Partido de Lira faz pagamentos à madrasta dele

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Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara

Com recursos públicos do Fundo Partidário, o diretório do PP em Alagoas paga aluguel à madrasta do presidente da Câmara, Arthur Lira. Todos os meses, Tereza Palmeira recebe R$ 5,6 mil da legenda, controlada pelo marido dela, o prefeito Benedito de Lira, pai do deputado. A madrasta é proprietária do ponto comercial onde funciona a sede estadual da sigla no bairro Jatiúca, na região central de Maceió.

No ano passado, o diretório alagoano do partido recebeu R$ 6,8 milhões do fundo. Os dados foram informados pela própria sigla ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Cheques do PP para pagar o aluguel são assinados por Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara, e endereçados à mulher dele, Tereza Palmeira

Até 2 de dezembro de 2019, o imóvel era cedido gratuitamente ao partido. Naquela data, Tereza Palmeira e o marido Biu de Lira, prefeito de Barra de São Miguel (AL), firmaram um acordo pelo qual ela informava que deixaria de ceder o ponto. “O cedente, por não possuir mais interesse na cessão gratuita do imóvel, decidiu desistir da continuidade do contrato até agora vigente”, registrou o contrato.

No dia seguinte, o casal acertou um contrato que valeria por um ano, com a possibilidade de “ser prorrogado sucessivamente, por simples aditivo”. O acordo foi firmado, de um lado, por Tereza e, de outro, por Biu de Lira.

Em 2020, o PP de Alagoas começou a pagar R$ 4,5 mil mensais pelo imóvel da madrasta de Arthur Lira. O valor do aluguel foi reajustado em março de 2021, quando o partido passou a desembolsar R$ 5,6 mil por mês. Até o fim do ano passado, a legenda já havia desembolsado R$ 191,9 mil com os aluguéis da madrasta.

Biu e Tereza estão juntos há mais de duas décadas e registram o relacionamento nas redes sociais. Em 1.º de maio, a madrasta de Lira celebrou o aniversário do marido, a quem se refere como um “ser especial” e uma “pessoa que nos inspira todos os dias”.

 

O prefeito homenageou a mulher no início de janeiro de 2021 com uma fotografia. “À minha querida esposa Tereza Palmeira, há tantos anos me acompanhando e me aconselhando em todas as situações, minha eterna e devotada gratidão”, escreveu, na ocasião.

O diretório alagoano paga os aluguéis mensais com cheques assinados por Benedito de Lira e endereçados à mulher. O pagamento é depositado pelo secretário-geral do PP, Tadeu das Chagas Ferreira. O partido não começou a entregar ao TSE a prestação de contas deste ano. Portanto, não há registros de pagamento de aluguéis em 2023.

A reportagem buscou o endereço em cartórios de imóveis de Maceió. O cartório que deveria ser responsável pela área onde está o escritório informou que não localizou documentos referentes ao imóvel. Com isso, não foi possível certificar que o imóvel alugado está em nome de Tereza nem quando ou de quem ele foi adquirido.

O setor financeiro do PP de Alagoas é tocado, desde de junho de 2021, por outro parente de Arthur Lira. O tesoureiro-geral do diretório é Mac Merrhon Lira Paes, primo do presidente da Câmara e sobrinho de Biu de Lira. A sala comercial da agremiação fica em um dos melhores bairros da região central de Maceió. A fachada do diretório é ornada com a identificação do partido. Na rua, há outros endereços comerciais.

A reportagem pediu que Arthur Lira e o diretório do PP comentassem o assunto, mas não obteve retorno. Biu de Lira e Teresa também foram procurados e evitaram falar.

No domingo, 25, o Estadão revelou que Lira emprega ao menos dez parentes e aliados em postos-chave da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Os cargos na “estatal do Lira”, como a empresa tem sido chamada em Brasília, rendem R$ 128 mil, por mês, só em salários ao grupo. A enteado do deputado ganha por mês R$ 9.255,01. Procurados, Lira e a CBTU não se manifestaram.

A CBTU administra trens urbanos em cinco capitais e tem orçamento de R$ 1,3 bilhão. Com capilaridade e fora dos holofotes das principais empresas públicas, a estatal costuma ser usada por políticos para acomodar aliados e levar serviços a bases eleitorais. Lira tinha o controle dos cargos na gestão Jair Bolsonaro (PL) e o manteve no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Estadão