Alexandre de Moraes vira pop star após julgamento

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Foto: Antonio Augusto/secom/TSE

A presença de câmeras de televisão, holofotes e uma longa fila de fotógrafos e jornalistas na entrada do plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já dava a dimensão de que o julgamento que se iniciaria ali não era algo corriqueiro. Dez meses após chegar ao tribunal, a ação que pedia a inelegibilidade e cassação da chapa presidencial de Jair Bolsonaro começou a ser julgada na semana passada sob o olhar atento do mundo político e diante do impacto dos atos golpistas de 8 de janeiro. Embora a condenação já fosse dada como certa até mesmo pelo próprio ex-presidente, havia uma expectativa sobre eventuais reviravoltas — ou, como diziam bolsonaristas, “um milagre”.

O roteiro do julgamento, contudo, já estava definido desde antes do início das sessões. Ao marcar a análise das ações, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, havia articulado previamente junto aos colegas para que a análise fosse concluída antes do recesso, apesar da pressão de Bolsonaro para pedidos de adiamento por parte dos ministros Nunes Marques e Raul Araújo, tidos como “aliados”.

Mesmo com a tensão política envolvendo o caso, as quatro sessões de julgamento foram marcadas pelo clima ameno entre os ministros. No ponto alto do julgamento, a leitura do voto do relator, Benedito Gonçalves, uma pausa de 20 minutos permitiu que os magistrados compartilhassem um lanche rápido, com café e pão de queijo. A sessão daquele dia, na terça-feira, acabou pouco antes das 23h.

Pouco antes, uma troca de bilhetes entre Moraes e Raul Araújo fora da transmissão da TV Justiça chamou a atenção de quem acompanhava o julgamento. Assim que o voto do relator acabou, o presidente da Corte o questionou se gostaria de apresentar seu voto ou, diante do “adiantado da hora”, deixaria para revelá-lo na sessão seguinte, dali a dois dias. A resposta pela segunda opção não deixou dúvidas de que os ministros tinham feito o acerto à moda antiga.

Naquele momento, Araújo dava a deixa de que não pediria vista — mais tempo para a análise — e dissipou a suspeita criada por Bolsonaro e seus aliados de que adiaria o julgamento para agosto ou até mesmo setembro. Na sessão de quinta-feira, leu o primeiro voto favorável ao ex-presidente, mas não impediu que a análise continuasse, mostrando que o planejamento de Moraes estava de pé. Também foi o presidente do TSE o responsável por imprimir um ritmo rápido ao julgamento, que apesar de levar quatro sessões, contou com votos considerados “contidos” por quem acompanha a análise deste tipo de ação.

Quando chegou a vez de Nunes Marques, na sessão de ontem, já havia maioria pela condenação. Mesmo assim, o único indicado por Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento fez suspense sobre como votaria, como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Diferentemente do relator, Nunes Marques não divulgou com antecedência o seu voto aos colegas de TSE. A posição do ministro pela absolvição do ex-presidente só foi oficialmente conhecida pelos colegas na hora.

Ao longo das sessões de julgamento, foi comum ver os ministros que sentam próximos se reclinarem nas cadeiras de couro vermelho que compõem o plenário do TSE para cochichar ou trocar alguma impressão. Nunes Marques com Raul Araújo e Benedito Gonçalves com Cármen Lúcia foram os que mais conversaram.

O clima de respeito, em contraste com os virulentos ataques de bolsonaristas aos ministros, incluía até mesmo quem estava ali em lados opostos. Em todos os dias, os advogados de Bolsonaro e do PDT, partido autor da ação, se cumprimentavam antes e depois das sessões.

A estrela, contudo, era mesmo Moraes. Alvo principal de Bolsonaro, o presidente do TSE foi o último a votar e deu as declarações mais fortes para condenar o ex-presidente. Ao fim do último dia de julgamento, quando os demais colegas já se preparavam para deixar o plenário, ouviu-se um grito: um pedido para que Moraes tirasse foto com estudantes que haviam acompanhado a sessão. O presidente da Corte chegou a deixar o local, indicando que frustraria seus “fãs”, mas voltou logo em seguida e posou, com direito a selfie com uma das alunas. Despediu-se deles com um sorriso e disse:

— Vocês pegaram um julgamento bom.

O Globo