Ameaça bolsonarista ao TSE não se cumpriu
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
O primeiro dia do julgamento da ação do PDT que pode levar à inelegibilidade de Jair Bolsonaro foi marcado por um ambiente de calmaria dentro e fora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na manhã da última quinta-feira, não havia nenhum sinal de mobilização de bolsonaristas no entorno do prédio do TSE, enquanto os ministros iniciavam a discussão sobre as acusações contra o ex-presidente.
Tampouco havia barreiras ou reforços visíveis na segurança do prédio. E até um grupo grande de estudantes teve acesso ao plenário. Duas turmas, uma de 27 alunos de direito da Faculdade Santa Lúcia, de Mogi Mirim, e outra de 76 alunos de ensino médio de uma escola comunitária de Campinas.
No plenário, defesa e acusação se cumprimentaram amistosamente antes do início do julgamento. O embate retórico só ocorreu mesmo durante a sessão. Depois, no entanto, um dos lados tomou o cuidado de só sair do plenário depois de ter certeza de que a equipe adversária já havia ido embora.
Na ação, o PDT pede que o ex-presidente seja condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao promover uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada para atacar, sem provas, as urnas eletrônicas.
A defesa de Bolsonaro argumenta que a ação está contaminada pelo uso de provas que não tem relação com o objeto inicial do processo e por perseguição política.
Nos últimos dias, Bolsonaro e seus aliados recorreram ao argumento da perseguição política para pressionar a corte a adiar o julgamento. O ex-presidente ainda foi ao Senado e deu entrevistas.
Há semanas o presidente do PL, Valdemar Costa Neto e o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP) vinham dizendo que haveria revolta e mobilização popular caso Bolsonaro fosse mesmo julgado.
Mas o monitoramento feito pela área de segurança da Corte Eleitoral não detectou ameaças à sede do TSE durante a sessão, que de fato em alguns momentos foi até monótona.
Ainda assim, a direção de segurança do TSE continua em alerta para o risco de uma movimentação maior nas próximas sessões do julgamento, quando os ministros darão seus votos.
Por enquanto, foram lidos apenas o relatório do ministro Benedito Gonçalves, o parecer do Ministério Público Eleitoral e as posições dos advogados dos dois lados.
Por isso, a torcida de integrantes da Corte Eleitoral é para que o julgamento não seja interrompido e acabe o mais rapidamente possível. Há o temor de que uma eventual paralisação do caso possa dar munição para que Bolsonaro e seus seguidores mobilizem contra o tribunal e seus membros.
Pelo menos mais duas sessões – nas próximas terça e quinta-feira – foram reservadas para a análise do caso que pode afastar Jair Bolsonaro de disputar eleições até 2030 e forçar o campo da direita a buscar uma nova alternativa para se contrapor a Lula e ao PT nas próximas eleições.
Na próxima terça-feira, Benedito Gonçalves vai finalmente ler o voto, que ultrapassa 300 páginas.
Dentro do TSE, é dado como certo que o relator vai votar pela condenação do ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação – e que vai precisar de mais do que duas horas para detalhar o seu entendimento aos colegas.
Se o julgamento não for interrompido, como gostaria o ex-presidente, ele acaba na semana que vem. E aí os ministros poderão aproveitar mais um período de calmaria antes que os outros 15 processos envolvendo Bolsonaro sejam avaliados.