Veja o que aconteceu com manifestantes de junho de 2013

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Foto: Reprodução

As jornadas de junho foram o início da vida de participação política de milhares de jovens que em meados de 2013 estiveram pela primeira vez em um grande protesto. O g1 conversou com 13 pessoas que estrearam em manifestações naquele ano, e elas contam que, após testemunhar 10 anos de desdobramentos das jornadas, já não têm certeza se fariam tudo outra vez, mas reconhecem que estar nos atos de uma década atrás foi um marco na formação pessoal. (leia abaixo a série de reportagens)

A maioria dos entrevistados era, na época, universitários ou alunos do ensino médio. Nesses protestos, eles passaram a se interessar mais por política. E o tema segue na vida deles, desde as conversas do dia a dia a carreiras que vão do parlamento – como deputados estaduais, por exemplo – a profissões que lidam com causas coletivas.

As jornadas foram uma série de protestos que chegaram ao auge no Brasil em junho de 2013. Inicialmente, o movimento começou com manifestações de rua contra o reajuste da tarifa do ônibus, e se intensificou em São Paulo, onde à época, o aumento seria de R$ 0,20.

Rapidamente os protestos se espalharam por outras cidades do país, dando vazão a uma ampla insatisfação popular com outras demandas, como a revolta pela realização da Copa do Mundo em 2014, as denúncias de corrupção na política e o governo de Dilma Rousseff (PT).

Depois dos atos de junho de 2013, que expuseram um descontentamento generalizado com a classe política, vieram a Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma, a popularização de Bolsonaro e o fortalecimento da extrema-direita no país.

O professor doutor em Ciência Política, Juliano Domingues, vê no aspecto pedagógico o lado positivo das jornadas de junho.

“Se focarmos nos desdobramentos, não há como avaliar positivamente. Afinal, foram quase 10 anos de intensa turbulência institucional que ainda não terminou. Mas se entendermos o processo político como algo pedagógico, sim, foi positivo”, disse.
Para ele, a participação é requisito fundamental para fomentar uma cultura política democrática.

“Se não há uma cultura da participação, maior o espaço para a disseminação de ideias de viés autoritário e maior, também, a chance de captura do processo político por parte de grupos autoritários auto-interessados”, afirmou o professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pesquisador associado da Tulane University (EUA).

Rodrigo Firmino, professor de história, 31 anos, era universitário e organizava os protestos em Pernambuco. Ele passou a adotar uma visão crítica das manifestações de 2013, sem deixar de considerá-las um “laboratório de formação” para muitos de sua geração. “As jornadas foram um laboratório de formação política de pessoas que não participavam da vida política na prática e foram integrar coletivos, partidos políticos e que, até hoje, participam da vida política e social”, disse.

A vereadora de Belo Horizonte, Iza Lourença (Psol), diz ter começado a “caminhada política” nos primeiros protestos de que participou, em 2013. “Estava com 19 anos e era estudante de comunicação social. Foi o início da minha caminhada política, havia acabado de entrar no movimento estudantil. Participei de reuniões organizativas das manifestações e das manifestações em si”, lembrou Iza.

A cearense Lara Costa, 29 anos, decidiu dedicar-se com mais afinco ao movimento estudantil a partir da participação nos protestos de 2013. Desde então fez parte coletivos de luta social, formou-se em direito e hoje presta assessoria jurídica a populações vulneráveis. “Tem umas leituras muito pessimistas de 2013, mas acredito que o maior legado é manter o foco na luta”, afirmou.

Matheus Gomes (Psol-RS) era de uma comissão organizadora dos protestos de 2013 — os primeiros grandes atos dos quais participou — e se tornou deputado estadual. “Tenho um misto de sentimentos sobre junho de 2013: orgulho de ter sido um dos iniciadores, frustração por não ter levado para o caminho que planejamos inicialmente. Mas também não acho que somos responsáveis por essa situação, tem muitos outros agentes no meio desse processo”, disse.

Maria Regina, 24 anos à época das jornadas, funcionária pública, havia se mudado para São Paulo recentemente e, segundo ela, tinha anseio de participar de um momento histórico. As jornadas foram essa oportunidade e levaram a servidora a ter mais interesse por política. Ela lembra que foi aos atos convidada por colegas de trabalho. Nem usava ônibus, mas viu nos atos uma maneira de ajudar a “mudar a vida de outras pessoas”.

A assessora acadêmica, Thainá Miranda, de Olinda (PE), tinha 17 anos e era aluna do ensino médio quando os protestos eclodiram. “Não me arrependo. Foi necessário para a minha construção política. Lá conheci alguns movimentos sociais que acompanho até hoje. Dessa forma, achei necessário participar. Depois de tudo que passamos considero que minha participação no primeiro ato de protesto foi importante para a minha construção política”, disse.

Daniel Passaglia, 29 anos, era estudante de moda em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, em 2013. Ele foi às ruas pelo descontamento com o aumento das passagens de ônibus, mas seu primeiro grande protesto o despertou para outras pautas. Em 2014, ele se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e defende a atenção aos direitos humanos e o combate à LGBTQIA+fobia.

A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL-MG) fazia parte de movimentos sociais desde 2008 e havia participado de alguns atos, mas as manifestações de 2013 foram seu primeiro grande protesto. Ela ressalta que o período pós-protesto foi negativo. “Os resultados negativos que a gente viveu depois de 2013 são inegáveis: militarização da política, violência, repressão policial, o caos urbano só se aprofundou. As instituições não se aprimoraram, pelo contrário, se degradaram mais”, avaliou Bella.

André Veloso de Belo Horizonte (MG), entrou em um grupo de trabalho sobre mobilidade urbana em 2013, aos 24 anos, na época dos protestos. Ele está no grupo até hoje e considera as jornadas o “momento da afirmação” da geração dele.

O assessor parlamentar Vitor Hugo Macedo, atualmente com 27 anos, morava em São Carlos (SP) na época das manifestações. Ele lembra que não tinha interesse por política, mas, em 2013, “nasceu” nele um sentimento de contestação, que só aumentou desde então.

Jeremias Di Caetés (PL), assessor parlamentar, conta que era filiado a outro partido em 2013, porém, sem muito interesse na luta política. Os protestos mostraram a ele a necessidade da discussão de pautas de interesse da população. “Nessa época, estava bem voltado para as coisas da igreja e, quando vi os protestos, percebi algo orgânico, uma chance de mobilização que ganhou força”, disse.

Rodrigo Veloso havia participado de uma manifestação pequena contra os custos das obras da Copa do Mundo, na região do Maracanã (RJ), e a repressão policial a esse protesto foi decisiva para que ele voltasse em manifestações maiores. Ele esteve em todos os grandes protestos ao longo de 2013, no entanto, entende que não houve grande ganho social no período seguinte às jornadas.

Patrícia Santos, 31 anos, tinha acabado de iniciar um curso de audiovisual em São Paulo, e as manifestações surgiram quando ela começou a ter consciência sobre questões sociais, sobre ser mulher preta, periférica e filha de nordestinos. “Então, quando você toma consciência de tudo isso e começa a entender a realidade você sente uma revolta. Quando bate essa revolta, você vai igual um trator, quer mudar tudo, problematiza tudo, com o tempo vai tomando consciência de que não é bem assim, e enxerguei nos protestos essa possibilidade de mudar algo”, afirmou

G1