CPI do Golpe vai devassar contas de Mauro Cid

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Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro planeja se aprofundar nas movimentações financeiras atípicas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. A ideia da cúpula da comissão é buscar saber se há relação entre as transações e o financiamento dos ataques golpistas que são objeto de investigação do colegiado.

Governistas, que são maioria na CPI mista, também desejam tentar esmiuçar transferências da conta de Cid que podem ser vinculadas ao ex-presidente e a sua esposa, Michelle Bolsonaro.

Documentos enviados para a CPI e revelados pelo GLOBO mostram que Cid teve movimentação bancária “atípica” e “incompatível” com sua renda. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que o ex-ajudante de ordens movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses. Militar da ativa, o tenente-coronel recebe mensalmente uma remuneração de R$ 26.239.

A CPI aposta no recebimento das quebras de sigilo de Cid para ter mais informações sobre a conta do militar.

– Naquela conta ele também movimentava em nome de Bolsonaro, é uma conta estranha. Entra muito dinheiro além do que ele ganha – declarou o deputado Rogério Correia (PT-MG) – Tem que saber de onde vem aquele dinheiro, se tem dinheiro dentro da conta do próprio Bolsonaro que entra lá para pagar as coisas dele ou não, se tem dinheiro da conta da Michelle que entra lá e de onde entra, se tem empresa que deposita. Isso tudo vai se saber na hora que houver quebra de sigilo, que a CPMI já pediu – explicou o petista.

A tropa de choque de governo vai se reunir na próxima segunda-feira, véspera da volta dos trabalhos da comissão, e analisar o cenário e as estratégias para se aprofundar nos dados de Cid. A CPI interrompeu os trabalhos por conta do recesso parlamentar e volta na próxima terça-feira, quando vai ouvir Saulo Cunha, que comandou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no 8 de janeiro.

A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), é da ala governista e tem acompanhado as reuniões do grupo. Já o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-MA), está mais distante e não participa dos encontros. Ele alterna entre acenar ao governo e à oposição.

Rogério Correia avalia que a transferência de recursos para o exterior um mês antes do 8 de janeiro é suspeita.

– Esse recurso dele para o exterior, mais de R$ 360 mil que saíram no final de dezembro, no final do governo Bolsonaro. Para que ele levou isso para lá? E depois ele vai para os Estados Unidos junto com Bolsonaro. É uma preparação para que esse recurso?

O petista afirmou que é preciso saber os dados de Cid podem levar a empresas que financiaram os ataques.

– Tem que cruzar os dados. É possível que tenha empresas que estejam colocando recurso nessas contas e que sejam também financiadoras do ato. Outra hipótese é que tenham pessoas que estejam recebendo recursos e que participaram do ato do 8 de janeiro. Tem que fazer muita checagem para saber. É estranho que o Mauro Cid tivesse essa conta desse tamanho.

O deputado Rafael Britto (MDB-AL), que é da ala governista, também avalia que é importante saber se há relação com o financiamento dos ataques.

– Tem que avaliar se a movimentação financeira atípica tem algo ligando ao financiamento de atos golpistas, se é enriquecimento ilícito ou se tem lastro financeiro em alguma operação ilícita.

Cid está preso e é investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista. Ele chegou a ser convocado a depor na CPI em julho, mas não respondeu às perguntas dos parlamentares.

Entre as operações destacadas pelo Coaf, está o envio de remessas aos Estados Unidos no valor de R$ 367.374 em 12 de janeiro de 2022. Na época, Cid e Bolsonaro se encontravam naquele país. Os dois saíram do Brasil no fim de 2022 e não acompanharam a transmissão do cargo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Integrante do Centrão e de perfil considerado independente do governo, o deputado Aluisio Mendes (Republicanos-MA) fez uma ressalva de que não teve acesso aos dados, mas declarou que as informações deixam o militar em uma situação difícil.

– Não tive acesso a essas informações. Preciso ver o que o Coaf encaminhou à CPI para analisar a veracidade e a gravidade dos dados. Mas, sem dúvida, se forem verdadeiros acredito que a situação do tenente coronel Cid se agravará.

O Globo