme Boulos (SP), que busca o apoio petista para concorrer à prefeitura de São Paulo, há conversas para alianças com o PT em capitais como Porto Alegre, Belém e Macapá, segundo o presidente da sigla, Juliano Medeiros.

Para a deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS), expulsa do PT em 2003 por votar contra a reforma da Previdência do governo Lula, a avaliação interna do PSOL é que “não há problema” em aliança eleitoral com petistas, o que se dá em reação ao “fortalecimento da extrema-direita” no governo Bolsonaro. Até 2020, o PSOL não formava alianças com petistas.

— Nas eleições municipais, faremos novamente o debate da unidade para enfrentar o bolsonarismo, e nossa federação com a Rede precisa se manter nesse processo — afirmou Luciana.

A resistência do grupo de Luciana Genro, por outro lado, foi um dos obstáculos para um ingresso formal do PSOL no governo Lula, que acabou não ocorrendo. Em um acordo com a direção nacional, o PSOL liberou filiados, como a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a assumir postos no Executivo, desde que se afastassem da direção partidária.

Na Rede, o senador Randolfe Rodrigues (AP) citou, em entrevista ao Valor em janeiro, uma proposta de incorporação da sigla a PT ou PSB, sigla do vice-presidente, Geraldo Alckmin. Integrantes da Rede e do PSOL disseram ao GLOBO que a tese foi mal recebida e associada a um movimento pessoal de Randolfe, que já foi filiado ao PT, passou pelos dois partidos e hoje avalia um retorno à sigla de Lula ou ingressar em legendas da base do governo, como MDB e PDT. É um caminho similar ao feito pelo ex-psolista Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, que anunciou no último mês sua volta ao PT após 20 anos.

Membros da Rede, porém, reconhecem que o debate interno do partido, inclusive sobre a relação com o governo Lula, ganhou ares de urgência e de pressão sobre a cúpula partidária após desempenhos considerados insatisfatórios nas eleições de 2018, 2020 e 2022.

A ex-senadora Heloísa Helena (AL), integrante da Executiva nacional da Rede e representante da ala mais refratária ao PT, não conseguiu se eleger deputada federal pelo Rio. No Congresso, além de Randolfe, a Rede elegeu dois deputados federais — Marina Silva (SP), nomeada ministra do Meio Ambiente, e Túlio Gadelha (PE) — que fizeram campanha para Lula. No governo, emplacou a presidente da Funai, Joenia Wapichana, além da própria Marina, que se reaproximou de Lula após anos de desavenças.

Heloísa Helena, ex-petista e uma das fundadoras do PSOL em 2005, e Marina, que deixou o PT e fundou a Rede em 2013, devem participar de um congresso partidário em abril, que discutirá os rumos da sigla. Procuradas pelo GLOBO, elas não se manifestaram.

Para o sociólogo João Batista Mares Guia, que foi filiado ao PT nos anos 1980, ingressou na Rede em 2018 e migrou no ano passado para o PV, que está na federação petista, a incorporação hoje é um possível caminho, dentro de uma lógica de “coalizão e integração numa perspectiva democrática de centro-esquerda”.

— Embora haja o risco de se dissolver em outras pautas, essa agenda verde tende a ser absorvida hoje por partidos como PT, PSB e PDT, dada a importância da questão amazônica, por exemplo, no cenário mundial — avaliou.

No PSOL, nomes mais distantes do PT defendem a federação com a Rede numa estratégia de articulação de esquerda não submissa ao lulismo.

— A Rede, apesar da preocupação com a cláusula de barreira, deveria dar mais tempo, curtir essa aproximação conosco. Somos favoráveis à unidade contra a extrema-direita, mas não a um alinhamento rebaixado (ao PT) — disse o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ).

O Globo