Esquerda pode se dividir de novo em eleição em São Paulo

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Guilherme Boulos deve ter o apoio do presidente Lula na eleição à Prefeitura de São Paulo – Foto: Edilson Dantas / O Globo

A um ano e meio da eleição municipal, lideranças do PT começam a se preocupar com a ausência de uma candidatura competitiva do partido para retomar a Prefeitura de São Paulo. Uma das ideias ventiladas é discutir a filiação de Guilherme Boulos (PSOL), estrela em ascensão da esquerda nacional e deputado federal mais votado do estado. Aliados de Boulos, no entanto, defendem que o PT cumpra o acordo e mantenha o apoio à candidatura pelo PSOL.

A tese é defendida pelo secretário de Comunicação do PT, o deputado federal Jilmar Tatto. Ele se diz preocupado com o cenário eleitoral do ano que vem, quando o partido deve ter problemas para lançar candidatos a prefeito em pelo menos quatro grandes capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife). Para ele, concorrer com um vice ou apoiar outros candidatos seria uma oportunidade desperdiçada de consolidar a força do PT nessas cidades.

O temor de Tatto é de perder espaço para o bolsonarismo. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro que abriga os principais nomes da extrema-direita no país, pretende lançar candidaturas próprias em todas as cidades com mais de 200 mil habitantes. Na avaliação de Tatto, seria um erro estratégico não marcar presença também.

O obstáculo para uma candidatura própria petista seria um acordo firmado em 2022 entre Boulos e a cúpula do PT, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann. O PSOL aceitou retirar a candidatura de Boulos ao governo de São Paulo — para não concorrer contra o candidato petista, Fernando Haddad —, e em troca teria apoio do PT para a eleição à Prefeitura da capital em 2024.

— Se foi feito acordo, nós vamos cumprir. Mas vamos discutir as bases desse acordo. O Boulos poderia vir para o PT, por exemplo. O PT é grande demais para ficar sem candidato na cidade. Para o Boulos, seria a melhor coisa do mundo — afirma Tatto.

Tatto defende que o partido monte uma força-tarefa o mais rápido possível para planejar as eleições municipais, pré-campanha, alianças, chapas, estratégias, programas de governo e coordenações de campanhas, sob o risco de que o declínio no comando de prefeituras se mantenha.

Desde 2012, a legenda vem perdendo cidades. Naquele ano, conquistou 637 prefeituras. Em 2016, 254. Na eleição passada, o número caiu para 183.

— O quadro não é bom para o PT. As eleições municipais são um momento de afirmação e crescimento dos partidos. Não podemos abrir mão disso — declara.

Procurado, Boulos não quis se manifestar. Seus aliados, no entanto, dizem que o acordo firmado será cumprido, mas que o líder sem-teto ainda precisa vencer resistências em grupos específicos dentro do PT. O deputado deve começar em junho uma série de agendas para se aproximar da militância petista.

Em 2020, o PT não elegeu prefeitos nas capitais pela primeira vez desde a redemocratização (em 2004 conquistou nove prefeituras). Em São Paulo, cidade que já governou três vezes, o partido concorreu com Tatto e foi desbancado do segundo turno por Boulos, ficando fora da segunda fase da eleição também de forma inédita.

Na direita, os principais candidatos já projetam o candidato do PSOL no segundo turno. Aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB) confiam que Boulos chegará com mais força que o PT para o pleito, avaliação compartilhada por bolsonaristas de São Paulo.

Datena e Boulos
A tarefa de Boulos de construir um consenso entre os petistas ganhou um ruído nesta segunda-feira. Ele foi criticado pela secretária nacional de Planejamento e Finanças do PT, Gleide Andrade, nesta segunda-feira após a circulação de um vídeo supostamente vazado de uma conversa informal entre Boulos e o apresentador José Luiz Datena

Na gravação, Datena tenta convencer Boulos a “peitar” Lula para que os dois concorressem juntos. Nas redes sociais, o deputado do PSOL lamentou o vazamento da “conversa privada” que, em sua opinião, ocorreu para “criar polêmica”.

“Como o mundo mudou, heim? Quem diria @GuilhermeBoulos com @DatenaOficial num jantar onde o cardápio era o @ptbrasil e o @LulaOficial. Vexame pior é o Boulos tentar explicar o inexplicável, para mim vale a máximo ‘a emenda ficou pior que o soneto'”, publicou Gleide.

O Globo