Vice-presidente do PT ataca Rui Costa

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Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Não faltam reclamações quanto aos métodos que o governo Lula usa (sem sucesso) para tentar formar base de apoio no Congresso. Entre os críticos mais ferozes está alguém que faz parte da cúpula do próprio Partido dos Trabalhadores: o deputado Washington Quaquá (PT-RJ), vice-presidente da legenda. De saída, Quaquá tem uma avaliação implacável sobre o trabalho de um dos principais articuladores do governo, o ministro da Casa Civil. “A relação de Rui Costa com o Congresso é uma tragédia”, disse ele à coluna.

Além de lamentar que o titular da Casa Civil não receba os deputados que procuram o Executivo, o vice-presidente do PT refuta o discurso feito por Costa na Bahia, menosprezando a atividade parlamentar que ocorre em Brasília. Quaquá sugere ao governo que estabeleça uma cota de emendas e as libere aos deputados e senadores. Isso, acredita ele, resolveria encrencas como a discussão sobre a saída de Daniela Carneiro do Ministério do Turismo, a pedido do União Brasil. Comenta-se que 50 deputados da legenda iriam para a oposição se isso não acontecer. “Conversa fiada”, diz o deputado petista. “Se o governo der R$ 50 milhões para cada deputado do União Brasil, 90% deles vão votar com a gente”. Outra orientação ao governo: tratar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como alguém que quer dar estabilidade ao país, e não como um chantagista. Quaquá descreve Lira como um “Fenômeno político brasileiro”, uma espécie de “presidente do sindicato dos parlamentares”. “Tem sido muito justo com o Brasil”, afirma o vice-presidente do PT. UOL – O sr. acha que o governo deve aceitar o pleito do União Brasil, que exige a saída da ministra do Turismo, Daniela Carneiro? Washington Quaquá – Eu acho que a Daniela contempla o Rio de Janeiro, é uma mulher evangélica, é da Baixada Fluminense. Ela e o Waguinho (marido de Daniela, que é prefeito da cidade fluminense de Belford Roxo) foram muito leais ao presidente Lula na campanha, ele apoiou o Lula a vida inteira. Acho que tem um simbolismo muito grande a presença da Daniela no ministério. Outra coisa: não é isso que vai resolver os problemas da base do governo. O que vai resolver é emenda parlamentar. Deputado quer fazer parte do orçamento, manejar uma parte do orçamento para a base dele, para o município dele, para o estado dele. Isso é justo. Eu não acho injusto, porque o Brasil dá muito poder ao Parlamento. O Parlamento quer compartilhar poder. Se você pega um pedaço do orçamento, digamos R$ 20 bilhões, que é 20% do investimento que o governo federal tem, e determina os locais em que podem ser investidos, estabelece as políticas que podem ser feitas em educação, saúde, etc… Ao deixar isso transparente, eu não vejo nenhum problema. É isso que vai resolver a base do governo, não quer ministério. Por que acha que isso não está sendo colocado em prática? Não sei. Acho um erro do governo. Mas o sr. não acha que os deputados do Centrão estão demonstrando uma voracidade maior que a normal? É só estabelecer uma cota. Vai ser R$ 50 milhões por deputado a cada ano? Define isso. O cara que é oposição tem o benefício de poder falar mal do governo à vontade. Ele ganha voto nesse nicho. E o cara que é do governo, qual é o benefício dele? É poder governar. É poder realizar coisas na base eleitoral dele. Acho mais do que justo, mais do que tranquilo. Com R$ 18 bi, R$ 20 bi, R$ 25 bilhões resolve essa parada. Não é com ministério. Claro que ministério faz parte, mas do ponto de vista de querer governar junto, participar da política pública. Eu estou lá todo dia, com a base no Congresso. O que contemplará a base e formará a maioria para governar são as emendas. Os caciques do União Brasil dizem que querem o ministério do Turismo e que se Daniela continuar no ministério vão levar 50 deputados para a oposição. Mentira. Eles não controlam ninguém ali. Isso é conversa fiada. Se o governo der R$ 50 milhões para cada deputado do União Brasil, 90% deles vão votar com a gente. Mesmo mantendo Daniela no ministério? Claro! Claro! Isso é conversa fiada. O sr. já deu essa sugestão à equipe do governo, ao presidente Lula? Já falei com o [ministro Alexandre] Padilha, já falei com o líder [deputado José Guimarães], não estive com o Lula ainda, mas já mandei recado. Falou para o Rui Costa? Não. Não ando falando com o Rui. Eu acho a relação do Rui Costa com o Congresso uma tragédia. O que ele deveria fazer e não faz? Primeiro, receber os deputados. Tratar os deputados como parte do poder da República. E aquele discurso que ele fez lá na Bahia foi uma tragédia. Falou sobre Brasília e sobre os deputados, falando que aquilo lá é um circo, uma Disneylândia. Até parece que na Bahia nós [do PT] não fazermos aliança com a Assembleia de lá, inclusive de maneira correta. Ministro de Estado não pode fazer graça, tem que medir o que fala.

O sr. acha que o ministro Padilha está se conduzindo bem. O problema é o ministro Rui Costa? Sou amigo do Padilha e gosto muito dele. Mas precisa primeiro entender o presidente [Arthur] Lira como um fenômeno político brasileiro. Hoje, o presidente da Câmara é o presidente do sindicato dos parlamentares, ele representa os interesses dos parlamentares. Não tem mais um Ulysses Guimarães, que defendia teses. Hoje você tem um cara que defende o mandato dos deputados. Lira faz isso muito bem. Então, ele tem hoje maioria na Câmara e tem sido um cara muito justo com o Brasil. Eu digo isso porque ele deu estabilidade ao Bolsonaro, e ele quer dar estabilidade ao Lula, ele quer entregar a estabilidade ao país. Precisa tratar o Lira como parceiro da estabilidade, não como um adversário, entendeu? Eu acho que o erro do governo hoje é tratar o Lira não como um parceiro da estabilidade, mas como um chantagista. Tem que entender o momento que a gente vive no país, o momento institucional do país. Entender que a Constituição de 1988 permitiu que os parlamentos municipais, estaduais e o nacional tenham um poder grande e que é preciso compartilhar poder com esse parlamento. E o orçamento secreto aumentou ainda mais esse poder. Aumentou ainda mais. Aí, qual a burrice que o governo fez? Aumentou a emenda impositiva para R$ 30 milhões. Aí, você perde completamente o poder que tem no parlamento. Eu era a favor de manter o orçamento. Não secreto. Mas o orçamento dando transparência pra quem vai, pra onde vai e estabelecer um valor maior para a base do governo. O sr. diz que o governo fez burrice nesse caso porque a emenda impositiva tem que ser paga obrigatoriamente, sem negociação? Pois é. Aí eu dou emenda impositiva para o mais bolsonarista dos deputados, por exemplo. É burrice. O sr. diz que Arthur Lira quer manter a estabilidade do país, mas a informação que corre é que ele está exigindo de Lula o Ministério da Saúde. Não é uma imposição alta demais? Nós já demos em outros momentos do governo Lula a Saúde para deputados do Centrão. Eu acho que é preciso o governo estabelecer padrão. É ter um ministro de boa qualidade e não permitir que aquilo se transforme num palco de roubalheira. Não estou dizendo que que eles querem isso. A gente não pode permitir isso, aliás em lugar nenhum. Se você tiver padrão, fiscalização e controle, não vejo problema nenhum. Outro momento recente em que Lira pareceu não estar defendendo a estabilidade foi quando permitiu o avanço da MP dos Ministérios, que tirou do governo o direito de desenhar sua própria estrutura administrativa. Não acha que foi uma anomalia? Aquilo ali é completamente descabido. São os defeitos do sistema. Acho que não devia nem ser discutida a questão da estrutura administrativa, porque o governo que ganha a eleição tem o direito de implantar sua estrutura administrativa. O sr. acha que a tal base de governabilidade vai se formar em algum momento? Já se passaram seis meses do mandato… Acho que vai acontecer. Isso parece aquele namoro de menino de 15 anos da minha época. É difícil sair o primeiro beijo, mas quando sair vira amor. O Congresso quer ajudar, o governo precisa do Congresso. É só deixar fluir.

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