Ataques de Bolsonaro ao TSE preocupam aliados
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Acostumado a frases polêmicas e ataques a tribunais, o ex-presidente Jair Bolsonaro adotou uma postura diferente nas semanas que precederam o julgamento que pode torná-lo inelegível. Orientado por advogados e assessores, ele chegou a pedir desculpas por desinformação sobre a vacina contra a Covid-19, manteve um tom respeitoso em relação ao relator do caso, Benedito Gonçalves, e evitou criticar a indicação de Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal (STF) — seu partido, o PL, liberou a bancada, com anuência do ex-titular do Palácio do Planalto. Ao visitar o Senado ontem, porém, Bolsonaro fugiu do roteiro alinhado e adotou o que integrantes do PL classificaram como “estratégia kamikaze”, como mostrou a colunista Bela Megale.
A expectativa de aliados é que ele retorne ao script nesta quinta-feira. O ex-presidente sequer assistirá ao julgamento em Brasília e estará em Porto Alegre, onde tem uma série de compromissos. O comportamento também foi seguido pelos parlamentares bolsonaristas, que até quarta-feira não haviam iniciado qualquer movimento orquestrado em sua defesa.
Nesta quarta-feira, ao deixar o Congresso, Bolsonaro criticou uma possível diferença no tratamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação ao julgamento da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, em 2017. Na época, a Corte se ateve ao objeto inicial e desconsiderou elementos que surgiram depois, como a delação premiada de executivos da Odebrecht. Hoje, na prática, o ex-presidente defende que seja desconsiderada a “minuta do golpe”, encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres.
— Será péssimo para a democracia se eu for julgado de forma diferente como foi a chapa Dilma-Temer em 2017 — afirmou Bolsonaro.
Na hora do julgamento, Bolsonaro estará na Transposul, uma feira de transporte e logística da região Sul, cercado de parlamentares, prefeitos, vereadores e empresários aliados. O plano elaborado por políticos do PL é fazer um ato de desagravo a ele no evento. Bolsonaro também deve ser recepcionado por apoiadores no aeroporto da capital gaúcha.
Membros do PL foram orientados a não fazer ataques prévios ao julgamento, apesar da resignação interna e o consenso de que o plenário do TSE deixará Bolsonaro inelegível. Após o início dos votos, porém, bolsonaristas se valerão de uma outra tese que será levada às redes sociais: como a ação foi apresentada pelo PDT, partido que faz parte da base de Lula e controla o Ministério da Previdência, com Carlos Lupi à frente, os bolsonaristas insistirão que todo o processo foi carregado de vícios e teve por objetivo impedir o ex-presidente de duelar novamente com o petista.
As diretrizes foram passadas na última terça-feira, em uma reunião na Câmara, comandada pelo general da reserva e ex-ministro Walter Braga Netto, que atualmente é secretário nacional de relações institucionais do PL. Mais de 50 deputados e senadores estiveram presentes.
Em uma outra reunião, ontem, Bolsonaro reuniu a sua “tropa de choque” na sede do PL. Estavam presentes o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, seus filhos, os deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além do líder na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ).
Nas semanas anteriores ao julgamento, Bolsonaro seguiu participando de encontros do partido pelo país, mas sem inflamar aliados. Há no entorno do ex-presidente a preocupação de não queimar ainda mais pontes com o Judiciário, em um momento de fragilidade política — leitura que também evitou uma postura combativa contra a indicação de Zanin, considerada por Bolsonaro uma prerrogativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma rara declaração, afirmou que os “indicativos” para a análise na Corte não eram “bons”. Em outro posicionamento que se contrapôs ao tom adotado durante grande parte de seu mandato, se desculpou por ter afirmado que as vacinas da Pfizer teriam grafeno na composição. “Houve um equívoco da minha parte. Sou entusiasta do potencial de emprego do óxido de grafeno, por isso inadvertidamente relacionei a substância com a vacina, fato desmentido em agosto de 2021”.