Mulheres de esquerda sofrem mais na política

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Pablo Jacob

As parlamentares de esquerda são duas vezes mais atacadas nas redes sociais, vítimas de violência de gênero, do que as de direita. Pesquisadores do Laboratório de Combate à desinformação e ao Discurso de Ódio em Sistemas de Comunicação em Rede (DDoS Lab), da Universidade Federal Fluminense, mapearam durante 6 meses mais de 4 milhões de mensagens de violência direcionadas a deputadas federais e senadoras da legislatura de 2019 a 2022. Segundo a pesquisa, o Twitter é onde há maior incidência de violência discursiva contra representantes femininas na política, mas é no Facebook que as publicações violentas ganham mais engajamento e visibilidade, muitas vezes disfarçadas de humor.

Talíria Petrone (PSOL-RJ), Dayane Pimentel (União-BA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foram as parlamentares mais atacadas proporcionalmente: pelo menos uma a cada três postagens direcionadas a elas continham algum nível de violência discursiva, de acordo com a pesquisa. No caso dos partidos, PCdoB, PSOL e PMB foram os alvos mais visados.

Como foi a parlamentar mais mencionada nas redes sociais na última legislatura, Carla Zambelli (PL) é a parlamentar que mais sofre ataques e ofensas nas plataformas digitais em números absolutos, com 2,8% de ataques de toda a amostra analisada. Proporcionalmente, ela fica em nono lugar no ranking das mais atacadas.

Parlamentares mais tacadas proporcionalmente nas redes — Foto: Reprodução

O estudo — feito com 79 deputadas federais e 12 senadoras que têm conta em pelo menos uma das quatro redes sociais (Twitter, Facebook, Instagram e TikTok) entre julho e dezembro de 2021 — aponta que os tipos de violência mais usados contra as parlamentares são insultos (41%), invalidação (26,6%) e críticas (24,5%).

O estudo aponta a perigosa relação do humor com o discurso de ódio, a desinformação política e o ativismo digital. A pesquisadora Letícia Sabbatini, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFF, conta que o trabalho da pesquisa foi feito manualmente, em vez de optar pelo uso de robôs, porque a violência, muitas das vezes, é sútil e parece de forma implícita, camuflada de “brincadeira”. E a “brincadeira costuma ser usada pelos agressores como justificativa dos xingamentos.

— Existe um senso comum de que mensagens ofensivas via redes sociais são apenas mensagens, mas não é bem assim. Não podemos banalizar a violência online. Há uma omissão da legislação neste sentido. E estas ofensas provocam efeitos nos seus alvos e ferem a qualidade democrática, desde as ameças de morte até comentários como “vai lavar uma louça”, “esse não é o seu lugar” e “vai cuidar do seu marido”, que mostram o pensamento de que as mulheres não têm espaço na vida pública — observa a pesquisadora.

O espectro político-ideológico das parlamentares é a principal motivação das ofensas. Ataques direcionados aos partidos, às alianças, ou ao espectro político-ideológico das parlamentares foram encontradas em 22,3% das mensagens analisadas. Segundo os pesquisadores, este dado evidencia uma das consequências da radicalização política e do extremismo.

Os conteúdos que mobilizam os ataques geralmente também apresentam discursos misóginos (8,6% dos ataques analisados), lgbtqia+fóbicos (1,4%) e racistas (2,9%) em todas as plataformas, mas principalmente no Facebook. Parlamentares mulheres também são atacadas frequentemente pela sua aparência (3,6%) ou pela condição física e eventuais deficiências (0,7%).

— Não da para fugir do lugar comum, olhar para a violência política de gênero não deveria ser pauta exclusiva das mulheres. É uma luta fundamental da construção da sociedade que queremos, mais justa e democrática e de maneira que precisamos pensar qual composição parlamentar queremos que não espelhe a sociedade brasileira e de que maneira essas violências não abortam outras carreiras de mulheres representantes na política nacional e internacional — afirmou Viktor Chagas, professor e doutor em História, Política e Bens Culturais pelo Cento de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (Cpdoc-FGV).

O Globo